Sonolento, mal
desperto, o marido ouviu a mulher perguntar:
– Quarenta e um é
cavalo?
– Não entendi…
– Quarenta e um é
cavalo?
– Por que quer saber?
– Sonhei que um
alazão me dizia: – Jogue no meu
número, quarenta e um.
– É minha idade… Ando
escoiceando?!
– Não, meu bem, pelo
contrário. Você é um amor! Sonhei mesmo. Talvez seja um convite da sorte…
– Bobagem. Nem sei se
quarenta e um é cavalo.
Horas depois, o casal
está no posto de gasolina, ao lado do supermercado. Ela pergunta ao frentista:
– O senhor sabe que
bicho é quarenta e um?
– Cavalo.
– Meu Deus! Tem
certeza?!
– Absoluta. Sempre
faço minha fezinha.
Tanque cheio:
quarenta e um litros. Número da nota fiscal: final quarenta e um!
Entram no mercado.
Ele tropeça numa banca. Cai um tênis no chão. Tamanho: quarenta e um!
Pagam a conta:
Quarenta e um reais!
Entreolham-se,
excitados.
– Aqui tem coisa! –
reconhece o marido.
– É a sorte, querido.
Está acenando para nós. Não podemos deixar passar a oportunidade.
Procuram o bilheteiro
que faz ponto no estacionamento do mercado.
– Queremos escolher
um número.
– Não vai dar. Só
tenho um bilhete.
– Qual o final?
– Quarenta e um.
Compraram o bilhete
inteiro! Era para resolver de pronto todos os problemas financeiros, garantindo
futuro tranquilo.
À tarde, cheios de
expectativa, acompanharam o sorteio pelo rádio. Empolgados, ouviram o número do
primeiro prêmio. Nem sombra do quarenta e um! Passou longe!…
Assim como eles,
centenas de visionários que sonharam com um bicho ou um número, acompanharam
com a mesma expectativa o sorteio, e também se decepcionaram.
Alguém ganhou,
provavelmente comprando um bilhete de forma aleatória, do tipo “qualquer número
serve”.
Concebem, as pessoas
que sonham com a sorte, que na extração de uma loteria possa haver a
interferência de Espíritos, a seu favor.
Admitamos que o
fizessem, por exercício de telecinesia do além, influindo no resultado.
Imaginemos milhares de mentores a disputarem o prêmio, interessados em resolver
os problemas financeiros de seus pupilos.
Seria uma briga! Ou
será que submeteriam a um poder superior suas reivindicações, para decidir quem
levaria a bolada?
Há quem suponha que o
próprio Criador interfere. Qual seria o divino critério? Merecimento, não é. Há
pilantras que ganham.
Necessidade, também
não. Gente rica costuma ganhar, até porque compra mais bilhetes.
Com elementar
exercício de bom senso, chegamos a uma conclusão óbvia, amigo leitor: qualquer
apostador poderá ganhar, atendendo ao fato de que alguém ficará com o prêmio,
não por escolha ou determinação sobrenatural, mas conforme a velha lei das
probabilidades.
Se esperamos pelos
favores dos Espíritos ou de Deus, saibamos que eles nos ajudam, sim, e muito!
Consideremos,
entretanto, que o fazem de forma peculiar. Enviam-nos desafios e dificuldades,
lutas e contratempos, o clima próprio para nos tirar da inércia a fim de
conquistarmos um prêmio muito mais valioso:
Vencer nossas próprias limitações.
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