Em face do histórico colapso econômico e
político brasileiro, creio que esta não tenha sido a melhor ocasião para a
realização dos Jogos Olímpicos no Brasil. Reconheço que a festa da abertura foi
espetaculosa, talvez uma das mais “coloridas”.
Mas quero meditar um pouco sobre o fantasma da inveja de um olímpico
(parece que não tem nada a ver) porém. Vejamos abaixo.
Há 12 anos a saga do maratonista brasileiro
Vanderlei Cordeiro de Lima, que liderava a maratona da Olimpíada da Atenas em
2004, quando a 6 quilômetros da chegada, Cornelius Horan, um ex-padre irlandês,
ultrapassou as faixas de segurança e agarrou-o conduzindo o atleta para a
lateral da pista. Atordoado, Vanderlei conseguiu se recuperar e terminar a
corrida, mas por causa dessa interrupção, em vez do plausível “ouro”,naquele
dia no pódio recebeu a medalha de bronze. Logicamente o imprevisto episódio
ganhou destaque em todos os meios de comunicação da Terra.
Transcorridos doze anos, Vanderlei mais uma
vez protagonizou um momento apoteótico quando foi o encarregado de acender a
pira da primeira olimpíada realizada no Rio de Janeiro. Foi um sentimento de
júbilo que o país reconheceu, demonstrando que a escolha desse protagonismo de
Vanderlei não foi injusta. No entanto, avesso a esse momento apoteótico,
Stefano Baldini, o vencedor da maratona da Olimpíada de Atenas em 2004, afirmou
que aquela homenagem não devolveria a Cordeiro de Lima a suposta glória
(medalha de ouro) roubada. Para Stefano, o brasileiro não iria ganhar a
maratona de 2004, porque ele (Stefano) e Mebrahtom Keflezighi iriam alcançá-lo,
e Lima teria ficado com o “bronze” da mesma forma.
Não é de hoje que Baldini tem afirmado que
Vanderlei deve se contentar com o bronze. Sob o abalo da inveja, Baldini tem
dito que Cordeiro de Lima deveria agradecer à fatalidade de ter encontrado no
seu caminho Cornelius Horan [o ex-padre lunático irlandês], porque caso
contrário, afirma Baldini – “ninguém se lembraria dele (Cordeiro de Lima)”.
Entretanto, há exatos dois anos o maratonista brasileiro respondeu
elegantemente a Stefano como notaremos adiante.
No dia 08 de agosto, em matéria sobre o
episódio supramencionado, o jornal El País tratou a reação do ex-atleta
italiano [Stefano Baldini] como… inveja. Pura e simplesmente inveja. “A
história poderia ser contada não como uma parábola do espírito olímpico, (…)
mas como uma alegoria da inveja”, escreveu o jornal espanhol. No dia 28 de
agosto de 2014, Vanderlei Cordeiro de Lima comentou sobre quem teria ganhado a
prova de Atenas se o incidente não tivesse acontecido. Disse o brasileiro que
“o impacto físico e psicológico do que ocorreu foi muito grande. Em situação
normal, eu poderia não ganhar o ouro, mas a disputa iria para o final da prova,
com certeza. Eu jamais vou dizer que seria o campeão. Não vou usar de um
palavreado que o próprio Baldini adotou e foi infeliz. Jamais vou subestimar os
demais adversários, ainda mais se tratando de uma situação que não aconteceu”.
Constata-se no testemunho do medalhista de
ouro (Stefano), um depoimento desairoso, uma combinação de lamúrias invejosas e
carência de ética esportiva, totalmente oposta aos valores olímpicos. Em verdade,
doze anos após o incidente de Atenas, Vanderlei Cordeiro de Lima humildemente
se mantém à frente dos que querem impedi-lo de chegar em primeiro. [1]
Nos dias que seguirão normalmente após as
Olimpíadas do Rio, poderemos ansiar pelas excelsas competições da humildade, da
fraternidade entre os povos, da indulgência, da beneficência, socorrendo-nos
mutuamente, a fim de que a inveja, o despeito, a maldade, o ciúme, a miséria
moral de qualquer casta fuja humilhada, cedendo lugar ao ingente desempenho do
afeto, do respeito, do amor segundo o Messias de Nazaré o viveu e nos instruiu.
A lição nos induz a refletir que poderemos
estabelecer em nós mesmos o treinamento preparatório para o vínculo respeitoso,
fraterno, solidário, dando início às futuras Olimpíadas do Evangelho cujo
escopo do amor ao próximo será consagrada nas arenas do Orbe inteiro.
Referência:
[1] Disponível em
https://esportes.terra.com.br/atletismo/vanderlei-ignora-coisas-ruins-e-nao-lamenta-ataque-de-padre,de696064cbd18410VgnCLD200000b2bf46d0RCRD.html
acesso em 15/08/2016
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