A senhora reclamava:
–
Pois é, Chico, todos me dizem para ter paciência, paciência com isso, paciência
com aquilo… Estou cansada de ser paciente!
E
Chico:
–
Minha irmã, a paciência é um remédio que precisamos tomar todos os dias, de
preferência em jejum, pela manhã, mesmo que nos pareça não precisarmos dele.
As
virtudes evangélicas são decantadas como deveres do cristão para a edificação
de um Mundo melhor. E também como valioso investimento de bênçãos em favor de
um futuro glorioso, quando aprouver ao Senhor convocar-nos para o “outro lado”.
Geralmente
os fiéis não costumam envolver-se muito com o assunto. O esforço em favor do
próximo é desencorajado pelo egoísmo. E quanto às benesses do amanhã, na vida
espiritual, são sempre encaradas como algo remoto…
A
questão muda de figura quando cogitamos das virtudes evangélicas como exercício
indispensável ao nosso equilíbrio e bem-estar.
Exemplo
está na paciência, recomendada por Chico.
Para
um entendimento sobre o assunto, lembremos um mal disseminado na Humanidade –
os diabetes. Trata-se de um distúrbio endocrinológico provocado por uma
paralisação do pâncreas, que deixa de produzir insulina, hormônio indispensável
ao metabolismo dos carboidratos, no sangue.
O
paciente fica na obrigatoriedade de tomar insulina sintética pela vida toda,
sob pena de sofrer sérios problemas de saúde.
Algo
semelhante ocorre em relação à paciência, hormônio
espiritual que garante nossa estabilidade física e psíquica. Somos carentes
de paciência. Resultado: irritação, intranquilidade, tensão, ansiedade, que
produzem estragos, complicando relacionamentos, gerando desentendimentos e
desajustando o corpo e o Espírito, com o que acabamos abreviando a jornada
humana.
Uma
senhora comemorava os cem anos de existência, rodeada de filhos, netos,
bisnetos, tataranetos... E se tentava definir a origem de sua longevidade. Uma
neta matou a charada:
–
Vovó tem uma paciência de Jó. Nunca se aborrece, nem se exalta. Não cultiva
rancores, nem ressentimentos. Está sempre tranquila.
Certamente
sua alma, após milenares experiências, aprimorou os mecanismos de produção
natural da paciência.
Para
nós outros, carentes desse hormônio da
alma, é preciso, como ensina Chico, tomar doses de paciência diariamente, com o cultivo da reflexão,
injetando-a em nossas veias espirituais.
Anime-nos o fato de que estaremos cumprindo nossos deveres para com o próximo,
preparando um futuro melhor habilitando-nos a aproveitar integralmente as
oportunidades de edificação que Deus nos concede na experiência reencarnatória.
Vale
lembrar que, conforme relata o texto Bíblico, Jó foi um homem muito rico, pai
de muitos filhos, senhor de muitas propriedades. Tudo lhe foi tirado por
artimanhas de satanás, que queria provar a Deus que ele perderia a paciência.
Não conseguiu seu intento.
Jó,
doente e pobre, sem filhos e sem propriedades, reduzido à mais abjeta condição,
ainda assim sustentou sua proverbial paciência, pronunciando a frase célebre
(Jó, 1:21): – O Senhor o deu e o Senhor o
tomou, bendito seja o seu nome!
E
o Senhor o premiou, restituindo-lhe todos os bens, proporcionando-lhe bênçãos
de nova paternidade. Teve mais filhos, ficou mais rico. E viveu ainda cento e quarenta e oito anos!
Por
isso, leitor amigo, se cultivar a paciência, essa mesma virtude com a qual
chegou até aqui, nestas mal traçadas linhas, certamente não viverá tanto tempo como
Jó, conforme fantasiou o autor do texto bíblico, mas, sem dúvida, viverá
integralmente o tempo que o Senhor lhe concedeu para a experiência humana.
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