Reunidos informalmente no lar de Custódio e Nora,
dois casais amigos, Godofredo e Zenóbia, Osório e Afonsina, companheiros de
atividades espíritas, conversam sobre temas doutrinários.
– Não há dúvida, minha gente – diz Godofredo,
convicto –, a prática do Bem é a base de um mundo melhor. Allan Kardec deixou
bem claro isso ao proclamar: “Fora da Caridade não há Salvação”. Se pensarmos
um pouco no semelhante, verificaremos quanto podemos realizar em favor da paz,
onde estivermos. A caridade é o refrigério das almas atormentadas.
A feliz definição desperta uma lembrança no
dono da casa, que se dirige à esposa:
– Benzinho, que tal um refrigerante?
Em breves instantes saboroso guaraná é
servido. O diálogo prossegue, animado. Comenta Custódio:
– As pessoas têm uma visão distorcida da
Caridade. Há quem a suponha uma contribuição mensal a obras assistenciais ou o
atendimento de um necessitado que nos procura. Parece-me, todavia, que não se
trata de um comportamento para determinadas situações e, sim, de uma atitude
perante a vida. Onde estivermos, no lar, no local de trabalho, na rua, podemos
exercitá-la, estimulando o bem onde estivermos.
E voltando-se para Nora:
– Amor, por falar em estimulo, seria ótimo um
cafezinho...
A diligente senhora atende com presteza. Em poucos
minutos delicioso aroma invade a sala. Saboreando a apreciada bebida, diz
Afonsina:
– O que dificulta a ação da Caridade é o comodismo. Estagiamos na inércia, embalados pela
indolência.
– É verdade – intervém Zenóbia – perdemos
valiosas oportunidades, furtando-nos a elementares deveres...
Suas observações são interrompidas pela
balbúrdia de crianças que entram na sala em correria. Custódio recomenda à
esposa:
– Querida, por favor, contenha a meninada...
Nora recolhe os pequenos, acomoda-os em outra
dependência da casa e retorna, a tempo de ouvir outra solicitação do marido:
– Benzinho, estão tocando a campainha...
Ela vai atender e retorna em seguida:
– Custódio, é um moço que veio buscar os
livros.
– Ah! Sim! Estão na biblioteca, num pacote
sobre a mesa.
A prestimosa senhora providencia a entrega,
enquanto o marido, enfático, argumenta com os amigos, retomando o tema em
estudo:
– O mais importante é o exemplo. Não há
melhor maneira de demonstrar as excelências da Caridade senão exercitando-a
onde estivermos.
– A esse propósito – argumenta Osório –
lembro-me de uma observação de Agostinho, em O Livro dos Espíritos, a recomendar
que analisemos nosso comportamento, ao deitar, a ver se aproveitamos as
oportunidades de fazer algo em favor do semelhante, se não faltamos ao
cumprimento de um dever, renovando-nos para o bem a cada dia que passa.
– Por falar nisso – lembra Godofredo,
sorridente, a levantar-se – é tempo de nos prepararmos para a conversa com o
travesseiro...
Os visitantes despedem-se. Pouco depois a
família recolhe-se.
Deitado, Custódio recorda Agostinho e resolve
fazer uma avaliação de seu dia. Cuidadosamente analisa seu comportamento. Até
que não fora mal, desenvolvendo com diligência a atividade profissional e ainda
encontrando tempo para, no horário de almoço, atender algumas pessoas no Centro
Espírita.
A surpresa surgiu na análise das últimas duas
horas. Por cinco vezes, sem a menor cerimônia, chamara a esposa ao cumprimento
de variados encargos, recolhido em inarredável comodismo.
Concluiu, consternado, que nas iniciativas da
caridade, que se exprimem no espírito de serviço, ele estivera muito mais para
“receber” do que para “dar”, enfronhado com a teoria, mas distanciado da
prática.
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