F.E.
Como está a atual liderança espírita?
A.O. Muito
melhor do que antes.
Ministro seminários espíritas há
aproximadamente 25 anos. E de três anos para cá percebo uma mudança
surpreendente, positivamente falando. Óbvio que existem exceções. Óbvio que
existem ainda lideranças inadequadas, mas de forma geral os líderes atuais de
todas as idades estão mais abertos às mudanças. Parece-me que há uma vibração
energética-espiritual no ar, que está abrindo cabeças e corações. É incrível
como coisas boas estão ocorrendo na liderança espírita. Os pensamentos estão
mudando muito. Para melhor. Há 25 anos, há 15 anos, há 10 anos, há 3 anos, eu
não faria essa afirmação. Mas, repito, existem ainda as exceções. Existem ainda
líderes que não se atualizaram. Existem ainda líderes que não sabem o que é ser
um líder.
F.E.
O que é “ser um líder”?
A.O. Só
a resposta a esta pergunta daria um livro, mas, de forma sucinta, hoje o bom
líder é aquele que sabe formar equipes e tem como meta primordial não atrapalhá-las.
O líder que não atrapalha seus liderados merece o nome de líder.
O líder de antigamente era aquele que ia à
frente. O líder de hoje é aquele que vai atrás apoiando e estimulando.
O líder de antigamente era aquele que por si
só fazia acontecer. O líder de hoje é aquele que forma equipes para que essas
equipes façam acontecer.
O líder de antigamente controlava pessoas. O
líder de hoje controla processos e incentiva a liberdade e a autonomia da
equipe.
O líder de antigamente muito se destacava. O
líder de hoje é aquele que estimula sua equipe a se destacar, pelos resultados
obtidos.
O líder de antigamente tinha subalternos. O
líder de hoje tem colaboradores.
O líder de antigamente procurava converter
seus liderados, forçando-os a pensarem e agirem como ele. O líder de hoje
procura conscientizar seus colaboradores para que sejam eles próprios, com suas
maneiras únicas e particulares de pensarem e agirem.
O líder de antigamente era aquele que
liderava pela imposição. O líder de hoje é aquele que lidera pelo afeto.
Liderar hoje é formar equipes. Liderar hoje é
estimular os integrantes das equipes. Liderar hoje é treinar as equipes.
Liderar hoje é incentivar as equipes a elaborarem estratégias e projetos.
Liderar hoje é implantar o conceito de Qualidade Total nas Casas Espíritas (o
que já está fazendo, por exemplo, o Grupo Espírita Batuíra, do bairro Perdizes,
São Paulo-SP). Liderar hoje é dar autonomia às equipes.
Disraeli com uma única frase define bem o que
é um bom líder: “Lá vão eles. Devo segui-los. Sou seu líder.”
O que levou a essa mudança abrupta do estilo
de liderança de “antes” e “agora”?
O mundo mudou. Os desafios aumentaram. As
necessidades passaram a ser muitas. O mundo passou a ser bem mais complexo. As
exigências ampliaram-se.
Antes uma pessoa com pulso firme fazia as
coisas acontecerem. Hoje não basta mais o ainda e sempre necessário pulso
firme. Os desafios são tantos que o líder atual para conseguir resultados
precisa da ação dos outros. Precisa formar equipes. Acrescente-se a isto o fato
de que os espíritos que hoje estão nascendo são espíritos mais inteligentes e
exigentes, não aceitam mais a liderança imposta.
F.E.
O que você entende por “pulso firme”, isto é, o que significa dizer que um
líder precisa ter “pulso firme”?
A.O. Primeiramente
pulso firme não é desrespeitar o liderado, não é ser mal educado, não é
esmurrar a mesa. Pulso firme significa ser assertivo, ser transparente, ser
imparcial. Pulso firme significa ainda aplicar a máxima do Mestre “seja o seu sim, sim, seja o seu não, não”.
Um líder que não se define, não merece o nome de líder.
F.E.
Sabemos que existe o líder nato, mas é possível transformar em líder àquela
pessoa que aparentemente não reúne nenhuma condição para tal?
A.O. Sim, é possível. Desde que ela queira.
É verdade que existem pessoas que trazem de
vidas passadas a experiência da liderança, e isto facilita o seu
desenvolvimento na existência atual. Mas também é verdade que, conscientes de
que a centelha divina está presente em todos nós, por consequência a
oportunidade de crescimento e desenvolvimento existe para todos. Como disse
Joanna de Ângelis “Todas as qualidades necessárias para o nosso desenvolvimento
já existem em nós, latentes”. Nosso trabalho não é criar qualidades, pois,
reforço, elas já existem. Latentes. Nosso trabalho é desenvolve-las. Para
passar a ser líder é preciso, com firme vontade, querer ser líder. E é preciso
saber que não se forma um bom líder sem o tripé estudo, determinação e
humildade.
