Apenas um momento de reflexão e haveremos de
perceber que todos os grandes reveladores que vieram à Terra se encontram muito
acima das instituições que se criaram depois de seu retorno ao mundo
espiritual. Assim aconteceu com Buda, Krishna, Moisés, Jesus, entre outros. Não
é necessário empreendermos muito esforço para compreender o que acontece nesses
casos. Esses homens trazem à luz do mundo os conteúdos de espiritualidade que
as suas evoluções espirituais permitem enquanto aqueles que os sucedem fundam religiões
em torno da interpretação de suas idéias e, ao fazerem isso, empobrecem o
pensamento original deixados por aqueles, conferindo caráter dogmático
normativo aos seus ensinamentos, pois lhes falta a autoridade moral e sobra a
presunção.
Provavelmente
nenhum desses seres superiores tinha a intenção de deixar instituições a lhe
representar, senão a idéia da perpetuidade de suas idéias através da livre
expressão, sem que qualquer imposição doutrinária tenha sido criada para fazer
sombra ao pensamento genuíno de liberdade contida nas mensagens imorredouras
que nos deixaram.
Dessa forma os conceitos práticos de
Religião e Espiritualidade da atualidade são duas acepções completamente
diferentes. Ser religioso não implica em ser espiritualizado, tanto quanto a
sua recíproca. A atitude de rechaçar a crença do outro e ser intolerante com
quem pensa diferente pode até ser considerada uma posição religiosa, mas jamais
poderá ser vista como uma decisão espiritualizada. Há quem se permita ser
religioso e ao mesmo tempo déspota domiciliar e social pesando sobre os seus
pares as suas opiniões, fechadas o suficiente, para conseguir ouvir o anseio
dos outros, situação jamais adotada por quem de fato fosse espiritualizado. Ser
religioso tornou-se sinônimo de cobrar aos demais uma postura qualificada
diante de algum dogma estabelecido pela doutrina a ser obedecida, enquanto ser
espiritualizado significa lançar uma visão educativa, ao que pode trazer
prejuízos, destituída de cobranças ou imposições.
Na
questão 785 de O Livro dos Espíritos
é questionado qual o principal obstáculo ao progresso, cuja resposta inicia
incisiva: o egoísmo e o orgulho. Orgulhosos e egoístas é o que conseguimos ser
quando nos tornamos religiosos sem nos tornar espiritualizados. Julgamo-nos
detentores de conhecimentos e capacidades que supomos faltar aos outros e
ousamos presunçosamente considerar-nos superiores a quem não nos comungue os
pensamentos.
Não
por outra razão que o atual líder de uma das maiores instituições religiosas do
planeta vem quebrando conceitos e preconceitos milenares e se antepondo aos
atavismos espirituais que nada tem a ver com o pensamento cristão que deveria
nortear-lhes as posições.
Jesus
nos considerou a todos, não apenas a quem o seguisse, como se fôssemos ovelhas
pertencentes a um só grupamento, que Ele denominou redil. Em suas palavras
havia o tom profético de que um dia todos se achariam, independente de quanto
tempo tivesse percorrido por estradas diferentes. Esse era o convite para que
nos desarmemos diante do outro adotando uma atitude amiga, apesar de crenças
diferentes. As religiões passam, a espiritualidade fica e acompanha o Espírito
até o seu completo despertar.
¹ editorial do programa Antena Espírita de
31.07.2016
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