(*) Questões propostas por: Jorge
Hessen, José Passini, Leonardo Marmo, Astolfo Olegário, Eurípedes Kuhl, Wilson
Garcia, José Sola, Paulo Neto, Roberto Cury, Irmãos W. (Autores Espíritas
Clássicos).
1) Considerando as pressões e
complexidades inerentes ao cargo de presidente da Federação Espírita Brasileira
(FEB), que tipo de concessão o senhor foi constrangido a aceitar em prol de um
apaziguamento ou visando à obtenção de projetos que, no respectivo momento,
considerava mais prioritários para o Movimento Espírita e para a melhor
divulgação doutrinária? Que avaliação retrospectiva o senhor faria, hoje, desse
(s) procedimento (s) e de suas repercussões?
Cesar
Perri – Assumimos a presidência interina da FEB, na condição de
um dos vice-presidentes, por indicação do ex-presidente Nestor João Masotti,
que se licenciava para tratamento de saúde; em seguida, por renúncia deste
amigo, fomos eleito presidente. No conjunto atuamos na presidência no período
de maio de 2012 a março de 2015. Foram momentos de muitas complexidades
internas na FEB e na sua relação com o Conselho Espírita Internacional, que
também apresentava dificuldades administrativas. Não fizemos concessões, mas
percebemos resistências e o ritmo lento de muitas providências. Sentimos
claramente que existiam pontos de vistas diferentes dos nossos acerca do papel
a ser exercido pela FEB no movimento espírita. Em nossa ótica, entendemos a FEB
como uma instituição nacional, que deve interagir com o movimento espírita do
país, e, nesta condição o chamado “campo experimental” não deveria gerar a
ideia de “modelo”, pois entendemos que o mais importante para o trabalho
federativo são as experiências provenientes do movimento espírita como um todo,
sem qualquer ação que poderia vir a ser confundida com centralização.
Por outro lado, desde o primeiro momento da
gestão e ainda na interinidade, realizamos reuniões quinzenais conjuntas do
Conselho Diretor (integrado pelo presidente e vice-presidentes) e da Diretoria
Executiva da FEB (integrado por diretores). Dessa maneira todos os assuntos e
encaminhamentos foram decididos nessas reuniões e se implantou a gestão com
base em orçamento. No período de nossa gestão, sempre com divulgação ampla,
convocamos duas Assembleias Gerais Extraordinárias, reuniões extraordinárias do
Conselho Superior e do Conselho Federativo Nacional – CFN, e, efetivamos
reuniões conjuntas do Conselho Federativo Nacional e do Conselho Superior.
Muitos pontos de vistas divergentes foram equacionados nesse conjunto de
reuniões. Enfim, seguíamos um projeto de favorecer maior participação do
movimento espírita brasileiro, iniciado desde a gestão do ex-presidente Nestor
Masotti. Por indicação e com apoio deste ex-presidente, previamente, exercemos
durante oito anos o encargo de secretário geral do CFN da FEB, com essa linha
de atuação. Mas sentimos que isso gerou resistências internas na instituição. Evidentemente
que gostaríamos de ter completado o Projeto de Planejamento Estratégico da FEB,
que iniciamos, e, de termos concluído propostas de adequação e de dinamização
de atividades na área federativa e na área editorial da FEB.
2) Por que a FEB mantém o atual modelo
do Conselho Superior – que certamente teve sua finalidade nos primórdios da
implantação do Movimento Espírita no Brasil – até o presente, numa
centralização de poder que se assemelha ao Colégio Cardinalício do Vaticano,
tirando o poder do Conselho Federativo Nacional?
Cesar
Perri – Sem comentar a comparação colocada na indagação,
geralmente se lembra do Conselho Superior relacionando-se com a sua função de
“colégio eleitoral”. Há um registro histórico público do ex-presidente da FEB
Leopoldo Cirne (gestão 1900/1913) – em um livro de 1935, – aliás com um título
não usual Antichristo, Senhor do Mundo -, onde analisou a criação e o
funcionamento de órgãos da FEB e a criação do que chamou de “verdadeiro círculo
vicioso”. Em nossa ótica, a composição e as atribuições do Conselho Superior
deveriam ser revistas para se adequar melhor a uma instituição de caráter
nacional, e, também, efetivamente atuar como um conselho semelhante aos
conselhos de administração das empresas da atualidade. Entendemos que as
atribuições e efetivas ações do Conselho Superior da FEB deveriam ser até
ampliadas, para uma participação mais ativa dos seus membros no acompanhamento
das decisões e ações do Conselho Diretor e da Diretoria Executiva. Na tentativa
de promover uma ação mais próxima do Conselho Superior com a direção da FEB e
com o movimento federativo, convocamos reuniões extraordinárias e também
conjuntas do Conselho Superior com o Conselho Federativo Nacional da FEB.