F.E.
O seu livro O Espírita do Século XXI, Editara EBM, foca principalmente o
assunto liderança, qual foi o seu propósito principal ao escrever este seu
livro?
A.O. O
propósito principal foi desenvolver quatro tópicos, que os denominei de Projeto
ORAR. Essa denominação deve-se ao fato das primeiras letras de cada um dos
tópicos, formar a palavra ORAR:
a.
Ousadia na divulgação;
b.
Respeito às demais instituições;
c.
Administração Eficaz;
d.
Relacionamento Harmonioso.
Em relação aos tópicos citados em sua
resposta acima, o que você pode nos dizer sobre o tópico “Ousadia na divulgação”?
Falta-nos ousadia. Nós estamos falando para
nós mesmos. Esquecemos que o Espiritismo veio para o mundo. Kardec no seu
Projeto 1.868, Obras Póstumas, prega a necessidade de publicidade (palavra
utilizado por Kardec) numa larga escala. Precisamos quebrar as paredes do nosso
Centro Espírita e alcançarmos toda a comunidade à nossa volta.
É preciso ser ousado para que essa
publicidade numa larga escala (palavras de Kardec) se faça presente. Ousado
como foi Cairbar Schutel que colocava o jornal O CLARIM sobre os bancos dos
trens de passageiros que passavam por Matão-SP. Ousado como foi Eurípedes
Barsanulfo que construiu no Estado mais católico do Brasil, Minas Gerais, um
Colégio Espírita que ousadamente (sob orientação de Maria, Nossa Senhora, Mãe
de Jesus) denominou-o Colégio ALLAN KARDEC e, por ironia, esse colégio foi edificado
numa cidade com o nome de Sacramento! Ousadia também presente em Bezerra de
Menezes, que no final do século XIX escrevia uma coluna espírita semanal no
jornal de maior circulação do país.
Através da psicografia de Divaldo Franco, o
espírito Marcelo Ribeiro, reforça a necessidade da divulgação, comentando que
em relação ao Espiritismo: “Não é lícito
impô-lo. Mas não é justo deixar de divulgá-lo”. Complementa o espírito
Vianna de Carvalho, psicografia também de Divaldo Franco, livro Reflexões
Espíritas: “Na hora da Informática com os
seus valiosos recursos, o espírita não se pode marginalizar, sob pretexto
pueris, em que disfarça a timidez, o desamor à causa ou a indiferença pela sua
divulgação.”
É verdade que existem muitos espíritas
trabalhando a divulgação de forma eficiente, mas, na maioria das vezes
divulgando o Espiritismo para os próprios espíritas. Devemos ir além. Devemos
não só ser eficientes, mas também eficazes, que significa divulgar essa Luz
também para os não espíritas. A humanidade precisa do Espiritismo.
F.E.
E sobre o tópico “Respeito às demais instituições”, o que você pode nos
esclarecer?
A.O. Divulgar
o Espiritismo de forma ousada não significa jamais desrespeitar as demais
religiões, mas, sim, respeitá-las e valorizá-las. Um espírito já disse (não me
lembro qual) que o “o Espiritismo não é a religião do futuro, mas, o futuro das
religiões”. Isto é, as demais religiões não deixarão de existir, mas um dia
terão que estudarem Kardec, que é o que já está ocorrendo na cidade de Ribeirão
Preto-SP, onde grupos de católicos carismáticos estão estudando o Livro dos
Médiuns, de Kardec!!!
Se respeitarmos e passarmos a ser amigos dos
líderes de outras religiões, estes terão coragem de nos perguntar sobre o
Espiritismo, terão abertura para nos solicitar indicações de livros espíritas,
que é o que também já está ocorrendo com centenas de pastores e padres que têm
amigos espíritas.
F.E.
Fale alguma coisa sobre o tópico “Administração Eficaz”.
A.O. Por
falta de administração eficaz, muitas vezes a desarmonia campeia no meio
espírita. Não basta exercer a liderança com amor e determinação. As técnicas
administrativas precisam estar presentes.
