Conta Platão (428-348 a.C.), em
seu Protágoras, que gregos famosos,
que ele situa como os sete sábios da
Grécia, reuniram-se no templo de Apolo, em Delfos, no século VI a.C.
Eram Tales de Mileto, Pítacos de
Mitilene, Bias de Priene, Sólon, Cleóbulo de Lindos, Mison de Khene e Chilon.
Após intensos debates fizeram
gravar duas inscrições numa das paredes do templo. A primeira é bastante
conhecida, sempre lembrada quando se cogita da edificação de uma vida melhor:
Homem,
conhece-te a ti mesmo.
Decifrando os enigmas de nossa
personalidade, com o conhecimento de nossas imperfeições e mazelas, dúvidas e
anseios, receios e contradições, colocamos ordem em nossa vida e nos habilitamos
a caminhar com maior segurança.
Em O Livro dos Espíritos, no desdobramento da questão 919, numa das
poucas respostas assinadas, o Espírito santo Agostinho (354-430), que colaborou
na Codificação, explica que foi a partir de seu empenho em vivenciar essa
máxima que se operou radical mudança em seu comportamento, ajudando-o a superar
mazelas e ilusões. Recomenda:
Fazei o
que eu fazia, quando vivi na Terra. Ao fim do dia, interrogava a minha
consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não
faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi
assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma…
Aquele
que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e
inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao
seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se
aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria.
Dirigi,
pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que
objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma
coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que
não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais:
“Se
aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém,
ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?”
O comentário se estende. É longo,
mas extremamente oportuno, oferecendo-nos um roteiro precioso em favor de nossa
renovação. Vale conferir.
A
segunda inscrição, igualmente importante, é menos conhecida:
Nada em excesso.
Simples, não é mesmo, amigo
leitor? No entanto, se bem observarmos, verificaremos que é um complemento
indispensável da primeira. A maior parte dos males que nos afligem está
relacionada com o fato de nos excedermos em nossas iniciativas.
O
obeso é alguém que come demais...
O
maledicente é alguém que fala demais…
O
alcoólatra é alguém que bebe demais...
O avarento é alguém que quer dinheiro
demais…
O
deprimido é alguém que vê problemas demais...
O
infeliz é alguém que pensa em si demais…
O
neurótico é alguém que se preocupa demais…
O
iludido é alguém que sonha demais…
O
passional é alguém que se envolve demais…
A
recomendação dos sábios gregos pode ser resumida em uma palavra: Disciplina. É
preciso disciplinar nossos pensamentos e ações, cultivando prudência e
comedimento.
Kardec
reúne as duas recomendações numa máxima basilar, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVII:
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações
más.
O cumprimento dos postulados
espíritas implica em empenho por decifrarmos os enigmas de nossa personalidade,
analisando reações e impulsos que nos são marcantes, como ensina Agostinho.
Paralelamente, cultivar comedimento, observada a disciplina fundamental:
Nada em excesso.
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