3) Considerando o grande número de
títulos que são publicados pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e a
condição de “indisponível” de várias obras altamente relevantes
doutrinariamente, seria interessante saber como é discutida, pela direção da
FEB, os livros que devem receber prioridade para serem publicados, divulgados e
distribuídos. Assim sendo, que fatores são levados em consideração e como as
discussões são empreendidas, uma vez que a FEB publica Chico Xavier, Divaldo P.
Franco e Yvonne A. Pereira, além de Denis, Delanne e Bozzano, entre outros,
além, obviamente, de Allan Kardec?
Cesar
Perri – Assumimos a gestão da FEB em época muito complicada, com
necessidade de decisões urgentes relacionadas com a desativação da gráfica,
iniciada na gestão do ex-presidente Nestor Masotti, e, depois de todo o prédio
ligado à editora no Rio de Janeiro, implantando-se a terceirização das
impressões com cotações em várias grandes gráficas e a distribuição dos livros
utilizando-se experiente empresa de logística. Também houve necessidade de
revisão de todos os textos dos livros, atualização das capas e da diagramação
dos livros. Simultaneamente já sentíamos os reflexos iniciais da crise
econômica do país. Há um Conselho Editorial – integrado por dirigentes da FEB
-, e que tem a atribuição de analisar novas obras e reedições; e, durante nossa
gestão, se iniciou um processo de maior interação entre este e o Conselho
Diretor e a Diretoria Executiva da FEB, para a definição de prioridades do
ponto de vista doutrinário e da realidade do mercado livreiro. Na nossa visão
esse processo estava apenas se iniciando e deveria ser aprofundado e
aperfeiçoado.
4) Por que a FEB continua publicando a
obra de J.B. Roustaing, que diverge frontalmente de princípios doutrinários
apresentados por Kardec? Considerando o desígnio da unificação do M.E.B. e
permanecendo a FEB obsessivamente apadrinhando e divulgando “ Os Quatro Evangelhos” de J.B. Roustaing,
não seria essa incomoda obstinação lesiva à união dos espíritas? Será que
espera uma campanha de esclarecimento a ser deflagrada no meio espírita?
Cesar
Perri – Quando assumimos a presidência da FEB estavam esgotados
muitos títulos. A obra citada e muitas outras não foram reeditadas durante
nossa gestão. Com relação à divulgação da obra referida, mantivemos o acordo
feito durante a gestão do ex-presidente Francisco Thiesen – e sempre lembrada
pelo ex-presidente Nestor João Masotti -, que nas ações federativas e
documentos do Conselho Federativo Nacional e na revista Reformador as obras de
Allan Kardec seriam a base. Nunca aprovamos propostas de divulgação sobre a não
recomendação de obras e muito menos de elaboração de listas de livros que
eventualmente não seriam indicados. Desde os tempos de nossa atuação na União
das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – USE valorizamos a Campanha
“Comece pelo Começo”, de divulgação das Obras Básicas de Allan Kardec, iniciada
nos anos 1970. Aliás, durante nossa gestão como presidente da FEB, o Conselho
Federativo Nacional aprovou em 2014 a Campanha “Comece pelo Começo”, proposta e
elaborada pela Área Nacional de Comunicação Social Espírita do CFN.
5) Você que certamente deve ter sido
vítima diversas vezes de ataques e perfídias dos inimigos da luz (encarnados e
desencarnados), em face as suas experiências e potencialidades federativas, já
refletiu sobre a possibilidade de conduzir um movimento, em que líderes e
dirigentes federativos ou não, participem ?
Cesar
Perri – A diversidade de pensamentos e de sentimentos é uma
característica do nosso mundo, da humanidade encarnada e da desencarnada.