O líder espírita precisa estudar livros sobre
liderança. Por dever de oficio (e por prazer) li dezenas de livros sobre
liderança. Indico um: O DESAFIO DA LIDERANÇA, de Kouses e Pozner, Editora
Campus. Um dos melhores livros de liderança que existem. O líder espírita
precisa participar de cursos sobre liderança. Assim agindo irá conhecer
ferramentas que muito irão lhe ajudar na administração.
F.E.
E sobre o último dos quatro tópicos, “Relacionamento Harmonioso”, o que você
pode nos dizer sobre este tema tão desafiador dentro da nossa Seara?
A.O. O
prof. Rubem Alves disse em um dos seus livros que “As coisas são os nomes que
damos a elas”. Esta forte mensagem é simplesmente espetacular, pelo seu poder
de tese'>síntese e esclarecimento. Seguindo a máxima do prof. Rubem Alves,
para a pessoa que diz “viver é sofrer”, a vida irá provar a ela que viver é
sofrer. Para a pessoa que diz “viver é aprender”, a vida irá provar a ela que
viver é aprender, pois quando o sofrimento surgir, essa pessoa em vez de dizer
“nasci para sofrer”, dirá “que lição preciso tirar desse meu sofrimento”.
Aproveito dessa analogia para reforçar que aquele líder que diz “o problema são
as pessoas”, a vida irá provar a ele que o problema são as pessoas. Mas aquele
líder que diz “a solução são as pessoas”, a vida irá provar a ele que a solução
são as pessoas. Qual então deve ser a escolha sensata do bom líder, dizer que
“o problema são as pessoas” ou dizer que “a solução são as pessoas”?
O líder que escolhe a segunda opção (a
solução está nas pessoas), irá valorizar os treinamentos e seminários na área
comportamental. Em vez de criticar o colaborador, o líder irá criticar o
sistema adotado, e procurará muda-lo.
Indico, para estudo em grupo, um livro que
tem melhorado substancialmente o ambiente interno de centenas de Centros
Espíritas: LAÇOS DE AFETO, espírito Ermance Dufaux, psicografado por Wanderley
Soares de Oliveira, Editora INEDE.
Os conflitos estarão presentes onde houver
seres humanos. São através dos conflitos que nos conhecemos, que descobrimos
nossas fraquezas. Como diz Richard Simonetti, “o próximo é a lixa grossa que burila nossa personalidade”. Aceitar
o próximo, aceitá-lo como ele é, é o nosso grande desafio. Quando descobrirmos
que a convivência é a ferramenta mais apropriada para nos conhecermos, iremos
aprender a administrar os conflitos. Sobre este assunto veja o que diz Ermance
Dufaux, no livro Mereça ser feliz, Editora INEDE: “Não existe felicidade sem pleno conhecimento de si mesmo. O mergulho
nas águas abissais do mar íntimo é indispensável. E a convivência, nesse
contexto, é a Escola Bendita. Saber os motivos de nossas reações frente aos
outros, entender os sentimentos e ideias nas relações é preciosa lição para o
engrandecimento da alma na busca de si próprio”.
F.E.
Quais são os tipos de palestras que, você, um especialista em treinamento e
consultoria empresarial, tem proferido nos Centros Espíritas? O que essas
palestras acrescentam ao público?
A.O.
Uma
observação: dedico meu tempo ministrando seminários em vez de palestras. Vejo
que desenvolvendo temas com 4h de duração, fica mais fácil passar ao público as
técnicas apropriadas à prática do tema. Os quatro temas mais solicitados são
“Aprimorando a liderança espírita”, “Convivência & Afetividade”, “O amor
está no ar” e “Conseguindo a união no meio espírita”. Também trabalho outros
temas como “O trabalho voluntário na casa espírita”, “Melhorando o
relacionamento na Casa Espírita”, “Desenvolvendo a auto-estima”, “Curso teórico
para formação de oradores espíritas” e “Somos imortais, e daí?”.
Quanto à segunda parte de sua pergunta, vejo
que os seminários, por terem a estrutura didática de treinamentos empresariais
(e as empresas são exigentes em relação aos resultados a serem alcançados),
acabam fornecendo procedimentos que facilitam a vivência do tema desenvolvido.
F.E.
Para terminar, que conselhos você daria a um líder espírita que está a muito
tempo exercendo sua liderança e também a um líder espírita que agora está
iniciando os seus primeiros passos?
