Voltaire
(1694-1778), o irreverente filósofo francês, definia bem essa situação: “Os homens que procuram a felicidade são
como bêbedos que não conseguem encontrar a própria casa, mas sabem que têm
uma”.
A
felicidade deveria ser um estado natural, como uma casa aconchegante que nos
abriga, proporcionando-nos proteção e bem-estar. Afinal, por que nos sentirmos
infelizes, se temos por Pai um Deus de infinito Amor e Misericórdia, que
trabalha incessantemente por nós? Que representam percalços, dores e
atribulações da existência humana, senão instrumentos de depuração,
preparando-nos para gloriosa destinação?
O
problema é que nos perdemos em desvios de entendimento. Prevalece, na sociedade
humana, com raras exceções, um comportamento que engloba duas concepções:
Hedonismo.
A existência orientada para a busca do prazer, envolvendo gastronomia, cinema,
televisão, sexo, viagens, álcool, cigarro…
Utilitarismo.
O empenho por ganhar dinheiro em atividades comerciais e profissionais para
atender às exigências do… prazer.
Tudo
o que fuja dessa orientação é considerado perda de tempo. Impensável retornar
aos bancos escolares, cogitar de reciclagem e aprendizado, a não ser que o
objetivo seja ampliar a própria eficiência e produzir mais e melhor, de forma
utilitária, em benefício do hedonismo.
Por
isso, quando convidado a participar de uma atividade de caráter
espiritualizante, há quem refugue, alegando falta de tempo, para não cometer a
indelicadeza de exprimir a equivocada convicção de que é pura perda de tempo.
Interessante,
neste particular, uma observação de Rousseau (1712-1778) em sua obra maior, O
Emílio: “Ousarei expor aqui a mais
importante, a maior, a mais útil regra de toda a educação. É não ganhar tempo,
mas perdê-lo.”.
Considerando
que a educação é, basicamente, o aperfeiçoamento integral de todas as aptidões
humanas, diríamos que é preciso aprender a perder tempo, mesmo sob o ponto de
vista utilitário. Somente assim conseguiremos desenvolver algo que costumamos
negligenciar, mas que é fundamental, em favor de nosso bem-estar: a conquista
dos valores espirituais.
Acima do homem físico, envolvido com a
dimensão material, contida nos estreitos limites do imediatismo terrestre, há o
Espírito imortal, que não mergulhou na carne para atender a simples objetivos
utilitários ou hedônicos.
Há
um motivo bem mais importante. Estamos aqui para evoluir! Poderíamos definir
esse objetivo como o aprimoramento de nossas faculdades intelectuais e morais,
partindo do homo sapiens para o homo angelicus, do ser pensante para o ser
angélico. Para que isso aconteça é preciso perder tempo, mergulhando nos
porquês da Vida, definindo os caminhos que devemos trilhar, avançando nos
domínios da virtude e do conhecimento.
Quanto ao hedonismo, há uma observação
genial, de Barbey d’Aurevilly, novelista francesa (1808-1889): “O prazer é a felicidade dos loucos. A
felicidade é o prazer dos sábios”.
A sabedoria que faz a verdadeira felicidade
consiste em procurar o prazer em atividades que representem benefício para a
nossa alma, não importando a idade, sem comprometimentos físicos ou
espirituais.
A propósito, leitor amigo, convidando-o à
reflexão sobre a felicidade, o substrato do prazer, um provérbio chinês:
Se
você quiser ser feliz por uma hora, tire uma soneca.
Se
quiser ser feliz por um dia, vá pescar.
Se
quiser ser feliz por um mês, case-se.
Se
quiser ser feliz por um ano, herde uma fortuna.
Mas,
se quiser ser feliz pela vida inteira, ajude o próximo.
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