domingo, 17 de julho de 2016

OS MILITARES NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO


Cornélio, o Centurião.
A estruturação do Evangelho de Jesus, narrando as suas atividades durante a sua permanência no Orbe Terrestre, está repleta de ensinamentos, merecedores de uma atenção especial por parte daqueles que, libertos de ideias preconcebidas, observam nas suas entrelinhas verdadeiras normas de conduta e bem proceder, tão necessárias ao aperfeiçoamento ético e moral dos homens.
O Novo Testamento é a parte da Bíblia onde encontram-se as mensagens do Cristo, vividas por Ele, para estabelecer, definitivamente, a aliança entre Deus e os homens.
Jesus não deixou nada escrito. Ele ensinou com as suas pregações, e praticou estes ensinamentos exemplificando para todos qual o verdadeiro caminho que deve ser seguido para chegar ao Reino de Deus, conquistando assim, todos aqueles que O seguirem, a verdadeira felicidade.
Após a sua crucificação e morte, Jesus retornou aos seus seguidores, denominados de apóstolos e discípulos, falando-lhes da necessidade de continuarem com a sua obra. Foram eles que escreveram o Novo Testamento anunciando o Cristo para que os homens tivessem fé e esperança, e se comprometessem com Ele. Compromisso este que significa a continuação das suas palavras e ações.


2.1. O Centurião de Cafarnaum
De todos os evangelistas, Mateus é aquele que apresenta uma didática mais clara. Ele organizou o seu Evangelho de maneira a levar a todos que o lerem, a fazerem uma viagem interior em si mesmo, a fim de descobrir a presença de Jesus, que ensina a prática do Amor e da Justiça.
Neste Evangelho encontra-se uma passagem de Jesus, por demais significativa, onde Ele demonstra que as fronteiras do Reino de Deus vão muito além da visão estreita que se pode ter em relação à origem ou classe a que pertença a criatura.
No Capítulo VIII, do Evangelho de Mateus, versículos de 5 a 10, verifica-se o seguinte diálogo de Jesus com o centurião de Cafarnaum:
“E entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe, e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: Eu irei e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente a Palavra, e o meu criado sarará; pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele faz. E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” 

Sobre este episódio, o Coronel Ruy Kremer, presidente da Cruzada dos Militares Espíritas, teceu o seguinte comentário: A fé maiúscula do centurião, exaltada por Jesus, não é um tênue crer, mas um claro saber, bem mostra que a fé não antagoniza com a função militar. A única fé que Jesus mostrou ser exemplar, não a encontrou nos doutores da lei, nos sinedritas, ou entre os escribas e fariseus, mas num gentio, e um gentio fardado, das fileiras de um odiado Exército de ocupação...
Observando-se esta passagem de Jesus narrada por Mateus, e sabendo-se de que Ele se aproveitava de todas as circunstâncias e ocasiões para ensinar, em momento algum nota-se uma demonstração de descontentamento com a classe militar vigente naquela época; se assim fosse, não deixaria passar esta oportunidade para mostrar a todos que era errado ser militar. Muito pelo contrário, além de curar o servo do centurião de Cafarnaum, Ele o enalteceu perante a multidão que O seguia, deixando bem claro que não importa a classe social a que se pertença, mas a pureza do coração e o espírito voltado a Deus pela fé.
Jesus deixou bem claro, também, que mesmo aqueles que dizem pertencer a certos grupos que se consideram salvos, se não tiver fé verdadeira nas Suas palavras libertadoras, também não entrarão no Reino de Deus.

2.2. Cornélio, o Centurião de Cesaréia
Lucas utiliza-se de todo o Capítulo X e mais os primeiros dezoito versículos do Capítulo XI do Livro dos Atos dos Apóstolos, para destacar um episódio que é tido como de grande importância para a expansão do Cristianismo nascente no meio pagão, ao narrar a conversão de Cornélio, centurião da coorte chamada itálica, morador de Cesareia, fronteira da terra judaica com o mundo pagão. Na realidade, esta fronteira não apenas separava mundos, mas também, mentalidades.
Naquela época o judeu era limitado por dois grandes tabus culturais: a lei da pureza, que o impedia de comer certos alimentos, e também uma outra lei, que o proibia de misturar-se com os pagãos, igualmente considerados impuros e profanos.
Pode-se observar ao longo da narração de Lucas a Providência Divina trabalhando para a destruição desta barreira que dificultava o relacionamento entre os homens e, assim sendo, impedia que a mensagem de Jesus se expandisse para a consolação de todos os Seus filhos.

Foi a partir da conversão de Cornélio, protagonista deste episódio marcante na História do Cristianismo, que a porta da nova fé se abriu para os gentios, permitindo assim, a grande propagação dos ensinamentos de Jesus entre todos os povos, fragmentando obstáculos e unindo a todos pela crença em um Deus Único, Pai e Misericordioso. E este fato tão especial foi marcado pelo segundo Pentecostes ocorrido na casa do centurião, selando assim, o comprometimento daqueles homens com o Evangelho.
Também na casa de Cornélio, militar da guarnição de Cesareia, foi realizado e instalado o primeiro culto doméstico do Evangelho entre os gentios, abrindo espaço para que o terreno fértil dos corações de todas as criaturas, circuncisas ou não, pudessem receber as mitigações que somente Jesus é capaz de proporcionar.
Tanto o testemunho de Cornélio quanto o do centurião de Cafarnaum, inseridos de forma grandiosa no Evangelho, são caminhos que devem ser palmilhados por todos aqueles, fardados ou não, que pretendem conservar a sua fidelidade a Deus, a veneração aos ensinamentos de Seu Filho, o Rabi da Galileia, e tranquilidade com a própria consciência.


 ¹ Novo Testamento – Mateus, Cap. VIII, vs. 5 a 10
 ² Revista de “O Cruzado”, nr 2, 2º Semestre de 1998, página 12

4 comentários:

  1. Sinceramente, não é por ser o administrador do blog, mas a diversidade de temas como o abordado pelo confrade e amigo Luiz Acioli, enriquece esse espaço sobremaneira. A divulgação espírita se enriquece através do site Canteiro de Ideias. Vamos que vamos, a Seara Espírita necessita de todos nós, juntos!

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    1. Obrigado pelas boas palavras meu amigo.
      Em breve publicaremos novos textos.
      Que Deus abençoe cada vez mais o blog Canteiro de Ideias.

      Acioli

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  2. MUITO BOM ARTIGO. MEUS PARABÉNS.

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  3. Gostei muito desse texto do confrade Acioli.
    Muito esclarecedor e elucidativo.

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