Vivemos essa experiência de aprendizagem, mas preponderando as vibrações
fraternas, nas atividades profissionais, e, no movimento espírita, desde o
início de nossa trajetória na mocidade, no centro espírita, nos órgãos de
unificação municipal e regional, na direção em nível estadual da União das
Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – durante três mandatos como
presidente -, e, na convivência com o movimento espírita de nosso país,
incluindo o Conselho Federativo Nacional da FEB. Inspiro-me sempre no apóstolo
Paulo: “Examinai tudo, retende o bem” e no seu depoimento: “Combati o bom
combate, terminei a corrida, guardei a fé”. Acredito que nossa “corrida” não se
encerrou, mas ocorrem adequações de caminhos, e, sem a preocupação com cargos,
estamos atuando como um servidor, procurando manter a “fé com obras” e bem
próximo da realidade das bases do movimento espírita.
6) Algum desencanto em face da não
reeleição à presidência da FEB?
Cesar
Perri – Poucos dias antes da eleição, recebemos a informação de
alguns dirigentes da FEB da posição deles que queriam a escolha de um outro
presidente e, logo depois, divulgaram um manifesto ao Conselho Superior da FEB.
Preparamo-nos para a nova circunstância, ciente de que poderiam ocorrer
paralisações e alterações de projetos que defendíamos. Após deixarmos a
presidência da FEB, optamos por atuar em instituição simples e funcionando em
bairro mais periférico de Brasília; com a nossa participação foi criado o Grupo
de Estudos Espíritas Chico Xavier (GEECX); prosseguimos atendendo a continuados
convites de todas as partes do país, para visitas, palestras e o
desenvolvimento de seminários, visitando inclusive o interior de vários
Estados; retomamos as contribuições mensais com a Revista Internacional de
Espiritismo, vínculo que já existia desde o ano de 1971, e a elaboração de
livros, como os recentemente lançados pelas Editoras “O Clarim” e pela USE-SP.
Em todos os rincões que nos convidam temos recebido o reconhecimento amigo e o
carinho da família espírita em manifestações de solidariedade fraterna.
7) Parece haver uma concepção
generalizada de que o Espiritismo é uma religião no sentido tradicional do
termo e há até mesmo quem diga que atualmente “O Evangelho segundo o Espiritismo”
está sendo empregado como “O Espiritismo segundo o Evangelho”. Como você
percebe e conceitua essa situação?
Cesar
Perri – Em palestras, artigos e em livros temos trabalhado a
concepção de Allan Kardec sobre religião, que consta em O livro dos espíritos
(Conclusão, item V): “O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias
bases da religião […] ele se apóia na confiança em Deus […] convida os homens à
felicidade, à esperança, à verdadeira fraternidade […]”.
Reconhecemos que Kardec faz importantes
definições em O evangelho segundo o espiritismo (Apresentação): “Muitos pontos
dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral por si sós são
ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da chave que
faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. Essa chave está completa no
Espiritismo…”. No capítulo I deste mesmo livro Kardec inclui mensagem de Um
Espírito israelita”: “Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o
Espiritismo a concluirá.”
Destacamos que o filósofo e jornalista
Herculano Pires deixou-nos significativas obras que analisam essas questões,
entre outras o livro: O espírito e o tempo. Introdução histórica ao
espiritismo, cuja 1ª. edição veio a lume em 1964.
