Felicidade,
do latim felicitate, de acordo com os
dicionaristas, “é o estado de quem é
feliz”, ”é uma sensação real de satisfação plena”, “é ventura”, ´”é bem estar” e
ainda que “é um sentimento passageiro”. Já
a Paz, que deriva do latim “pacem”
seria, segundo as mesmas fontes, “calma”,
“sossego”, “tranquilidade”, “repouso”,” harmonia,” “ausência de conflitos”, “estado
de calmaria”, um “estado de espírito”.
Consta
que o homem não pode gozar, na Terra, de uma felicidade completa, visto que a vida lhe foi dada como prova ou
expiação, mas que depende dele amenizar seus males e ser tão feliz quanto se
pode ser sobre a Terra. Depreende-se, portanto, que se pode ser
relativamente feliz.
Mas
como alcançar essa relativa felicidade, diante das tribulações, conflitos,
perdas, decepções, frustrações, crises, violência e tantas outras ocorrências a
nos atingir durante as curtas existências que nos são dadas ?
Atribui-se,
comumente, a saúde, a juventude, a posse de bens ou riqueza, a harmonia
familiar, a paz, a religião e outros, como elementos necessários à felicidade.
Assim entendendo, já um grande número entre nós estaria excluído, senão a
maioria, desde que elementos contrários àqueles, como doença, senilidade, pobreza,
conflitos familiares, vício e tantos outros, atingem um imenso número dentro
das sociedades.
É
possível viver feliz sem saúde, sem dinheiro, sem harmonia familiar ? Poderá
reinar a paz em um lar desarmonioso, pobre ou acometido por doença ? Por outro
lado, pode o indivíduo de boa condição econômica, jovem, em família harmoniosa,
queixar-se da sorte ?
Quantos
depoimentos reais o têm confirmado e através da via mediúnica François
–Nicolas- Madelaine assim exemplifica, em Paris, 1863: “Não sou feliz! A felicidade não foi feita
para mim ! Exclama geralmente o homem, em todas as posições sociais. Isto
prova, meus caros filhos, melhor que todos os raciocínios possíveis, a verdade
da máxima do Eclesiastes: A felicidade não é deste mundo”
Se
raciocinarmos no sentido coletivo, o mais provável é que no lar em conflito,
onde tudo falta ou há moléstia entre os seus membros, não reine a relativa felicidade
ou paz. Sim, porque estes sentimentos são individuais e cada ser tem a sua
sensibilidade própria, no sentido de compreender, aceitar ou resignar-se. E
estes atributos não resultam da educação, familiar ou escolar, mas do
desenvolvimento interior de cada um, do espírito que é a individualidade
humana. Cada ser é independente e reage conforme lhe inspira e orienta o mais
recôndito da Alma. E é aí que se revelam os humildes. E embora “a felicidade não seja deste mundo”,
depende de cada um “amenizar os seus
males e ser tão feliz quanto se pode ser sobre a Terra”, como acima referido.
A
felicidade, portanto, é construção individual. Pela intuição, o homem
compreende que os reveses da vida não são impedimento para a paz e para a
felicidade, mesmo que limitada, se ele é consciente de que é o artífice de tudo
o que lhe ocorre, de bem ou de mal, como relatado em “Esperanças e
Consolações”, Livro quarto, da Obra Original Básica do Espiritismo, onde Kardec
colheu que: “o mais frequentemente, o
homem é o artífice de sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele
se poupa dos males e chega a uma felicidade tão grande quanto o comporta a sua
existência grosseira”. E ainda comenta que: “o homem bem compenetrado de sua destinação futura não vê na vida
corporal senão uma estada passageira. É para ele uma parada momentânea em má
hospedaria. Ele se consola facilmente de alguns desgostos passageiros, de uma
viagem que deve conduzi-lo a uma posição tanto melhor quanto melhor tenha se
preparado”.
O
sentimento de rebeldia, o desespero, a revolta, são manifestações de orgulho
que denotam inferioridade espiritual, estágio em que o ser a tudo vê com
desconfiança e rejeita se não satisfaz o seu interesse egoístico, tornando-se
infeliz e fazendo a outros também infelizes. E isto não depende de categoria
social, mas do desenvolvimento espiritual e moral, que leva à compreensão e à
humildade.
Se
alimentarmos a crença em uma vida futura, aceitaremos também, por intuição, as
leis de Deus e se a praticarmos em toda a sua extensão, acabaremos por entender
que temos uma destinação que depende das nossas ações de hoje. Se agirmos com
humildade diante dos infortúnios, se nos resignarmos ante as decisões Divinas,
alcançaremos a consolação e com ela a paz interior, definida como “calma”,
“sossego”, “tranquilidade”, portanto, a felicidade possível, definida como
“ventura”, “bem estar”, “contentamento”.
É
pelo conhecimento pleno da nossa origem, da missão a que nos submetemos e
destinação, que lograremos atingir a necessária reforma íntima, extirpando o
orgulho e o egoísmo que o nosso atavismo moral há alimentado há séculos e
motivado ao longo destes o sofrimento e o inconformismo.
E o
Mestre Maior, através dos luminares da espiritualidade, nos tem instruído ao
longo dos tempos, como o fez “Lacordaire”,
em Havre, 1863, ao nos falar sobre o Bem Sofrer e Mal Sofrer, reproduzindo
as suas palavras: “Bem-aventurados os
aflitos, porque deles é o Reino dos Céus”, aduzindo, ainda, que ele não se referia aos sofredores em geral,
porque todos os que estão neste mundo sofrem, quer estejam num trono ou na
miséria extrema. E logo a seguir esclarece que “poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem
suportadas podem conduzir ao Reino de Deus”.
Concluímos,
pois, com a sabedoria espiritual, que “para
a vida moral, é a consciência tranquila e a fé no futuro, a medida da
felicidade”.
Referências
Bibliográficas:
O Livro dos Espíritos – Tradução
Salvador Gentile – 104ª edição – IDE 1974 – Outubro 1996.
O
Evangelho Segundo o Espiritismo – Tradução J. Herculano Pires – Capivari – SP –
1996.
Nenhum comentário:
Postar um comentário