Há um anseio de eternidade
permeando a nossa certeza de temporalidade. A inegável concretude da ocorrência
da morte estabelecendo um ponto final em qualquer fase do ciclo humano não nos
permite duvidar da fluidez da existência. O nosso período de tempo de vida na
Terra não parece obedecer a qualquer regra estatística, apesar de se poder
estimar a média de vida de uma população, tal não se aplica à individualidade. Inclusive a Genética, ciência que joga luz a
certos mistérios dos mecanismos celulares, não está absolutamente capacitada
para estabelecer quantos anos haveremos de permanecer em posse do corpo físico.
Significa
que não temos senão a opção de tornar pleno o dia de hoje, pois esse dia passa
a ser o nosso instrumento de ação para encarar os desafios naturais do ato de
viver. Quando Jesus, no Sermão do Monte, aconselha a não “ocupar-se com o dia
de amanhã”, Ele estabelece a conexão da existência com o momento que passa na
vida de cada um, mostra a importância da atenção à ocasião que se tem em mãos
sem adiamentos. A atitude de deixar para amanhã atrasa o passo e dispõe aos
enganos, nos quais derrapamos com muita frequência. O principal deles é ter
deixado passar as circunstâncias favoráveis que se apresentaram a nossa frente e
foi postergada.
O
princípio da Reencarnação, defendido filosófica e cientificamente pela Doutrina
Espírita, repõe o ciclo do nascer/morrer numa espiral de repetições que
possibilitam aos seres espirituais refazer ou completar um aprendizado que
deixaram escapar numa determinada encarnação. Ao contrário do que alguns
adversários dessa idéia intentam referir, não há nessa lógica uma justificativa
à inércia de uma existência pelo aguardo de outra oportunidade. A roda da vida
se baseia no aprendizado que conduz à evolução. Cada situação que se apresenta
no presente é passiva de aproveitada. Se não o fizermos, a lei indica retorno
para repetir a experiência. Jamais nos veremos exatamente em uma situação
idêntica a essa que experimentamos agora. Tratados de forma igual pela Justiça
Divina, não temos senão que aproveitar as circunstâncias para fazer o melhor ao
nosso alcance. Amanhã ou numa outra existência é uma dependência de como se responde
à prova de agora, sem previsão da forma como vai se apresentar a nova
experiência.
Compreender
que a eternidade é o dia de hoje, com todas as suas disposições e lutas,
permite dar um passo muito amplo no alcance das nossas prerrogativas de
progresso espiritual. A realização do exercício de estar atentos a nos
transformar na melhor pessoa que conseguirmos ser, durante as 24 horas vividas,
é o degrau que precisamos se quisermos galgar a escadaria da evolução. Não
adianta contar com o tempo que não temos e com as disposições que não
conquistamos se a verdadeira intenção é a aquisição dos valores superiores da
existência. Reclamar e desculpar-nos pela reconhecida inferioridade individual
é uma das piores atitudes, que tantas vezes repetimos. Cuide de zerar o seu dia
de todas as coisas que não queira para si nem para os outros e a cada noite,
antes de dormir, sinta-se feliz por ter utilizado o fragmento de eternidade que
Deus lhe deu, da forma mais apropriada. Amanhã é um reflexo das atitudes
decididas hoje. Reflita sobre as próprias necessidades e aja na solução, sem
deixar para amanhã.
¹ editorial do programa Antena Espírita de
16.10.2016
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