A.O. Começo
por indicar um livro, pedindo que o leitor dê atenção especial a todos os
capítulos do mesmo. São excelentes alertas à liderança. Mas, em especial, foque
o primeiro capítulo, “Atitude de Amor”, que traz uma esclarecedora e
fundamental (e esta é a palavra certa) mensagem de Bezerra de Menezes. O livro
é SEARA BENDITA, Editora INEDE, vários autores espirituais, psicografia de
Wanderley Soares de Oliveira e Maria José Soares de Oliveira. Ao espírita
arredio às coisas novas, isto é, ao espírita que antes de ler o livro pensa
“mas quem são esses médiuns?”, digo, com afeto: leia primeiramente o livro.
Apliquemos a máxima de Cristo “pelos frutos
conhecereis a árvore”. Não condenemos a árvore sem antes conhecer a qualidade
dos frutos. Sobre o livro SEARA BENDITA, ouvi de um presidente de uma das
renomadas Instituições Espíritas do nosso país: “Este livro será um dos mais comentados e estudados dos próximos 20
anos.” Assino embaixo. Penso da mesma forma.
Dica ao líder antigo: é preciso atualizar-se
continuamente. Dica ao líder novo: é preciso atualizar-se continuamente. Enfim,
a atualização é necessária para todos nós. É preciso quebrar paradigmas, sempre
com fraternidade. Nunca destruir o passado, mas, sim, construir em cima do
passado. Não brigarmos por amor à causa, pois que a causa é o amor. Não
brigarmos pela defesa da doutrina. Ela, disse Divaldo Franco, pura que é, não
precisa de defensores. Enquanto brigamos, não a vivenciamos.
Como última informação, a liderança espírita
precisa ter estratégias, precisa elaborar projetos, como as empresas. Um dos
primeiros projetos que sugiro é o PROJETO DA AFETIVIDADE, com o objetivo de
vivenciar o afeto dentro da casa espírita.
Por falta de estratégias e projetos, perdemos
um dos bondes da divulgação do Espiritismo quando o filme “O Sexto Sentido” foi
o filme mais visto pelos brasileiros no ano de 1.999. Qual é a empresa que, se
soubesse que o filme mais visto do ano tivesse como tema o seu produto, não
iria aproveitar da circunstância para melhor divulgá-lo? E o produto do citado
filme era os conceitos espíritas. Perdemos esse bonde.
Por falta de estratégia e projetos, não
estamos aproveitando dos recursos financeiros que as empresas estão oferecendo
às instituições assistenciais. E reclamamos da falta de dinheiro, que na
realidade, está sobrando. Exemplo: a Petrobrás tem disponível R$ 303 milhões
para patrocinar projetos sociais e ambientais, e tem dificuldades para escolher
quem e o que patrocinar. Onde estão os nossos projetos para o levarmos à
Petrobrás e às milhares de empresas que tem verbas específicas para este fim?
Por falta de estratégias e projetos,
Espiritismo é ainda associado por muita gente com galinha preta na esquina. Não
divulgamos essa Luz.
Por falta de estratégias e projetos, a mídia
não nos procura, pois que, não nos conhece. Exemplo: sobre o atual debate que
está sendo discutido por comissão do governo sobre a liberação do aborto, o
jornal o Estado de São Paulo colheu depoimentos de católicos, protestantes e
líderes de religiões judaicas, mas, não entrevistou os líderes da religião que,
modéstia à parte, mais entende do assunto: o Espiritismo. Da mesma forma, a
revista Época, de 13 de dezembro de 2.004, entrevistou católicos e protestantes
sobre o tema aborto, mas não entrevistou os espíritas.
Não condenemos a mídia por não nos procurar,
mas, sim, façamos reflexão sobre que estratégias e projetos estamos(?) adotando
para fazermo-nos conhecidos.
Mas que a primeira estratégia e projeto seja
fazer a lição de casa: PROJETO DA AFETIVIDADE NA CASA ESPÍRITA. É preciso, como
disse Richard Simonetti, fazer com que o nosso conhecimento desça da cabeça
para o coração!
¹ Entrevista de Alkíndar de Oliveira, ao jornal
Folha Espírita, edição de Fevereiro/2005.
O futuro do movimento espírita brasileiro passa, necessariamente, pelo modelo de liderança espírita. Apesar do tom otimista do entrevistado, eu reluto em admitir essa possibilidade, pelo menos em um quadro alvissareiro de resultados imediatos.
ResponderExcluirEu penso que discutir esses assuntos ajuda bastante, mas precisamos deixar de pensar o Espiritismo como mais uma Religião! Vejam bem, todos nós somos espíritos encarnados, sejamos ou não adeptos de uma corrente religiosa, por isso Henri Bergson disse que o Espiritismo é o futuro das religiões!
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