Entre as Obras Básicas de Allan Kardec,
percebemos que o livro O Evangelho segundo o Espiritismo é utilizado,
geralmente, como “leitura preparatória” de reuniões ou como temas de palestras
e que está faltando e o seu estudo. Durante nossa presidência na FEB,
intensificamos a divulgação desse livro por ocasião do Sesquicentenário de sua
publicação, inclusive com a sua edição em parceria com Federativas, numa
tiragem de 200 mil exemplares, e, no temário do 4º. Congresso Espírita
Brasileiro, em 2014. Esse congresso foi um marco de evento bem sucedido,
descentralizado e efetivado simultaneamente em quatro regiões, com consultas
prévias às Federativas sobre temas e expositores, e autossustentável. Também
criamos as reuniões de estudo de O evangelho segundo o espiritismo, na sede da
FEB em Brasília, e integramos sua equipe de facilitadores e acompanhamos o
vívido interesse dos participantes de diversas faixas etárias e com diferentes
graus de conhecimento doutrinário, no desenvolvimento dos temas; foram
marcantes as avaliações que os frequentadores fizeram sobre essas reuniões de
estudo. No período adotou-se uma adaptação da metodologia de estudo
interpretativo do Evangelho, que foi desenvolvida por Honório Onofre Abreu
(ex-presidente da UEM, MG). Também foi criado o Núcleo de Estudo e Pesquisa do
Evangelho (NEPE da FEB) que gerou uma série de vídeo aulas – “Evangelho à luz
do Espiritismo” pela TVCEI e depois FEBtv, tendo como desdobramento o
aparecimento de vários grupos de estudos de O evangelho segundo o espiritismo
em vários locais do país. Ainda como consequência, a Editora FEB lançou em 2014
o livro elaborado por uma equipe, com o título O evangelho segundo o
espiritismo. Orientações para o estudo.
Após deixarmos a presidência da FEB,
prosseguimos nessa linha de trabalho e inclusive elaboramos o livro Epístolas
de Paulo à luz do Espiritismo (Ed. O Clarim), valorizando a essência das
recomendações morais de Paulo e sobre dons espirituais, com abordagens simples,
objetivas e fundamentadas nas obras de Kardec e do Espírito Emmanuel,
psicografadas por Francisco Cândido Xavier.
8) A figura de Chico Xavier está sendo
venerada com equilíbrio ou com exagero? Você concorda que ele surge atualmente
como uma voz mais forte e mais requisitada do que a de Kardec?
Cesar
Perri – Na realidade, encontramos as duas situações. Surpreso,
temos verificado que muitos espíritas e até dirigentes nunca leram obras
psicográficas de Chico Xavier, afeitos a modismos da literatura espírita e ao
estudo por apostilas. Chico Xavier era muito simples e não aceitava
incensamentos dos amigos e simpatizantes. Conheci-o pessoalmente e o visitamos
com assiduidade durante mais de 20 anos nas ações da Comunhão Espírita Cristã e
do Grupo Espírita da Prece, e no seu lar, em Uberaba. Temos muitos registros
com ele. Quando completou 70 anos de mediunidade, o homenageamos escrevendo o
livro Chico Xavier. O homem e a obra (editado pela USE-SP). Nesse livro e
principalmente agora, entendemos que o mais importante será a valorização do
estudo de sua obra. Por escolha do CFN da FEB coordenamos nacionalmente o
“Projeto Centenário de Chico Xavier” e depois divulgamos efemérides ligadas a
livros, como os 70 anos da publicação de Paulo e Estêvão. Durante nossa
presidência na FEB estimulamos a ampla divulgação dos livros psicográficos de
Chico Xavier, apoiamos a elaboração e o início da publicação da série Coleção O
Evangelho por Emmanuel, e providenciamos um contrato de parceria da Editora CEU
(de São Paulo) com FEB, para a edição dos títulos de Chico Xavier dessa
tradicional casa editorial. Entendemos que o estudo dos livros deste médium
devem ser realizados junto com os de Allan Kardec, aliás foi a proposta de
Emmanuel nos livros em que homenageou o Centenário das obras de Kardec, a
saber: Religião dos espíritos, Seara dos médiuns, Livro da esperança, Justiça
divina.
9)
Por que o Movimento Espírita Brasileiro, de modo geral, não dá à defesa
da vida, em especial, à prevenção do aborto a mesma prioridade das demais áreas
de sua atuação?
Cesar
Perri – Desde a publicação dos opúsculos Em Defesa da Vida, pela
FEB, durante a gestão do ex-presidente Nestor João Masotti, e de suas atuações
– que acompanhamos – na origem do Movimento Nacional da Cidadania Em Defesa da
Vida – Brasil sem Aborto (2006), verificamos que com o apoio do CFN da FEB,
surgiram muitas ações em vários Estados. Em vários destes, as coordenações
foram realizadas por lideranças espíritas locais. Desde o início dessa campanha
tivemos participação ativa, com equipe de apoio, nos eventos que estimulam a
defesa da vida. Chegamos a conseguir um artigo especial para a revista
Reformador, de autoria de Eros Grau, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal,
contrário ao aborto e publicado em 2011. Nas reuniões do CFN da FEB e nas suas
ações regionais foram divulgadas e estimulamos tais Campanhas. Houve boa
repercussão e bons resultados, porém, reconhecemos que são ações mais recentes
ao compararmos com atividades mais antigas dos centros espíritas e do movimento
espírita.
