Há perguntas que não podem calar quando
observamos o caminhar desses tempos. Se por um lado é inacreditável o
crescimento da tecnologia que encanta os nossos olhos, assim como a
insofismável inteligência progressiva exibida pelas crianças das novas gerações,
por outro lado vivemos numa redoma em que a polícia armada precisa estar nas
ruas para impedir que bandidos eventuais (aqueles que aproveitam a ausência de
vigilância), criem o caos no seio da sociedade. Nesse universo de tantas
dúvidas, uma nos convida à reflexão: a humanidade está evoluindo ou
degenerando?
Essa
questão nos leva a uma série de ponderações. Nas manifestações de desrespeito
ao infortúnio da população há algo inédito? Não. A família real da França
pré-revolução levava semanalmente alguns plebeus para apenas assistirem aos
banquetes que servia aos convivas da coroa, em Versalhes. A falta de tolerância
para discutir opiniões é fato novo? Não. A Inquisição levou centenas de pessoas
às fogueiras porque ousaram ter ideias próprias. As práticas usuais da
corrupção são invenções da modernidade? Não. O poder exercia fascínio e
comprava os votos do senado romano em favor das benesses dos césares e em
detrimento da necessidade do povo. A desigualdade entre as classes é uma doença
que nasceu na atualidade? Não. A história dos vencedores bélicos é recheada de
crueldades que se impunham às classes menos favorecidas, as quais se tornavam
escravas e consideradas inferiores. A pusilanimidade dos homens que dirigem o
destino de uma população surgiu nos últimos tempos? Não. Terá sido ficção Nero
ter ateado fogo em Roma para o seu deleite?
Os
flagelos que nos surpreendem repetem os instintos de inferioridade que estão
presentes em todas as épocas e em todas as civilizações. Felizmente, o que de
diferente acontece são as manifestações contrárias ao mal que nos acomete, essa
a grande novidade dos tempos modernos. Apesar de tamanhas desgraças que nos
acontecem, e ainda são muitas, é impossível deixar-se de ver uma humanidade que
pouco a pouco se levanta para se indispor contrariamente a esse estado de
coisas. A reação ainda é frágil, mas paulatinamente se organiza para finalmente
derrotar as ações desse contingente de deserdados do amor que ainda se
comprazem com a mancha de sangue alheio nas mãos.
A
união de todos os que se propõem ao surgimento de um mundo mais justo começa em
renunciar ao medo que fortalece aos maus; resistir ao desejo de vingança que
nos torna iguais aos que queremos combater; adotar uma atitude de otimismo que
impeça o avançar das sombras do desengano. Livremo-nos dos noticiários que
pregam o revanchismo deixando de alimentar as nossas mentes com o lixo
espiritual que os destruidores da paz intentam incutir em nossos pensamentos.
Lembremo-nos em cada momento a quem queremos seguir, a fim de não seguirmos
exatamente naquela fileira que gostaríamos de evitar. A conclamação é para
todos que buscam a paz e a concórdia. O convite é para aqueles que elegeram a
honestidade e a justiça como os pilares de suas vidas e que se encontram
fragilizados por testemunharem a presença do poder nas mãos de uma minoria de
facínoras sociais.
Eis
o que nos traz a questão 791 de O livro dos Espíritos: ”A civilização se depurará um dia, fazendo desaparecer os males que
tenha produzido? — Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a
inteligência. O fruto não pode vir antes da flor”.
¹ editorial do programa Antena Espírita de
12.02.2017.
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