Ao
desembarcarem em Gerasa, cidade grega que fazia parte da Palestina, conforme a
divisão administrativa estabelecida por Roma, Jesus e seus discípulos depararam
com um homem nu, esquálido, cabelos em desalinho, extremamente agitado. Morava
num cemitério, nas proximidades. Dormia nos túmulos. Dia e noite, gritava pelos
campos e montes, agredindo-se e ferindo-se com pedras. Era forte e ameaçador.
Por vezes arrebentava grilhões e cadeias com as quais o prendiam.
O
povo tinha medo dele. Por isso vivia por ali, isolado. Jesus percebeu que seu
problema era de ordem espiritual, com a influência de Espíritos. E ordenou:
– Espírito impuro, sai desse homem.
Falando
por intermédio de sua vítima, a entidade bradou:
– Que importa a mim e a ti Jesus, filho de Deus Altíssimo? Rogo-te que
não me atormentes!
Impressionante
a influência que Jesus exercia sobre os perseguidores espirituais. Sentiam sua
grandeza moral, seu poder, e logo se aquietavam, submetendo-se às suas ordens.
–
Qual é o teu nome? – perguntou Jesus.
– Legião é meu nome, porque somos muitos.
Nas proximidades pastava grande vara de porcos. Segundo o
evangelista Marcos, que gostava de dar números, seriam dois mil.
Os
Espíritos impuros imploraram a Jesus que não os expulsasse dali. Que lhes permitisse entrar naqueles porcos. O Mestre concordou. Então se deu o
inesperado:
Assustados,
os animais precipitaram-se num declive, caíram no lago e morreram afogados. Os
guarda-porcos, que tudo presenciaram, apressaram-se em informar seus patrões.
Em breve havia uma multidão no local. O desvairado homem nu, agora vestido,
mostrava-se tranquilo, em perfeito juízo, ele que fora o terror da população.
Pode parecer estranha a presença dos
porcos. Por que tantos, se os judeus eram proibidos de consumir sua carne? É
que a população da região era predominantemente pagã ou gentílica, sem
disciplinas dessa natureza. Aceitável que houvesse uma suinocultura.
E
o estouro da manada, sob influência dos Espíritos? Seriam os animais
vulneráveis à sua ação? Não tanto quanto os homens, já que não exercitam o
pensamento contínuo e, consequentemente, a possibilidade de sintonia com um
perseguidor espiritual.
Porem
podem sofrer certa pressão psíquica e até a vampirização, em que suas energias
são sugadas por Espíritos primitivos. Proprietários de animais domésticos sabem
que, não raro, apresentam problemas de saúde ou variações de humor
inexplicáveis. A origem pode estar nessa influência.
Considere-se,
porém, que os animais são controlados e conduzidos por espíritos vinculados à
Natureza, que os protegem e preservam.
O
episódio da morte dos porcos foi algo inusitado. Objetivava ressaltar os
poderes de Jesus e que os animais podem, sim, ser afetados por influências
espirituais.
Curiosa
a reação dos gerasenos. A maioria, certamente composta pelos proprietários dos
suínos, desejou que os visitantes se retirassem. Estavam assustados, talvez… Mais
provavelmente, indignados com os prejuízos ocasionados pela morte dos animais.
Seria
razoável tal procedimento? Afinal, o episódio ensejara ganhos a todos: Jesus
afastara uma legião de Espíritos impuros que perturbavam o lugar. O agressivo
doente mental não representava mais perigo, nem voltaria a amedrontar o povo.
No entanto, as pessoas pensaram no prejuízo material, sem cogitar do ganho
espiritual.
Frequentemente
incorremos nesse engano. Ficamos aborrecidos, não raro revoltados, com
determinadas situações difíceis e problemáticas que nos afligem. Tempos depois,
quando as analisamos sob perspectiva mais realista, constatamos que funcionaram
em nosso favor. Aproximaram-nos da religião, sensibilizaram nossas almas,
ajudaram-nos a superar tendências vinculadas ao imediatismo terrestre.
Foram-se
os porcos… Ficaram valores mais altos… Atendem melhor nossa condição de
Espíritos imortais em trânsito pela Terra.
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