domingo, 19 de fevereiro de 2017

VIVEMOS NUM MUNDO MELHOR?¹



                 





                 Há perguntas que não podem calar quando observamos o caminhar desses tempos. Se por um lado é inacreditável o crescimento da tecnologia que encanta os nossos olhos, assim como a insofismável inteligência progressiva exibida pelas crianças das novas gerações, por outro lado vivemos numa redoma em que a polícia armada precisa estar nas ruas para impedir que bandidos eventuais (aqueles que aproveitam a ausência de vigilância), criem o caos no seio da sociedade. Nesse universo de tantas dúvidas, uma nos convida à reflexão: a humanidade está evoluindo ou degenerando?

            Essa questão nos leva a uma série de ponderações. Nas manifestações de desrespeito ao infortúnio da população há algo inédito? Não. A família real da França pré-revolução levava semanalmente alguns plebeus para apenas assistirem aos banquetes que servia aos convivas da coroa, em Versalhes. A falta de tolerância para discutir opiniões é fato novo? Não. A Inquisição levou centenas de pessoas às fogueiras porque ousaram ter ideias próprias. As práticas usuais da corrupção são invenções da modernidade? Não. O poder exercia fascínio e comprava os votos do senado romano em favor das benesses dos césares e em detrimento da necessidade do povo. A desigualdade entre as classes é uma doença que nasceu na atualidade? Não. A história dos vencedores bélicos é recheada de crueldades que se impunham às classes menos favorecidas, as quais se tornavam escravas e consideradas inferiores. A pusilanimidade dos homens que dirigem o destino de uma população surgiu nos últimos tempos? Não. Terá sido ficção Nero ter ateado fogo em Roma para o seu deleite?
            Os flagelos que nos surpreendem repetem os instintos de inferioridade que estão presentes em todas as épocas e em todas as civilizações. Felizmente, o que de diferente acontece são as manifestações contrárias ao mal que nos acomete, essa a grande novidade dos tempos modernos. Apesar de tamanhas desgraças que nos acontecem, e ainda são muitas, é impossível deixar-se de ver uma humanidade que pouco a pouco se levanta para se indispor contrariamente a esse estado de coisas. A reação ainda é frágil, mas paulatinamente se organiza para finalmente derrotar as ações desse contingente de deserdados do amor que ainda se comprazem com a mancha de sangue alheio nas mãos.
            A união de todos os que se propõem ao surgimento de um mundo mais justo começa em renunciar ao medo que fortalece aos maus; resistir ao desejo de vingança que nos torna iguais aos que queremos combater; adotar uma atitude de otimismo que impeça o avançar das sombras do desengano. Livremo-nos dos noticiários que pregam o revanchismo deixando de alimentar as nossas mentes com o lixo espiritual que os destruidores da paz intentam incutir em nossos pensamentos. Lembremo-nos em cada momento a quem queremos seguir, a fim de não seguirmos exatamente naquela fileira que gostaríamos de evitar. A conclamação é para todos que buscam a paz e a concórdia. O convite é para aqueles que elegeram a honestidade e a justiça como os pilares de suas vidas e que se encontram fragilizados por testemunharem a presença do poder nas mãos de uma minoria de facínoras sociais.
            Eis o que nos traz a questão 791 de O livro dos Espíritos: ”A civilização se depurará um dia, fazendo desaparecer os males que tenha produzido? — Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a inteligência. O fruto não pode vir antes da flor”.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 12.02.2017.

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