A expansão dos conhecimentos
científicos trouxe à cultura do homem contemporâneo uma forte tendência de
ampliar a crença em Deus, ao contrário do que se apostava nos séculos de
opressão à ciência quando a idéia original e o seu pensador eram punidos com a
fogueira ou a masmorra infecta. O temor dos religiosos do passado, intoxicados
pelo desejo da obediência doentia aos textos bíblicos, se mostra na atualidade
apenas como uma nódoa na história que a generosidade do tempo simplesmente
sepultou como uma gafe cometida contra a civilização e o progresso da
humanidade.
A
ciência ortodoxa da era atual se mantém corretamente no campo do agnosticismo,
o que traduz a sua ainda incapacidade de cuidar do absoluto, visto que se
encontra incumbida das pesquisas que tratam de temas vinculados à matéria. Ela
simplesmente não se atreve ao ato de opinar acerca de coisa alguma que fuja à
observação e permanece no campo das conseqüências enquanto reconhece a sua
limitação em posicionar-se nos conceitos causais e na problematização em torno
do divino.
Apesar
dessa postura acertada da ciência em si mesma, um fato muito curioso é passivo
de ser percebido entre os homens que fazem a ciência: raramente é encontrado
algum deles que se diga descrente da existência de Deus. O cientista ateu
passou a ser figura destoante entre os que freqüentam laboratórios,
especialmente entre aqueles que pesquisam os limites da ciência macro como a
Astronomia e da ciência micro como a Genética ou a Física Atômica. Apesar de
analisarem somente a matéria, as perspectivas de seus estudos os levam para uma
espécie de limbo mental, onde a possibilidade de uma existência divina, mesma
que não comprovada tecnicamente, dificulta a negação declarada.
O
Espiritismo acompanha com tranquila expectativa, tanto a mudança de postura dos
cientistas quanto os avanços materiais das pesquisas científicas. Defende as
pesquisas da ciência laica como a única forma de um dia consagrar-se a visão
mais ampla para o exercício prático da ciência espiritual, ambas obedientes aos
mesmos princípios universais, conforme assinala Allan Kardec no Evangelho
segundo O Espiritismo em seu capítulo I ao tratar da Aliança da Ciência com a
Religião.
Estudando
a Doutrina Espírita fica um tanto óbvio que devemos aguardar sem temores as
notícias que emergem dos laboratórios, tampouco devemos abraçá-las como se
tivessem alguma autoridade em se tratando da ciência espiritual. Compreendamos
que ambas caminham de mãos dadas e um dia constituirão só um caminho, mas é
importante termos em mente que, por enquanto, tratam de pontos de vista
diferentes e cabendo-nos o bom senso de entendê-las em seus contextos próprios,
evitando falsas e precipitadas interpretações.
¹ editorial do programa Antena Espírita de
26.06.2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário