–
Devo dizer-lhe que estou ganhando seu dinheiro quase sem trabalhar. Uma semana
é muito pouco para retoques.
Surpreso,
ouviu a explicação do assíduo cliente:
–
Sei disso, meu amigo. Ocorre que não venho aqui apenas para cuidar dos cabelos.
Quero conversar. Você é excelente ouvinte, o melhor que já encontrei. Conto
meus casos, falo de minha vida, meus problemas… Não sabe o bem que me faz!
Notável!
O barbeiro funcionava para o cliente idoso como terapeuta, cuja eficiência
exprimia-se na rara capacidade de ouvir.
A
formação de um psicólogo, o cuidador das almas, embora nem sempre acredite que
elas existam, exige anos de estudos, pesquisas e treinamento, a fim de que se
torne um profissional habilitado e competente, mas a lição básica, simples, a
mais eficiente, resume-se em… aprender a ouvir! É meio caminho para pacificar o
cliente e definir a natureza de seus problemas.
Depois,
com leves toques, sem a pretensão de impor princípios, ajudá-lo a escolher as
melhores opções.
***
O
que seria de nós se ao orarmos não houvesse ninguém lá em cima com disposição
para nos ouvir?! Quando nossa oração, proferida com o ardor do sentimento e o
combustível da fé, eleva-se às alturas, endereçada aos poderes espirituais que
nos governam, jamais encontra ouvidos, surdos aos nossos apelos.
Se
não esquecermos o espírito de submissão aos desígnios divinos, que deve marcar
os contatos com o Céu, a resposta poderá não atender aos nossos desejos, mas
sempre nos garantirá fortaleza de ânimo e discernimento, favorecendo o mais
importante: a paz no coração.
***
Diz
Jesus, enunciando a Regra Áurea do Cristianismo (Mateus, 7:12): Tudo o que quiserdes que os homens vos
façam, fazei-o assim também a eles.
Pergunto-lhe,
caro leitor: Ao nos procurar, o que o familiar atribulado, o amigo angustiado,
o colega de serviço preocupado, o transeunte necessitado, esperam, em
princípio?
Elementar:
que favoreçamos seu desabafo. E não é só isso. Conflitos seriam evitados,
pendências seriam resolvidas, se soubéssemos ouvir o outro, com a disposição em
admitir que ele possa estar certo e que, não raro, estamos equivocados em nossa
postura.
Principalmente
no lar, as pessoas distraem-se dessa necessidade básica dos familiares: falar e
ser ouvido.
Uma
senhora tinha essa dificuldade com o marido, psicólogo às voltas com seu
trabalho, sempre atento à clientela, distraído com a família. Em casa,
prendia-se ao notebook, fazendo do
lar uma extensão do consultório, a responder e-mails que chegavam às pencas,
enviados pelos pacientes.
Você
pode imaginar o que é o drama de uma esposa que não consegue fazer-se ouvir
pelo marido? Um inferno, meu caro, para
a falante alma feminina!
Ela
reclamava inutilmente. A agenda dele estava sempre cheia. Incontáveis
correspondências monopolizavam sua atenção.
Um
dia começaram a chegar e-mails de uma senhora, cliente em potencial, que,
residindo em pequena cidade, onde não havia psicólogos, rogava sua atenção para
alguns problemas que a afligiam. Atencioso, dispôs-se a ajudá-la. Estendeu-se o
contato.
Ela sempre pedindo conselhos, falando dos
filhos, do marido, dos problemas domésticos. Ele orientando-a com a habitual
eficiência, estudioso do comportamento humano.
A
assídua correspondente sempre agradecia por sua atenção, que lhe permitia
desabafar em relação aos contratempos. Após algumas semanas e muitos e-mails
trocados, ela informou que estava com viagem para sua cidade e gostaria de
agendar uma consulta.
Assim
foi feito. No dia aprazado, quando a cliente entrou em seu gabinete, a surpresa.
A referida senhora era a esposa. Cansada
de reclamar sua atenção, solucionou o problema, via internet.
Está
aí, amável leitora, uma sugestão interessante para esposas de maridos
desatentos. Usar a internet!
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