Naqueles que se aproximam do projeto da
Pedagogia Espírita – desenvolvido pela Associação Brasileira de Pedagogia
Espírita, e que se inspira na tradição que remonta aos grandes educadores,
precursores de Kardec, como Comenius, Rousseau e Pestalozzi e nos educadores
brasileiros Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco, Tomás Novelino, Herculano
Pires e Ney Lobo – frequentemente surge uma dúvida: se é pedagogia espírita
como pode ser uma pedagogia que se quer inter-religiosa? Se não pretende formar
o educando espírita, então por que chamar de pedagogia espírita? Não poderia
ser pedagogia do amor, pedagogia do
Espírito, pedagogia espiritualista ou qualquer outra denominação?
Há vários aspectos da questão que merecem
exame, não cabendo todos nesse pequeno artigo. Mas vamos resumir. Uma proposta
pedagógica não pode ser direcionada apenas a um segmento social – no caso os
espíritas – tem que ser uma pedagogia universal, que possa ser aplicada com
qualquer pessoa, em qualquer contexto. Ora, se vamos aplicar a pedagogia espírita
com quem não é espírita, isso significa que teremos de respeitar a visão de
mundo do aluno, da família, sem fazer nenhum tipo de doutrinação, sob pena de
ferirmos um dos princípios do próprio Espiritismo: o da liberdade de crença e
pensamento.
Segundo aspecto: o importante é que formemos
homens e mulheres de bem, não importando se forem budistas, católicos,
protestantes, muçulmanos e, mesmo, sem religião, desde que se tornem criaturas
fraternas, solidárias e transformadoras da sociedade.
Terceira questão: o ensino inter-religioso
que propomos na Pedagogia Espírita é um estímulo à ampliação dos horizontes
espirituais do educando e uma proposta de conhecimento e respeito mútuo, onde
os educandos inclusive saberão sobre Espiritismo, mas não só. Se a criança, o
adolescente, o jovem aprendem sobre bons valores e personagens interessantes e
elevados de outras religiões; se conseguirem se identificar com um spiritual dos antigos negros
norte-americanos, apreciarem uma catedral gótica católica (uma obra-prima da
arquitetura de todos os tempos), conectarem-se com Deus, através de um poema
místico muçulmano, da linha sufi, como Rumi; enfim, se vivenciarem momentos de
espiritualidade legítima em contato com religiões que não são a sua, saberão
respeitar e mesmo amar os adeptos dessas outras correntes, porque aprenderam a
ver que em todas elas há belezas espirituais e virtudes inspiradoras!
Mas, então, por que mesmo assim, chamar de
espírita, essa Pedagogia plural, inter-religiosa? Porque a visão de mundo que a
embasa é espírita. Ela tem algumas especificidades que outras pedagogias não
têm: a primeira é considerar a criança como um ser reencarnado e mediúnico
(capaz de se expandir interexistencialmente
como queria Herculano Pires); a segunda é um jeito próprio de tratar a
espiritualidade, com critérios de criticidade, racionalidade e pesquisa
científica. E por fim, é o Espiritismo mesmo, que nos confere essa visão
universalista, apontando que a verdade está em toda parte e que podemos bebê-la
em todas as grandes fontes espirituais da História humana.
¹ FONTE: https://blogabpe.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário