segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

ELEGIA À ÉTICA







“pensemos se políticos e filósofos não deveriam
se dispor à tarefa de ordenar o mundo com ideias
de imparcialidade, insubornabilidade, liberdade,
igualdade, por amor a esse sofrido contribuinte que,
por conta de seu doloroso desembolso anual
e mensal, bem merece receber em troca um
mundo moralmente ordenado.”
(Adela Cortina – Ética sem moral)


Sérgio de Alencastro Veiga Filho, bacharel em composição musical, formado pela Universidade Federal de Goiás, com inserções de abordagens do cotidiano, criou clipe musical intitulado Réquiem para a Ética. Alguns versos desse trabalho: “Brasileiro matou a ética, e nem sepultou. (...) E todas as profissões têm ética, todo bandido tem ética. (...) Brasileiro não sabe o que é ética, e até estudou.” (VEJA O CLIPE)

Quadra difícil atravessa os brasileiros, principalmente para aqueles que se preocupam com a moral e a ética. O que aprofunda o lamento é que profissionais que têm a ética como pilar sagrado das profissões, tratam em dissolvê-la. O que é mais lamentável é que os órgãos e conselhos criados para serem vigilantes da ética, adotam posturas quando não corporativas, apenas contemplativas. 

É preciso entender que não se pode ser ético pensando linearmente – “eu” ou o “outro”. O   pensamento complexo ou integrado é o grande balizador do ser ético, pois contempla o reconhecimento do outro como igual, mas na essência profundamente diferente. A ética é fundamentada em pilares dos princípios da moralidade: Justiça e solidariedade. Com a perseguição desses princípios, sairá fortalecida o sentimento de justiça, pela promulgação da a verdade e a veracidade. Sem isso, o discurso é vazio e não se obterá as mudanças que a ética contempla.

 São tantos os códigos de ética - normativas e descritivas, de meios e de fins, materiais e formais, deontológicas e teleológicas, procedimentais e substanciais, da convicção e da responsabilidade, vão configurando amplo espectro de disputas antigas e atuais, como afirma Adela Cortina, catedrática de filosofia jurídica, moral e política na Universidade de Valência Espanha. Diz ela, ainda: "Nascidas no momento em que adotam diversos métodos e em que articulam de modo diversos as categorias que permitem conceber o fenômeno da moralidade, as éticas citadas lançam propostas distintas, que se viram obrigadas, sem remédio, a entrar em disputa."

O interessante é que se elabora códigos de ética para todos os níveis de organizações, entretanto, desnecessário se fariam se apenas observassem a Regra Áurea Universal, que se perpassa nas principais religiões e filosofias de todos os tempos. Veja-se:

Bramanismo : Esta é a súmula do dever: Não faças nada a outrem que te causaria dor se fosse feito a ti. (Mahabharata 5, 1517)
Budismo: Não ofendas os outros por formas que julgarias ofensivas a ti mesmo. (Udanavarga 5,18)
Confucionismo: Existe máxima pela qual devemos reger-nos durante toda a nossa vida? Sem dúvida, é a máxima da bondade e do amor: Não faças a outrem o que querereis que eles fizesse a ti. (Anacleto 15,23)
Taoísmo: Considera o ganho do próximo como teu próprio ganho e a perda do próximo como a tua própria perda. (Tai-Shang Kan-Ing Pten)
Judaísmo: O que é odioso para ti não faças ao teu próximo. Essa é toda a Lei; todo o resto é comentário. (Talmud, Shabbat 31ª)
Cristianismo: Portanto, tudo o que vós querereis que os homens vos façam fazei-lhe também vós, porque esta é a Lei e os Profetas. (Jesus, Mt, 7:12)
Islamismo: Nenhum de vós será crente enquanto não desejar para seu irmão o que deseja para si mesmo (Sunan)
Espiritismo: Não façais aos outros o que não quereríeis que vos fosse feito, mas fazei-lhe, ao contrário, todo o bem que está em vosso poder fazer-lhes. (Allan Kardec, O E.S.E. XI:9)

Simples.
Desafiador.
Demasiadamente, simples!
Demasiadamente, desafiador!

Referências:
Cortina. Adela. Ética sem moral. Martins Fontes. Martins Fontes. São Paulo. 1990
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. EME. São Paulo. 1996
RODRIGUES, Antonio F. Antologia Popular Espírita. Mensagens dos Mestres. EME. São Paulo. 1996










5 comentários:

  1. Texto bem elaborado. Parabéns. Bom manter a memória sempre fresca com estes pensamentos.

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  2. O que é simples é justo, e ambos são as nossas maiores dificuldades. Pessoas e corporações confundem a própria imagem ao espelho. Vivemos num tempo em que o que é não importa, importa sim o que aos outros pareça ser. Agimos para mostrar que somos poderosos, ser (do verbo) humano é mero detalhe.Excelente reflexão, amigo Jorge. Roberto Caldas

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  3. Jorge, ficou ótimo seu artigo, fiquei muito feliz!!!
    Só peço para alterar na referência ao meu nome para:
    Sergim Veiga (Sérgio de Alencastro Veiga Filho)
    Tem muitos Sérgios Veigas por aí...
    Muito obrigado.
    Abraço,
    Sergim.

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    1. Olá, Sérgio,
      Alterado. Vou acompanhar o seu trabalho.
      Considerei genial. Meus netos também,
      Parabéns!

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