10) Percebe-se, atualmente, um certo
arrefecimento do vigor do movimento espírita no Brasil. Você concorda com essa
percepção?
Cesar
Perri – Talvez pudéssemos dizer que o movimento espírita – se
considerarmos o movimento mais ligado ao trabalho federativo – não acompanha a
expansão da base, ou seja, dos centros espíritas. Nas nossas viagens
continuadas pelo interior constatamos este fato. Outro aspecto é a dimensão
territorial de nosso país e seus Estados, quase um Continente, e as
dificuldades financeiras para a mobilidade entre as cidades e entre os Estados.
Por outro lado, acreditamos que há muito a ser realizado para a compreensão da
união – como laço moral, solidário e espiritual –, o respeito à diversidade das
situações e condições dos centros espíritas, e o conhecimento dessas realidades
para o melhor atendimento e apoio às reais demandas das diversificadas
instituições. Nas visitas a centros pequenos e com várias características,
fortalecemos o ponto de vista de que o trabalho de união deve ser
constantemente adequado às bases do movimento: os centros espíritas. Vale a
pena a releitura e a reflexão de Allan Kardec, em assuntos correlatos,
principalmente a 2ª. Parte de Obras póstumas.
11) Visando à melhoria das atividades do
Movimento Espírita, sobretudo do ponto de vista da qualidade doutrinária, com a
experiência de ter sido diretor, vice-presidente e presidente da FEB em um
intervalo substancial de tempo, que estratégia o senhor considera que poderia
ser mais eficiente por parte tanto dos confrades com maior influência em órgãos
federativos e grandes centros espíritas como também dos confrades com atuação
de menor repercussão em nível nacional? Nesse contexto, até que ponto a FEB
observaria e seria sensível a tais esforços para ajustar suas próprias
diretrizes?
Cesar
Perri – Nossa sugestão é a ampla difusão das Obras Básicas de
Kardec, a implementação da Campanha “Comece pelo Começo”, estimulando o estudo
e a leitura direta nos livros, e procurando disponibilizar livros em formato e
valor monetário compatível com a maior parcela da população brasileira, e que
tem dificuldades financeiras. Cremos que é chegado o momento de se rever o
processo de “escolarização” que se desenvolveu com a criação de cursos, ciclos,
apostilas e exigências de pré-requisitos como faixas etárias padronizadas e de
sequenciamento de frequência a cursos para a posterior integração nas
atividades dos centros espíritas e do movimento espírita. Os dados do Censo
realizados pelo IBGE nos anos 2000 e 2010 apontam para realidades que são
preocupantes dos espíritas declarados, de faixa social e de faixa etária. É
urgente a revisão dos processos para a integração da infância e dos jovens, e
da família, nos centros espíritas. A nosso ver, as propostas de trabalho
precisam ser adequadas às distintas realidades dos centros espíritas, lembrando
que a maioria é simples e de pequeno porte. Esses assuntos já vinham sendo
abordados por algumas Federativas Estaduais e estimulamos tais estudos no
Conselho Federativo Nacional da FEB, mas enfrentando algumas resistências
localizadas. Repetimos sempre que há necessidade de menos formalidades e mais
espontaneidade e simplicidade nas atividades espíritas.
Estreitamos os laços com as Entidades
Espíritas Especializadas de Âmbito Nacional e foi criado o Conselho Nacional
delas, junto à FEB. Entendemos que o Conselho Federativo Nacional da FEB,
integrado pelos presidentes das Entidades Federativas dos 26 Estados e do
Distrito Federal e pelo presidente da FEB, têm uma responsabilidade muito
grande no sentido de estimular o efetivo apoio, a adequação e a dinamização do
movimento espírita de nosso país.
12)
Na década de 1940 (antes do Pacto Áureo) líderes espíritas de Minas Gerais ,
São Paulo , Rio Grande do Sul entre
outros sonhavam com a criação de uma Confederação espírita, qual a sua opinião sobre
isso?
Cesar
Perri – Nos anos 1940 e principalmente após a fundação da União
das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (1947) surgiram propostas de
união e que deveriam ser discutidas com a FEB. A primeira psicografia de Chico
Xavier sobre união e unificação foi assinada por Emmanuel – “Em nome do
Evangelho” -, e dirigida aos participantes do 1o Congresso Nacional Espírita em
São Paulo, promovido pela USE-São Paulo, em 1948. Essa mensagem, com o título
acima, foi psicografada no dia 14 de setembro de 1948, em Pedro Leopoldo, MG
(In: Orientação aos órgãos de unificação. FEB). Um grupo de lideranças
espíritas do Sul e do Sudeste manteve contatos com o ex-presidente da FEB
Wantuil de Freitas e, finalmente, foi assinado o “Pacto Áureo” (1949), criando-se
o atual Conselho Federativo Nacional da FEB. Simultaneamente também surgiam
ideias sobre uma Confederação. No ano de 1997, como presidente da USE-SP
articulamos a elaboração de uma moção de união e solidariedade ao CFN da FEB,
que contribuiu para se evitar o alastramento da proposta de Confederação, que
crescia na oportunidade em função de polêmicas doutrinárias. A moção aprovada
redundou no fortalecimento do CFN com a elaboração de novas propostas de
atuação (Reformador, dezembro de 1997, p.360-1), as quais foram seguidas pelos
ex-presidentes Juvanir, Masotti e por nós. Vários países adotam a organização
de Confederação e o Conselho Espírita Internacional (CEI), no seu Estatuto
vigente desde 2002, na prática se configura como uma confederação. No tocante
ao trabalho de união e de unificação, entendemos que cabe às Entidades
Federativas Estaduais, integrantes do CFN, definirem a organização e a ação
federativa.
13)
Suas considerações finais:
Cesar
Perri –Com relação à tônica predominante das questões formuladas
por vários companheiros entrevistadores, concluímos e sintetizamos, sugerindo
aos leitores a reflexão sobre o último discurso de Allan Kardec, de novembro de
1868 (Revista Espírita, dezembro de 1868) – já citado anteriormente -, onde há
colocações muito oportunas sobre a união dos espíritas: “Qual é, pois, o laço
que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum
contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual
se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo
espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras
palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos
que os mortos sempre fazem parte da Humanidade. […] O laço estabelecido por uma
religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga
os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato
de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas
que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de
estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de
sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência
mútuas.”
Corajosa entrevista. Sempre fui concorde com as ideias do César Perri, mesmo antes de se tornar Presidente da FEB. Perdemos muito em termos de movimento espírita, com a sua não reeleição. A vida segue.
ResponderExcluirConcordo com você Jorge, realmente foi uma corajosa entrevista, até pelos nomes dos entrevistadores! Qualquer um esperaria ver ressentimento nas palavras de Cesar Perri, no entanto ele faz uma abordagem corajosa, porém sem se afastar da fraternidade. Não se vê nas suas respostas o azedume que muitos, talvez, esperassem! Gostei, principalmente, da citação que ele faz ao final,sobre o último discurso de Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em novembro de 1868 e publicada em dezembro do mesmo ano na Revista Espírita. O Movimento Espírita Brasileiro teria muito a ganhar com a permanência dele como Presidente da FEB, até pela confiança que Nestor Masotti nele depositava, posto que o conhecia bem, com quem trabalhou ao longo de muitos anos em São Paulo e em Brasília!
ResponderExcluirCesar Perri em todos os seus movimentos busca a construção e a expansão do Movimento espírita que muitos de nós desejamos ver acontecer e foi analisado como alguém que queria ser maior que a obra pelos que lhe fizeram oposição, uma pena. Pena que as pessoas que se julgam DONAS desse movimento estão perdendo o tempo para as devidas correções. Perder o tempo de fazer algo pode se tornar fatal quando a força das coisas se organizam e levam o que tem pela frente. Educar, direcionar e incentivar o progresso não são apenas palavras, são atitudes que a história cobre e pune em seu devido tempo. Roberto Caldas
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