Nos idos de sessenta, século
passado, já eram concorridas as sessões públicas do Centro Espírita Amor e
Caridade, em Bauru. Ontem, como hoje, uma motivação básica: a procura de auxílio
para males do corpo e da alma. Embora a racionalidade que caracteriza o
Espiritismo, um contato com o Céu de pés firmes na Terra, as pessoas insistem
em ver na doutrina codificada por Allan Kardec o apelo ao sobrenatural,
sonhando prodígios em favor de sua saúde e bem-estar.
Tardam
em compreender que o melhor benefício que devemos buscar no Centro Espírita é o
esclarecimento quanto aos objetivos da jornada humana, o que estamos fazendo
neste “vale de lágrimas”, de onde viemos e para onde vamos.
A par do consolo que
oferece, o Espiritismo explica que os males que nos afligem são decorrentes de
nossas mazelas, inspiradas no velho egoísmo humano. Portanto, é preciso dar-lhe
o contra veneno: a caridade.
Embora
seja muito mais que a simples doação de algo de nossa propriedade, é a primeira
ideia que nos acode quando cogitamos em exercitá-la.
E
porque os Centros Espíritas situam-se como postos avançados nos domínios da
solidariedade, atendendo multidões de carentes, somos sempre convocados a
contribuir para a sustentação de seus abençoados serviços.
Alguns
dos apelos nesse sentido, que eu ouvia, ainda jovem, nas reuniões públicas do
CEAC, fixaram-se em minha memória, por sua bem-humorada singularidade.
–
Meus amigos – dizia o dirigente –, tudo o que puderem enviar será muito bem
aproveitado – gêneros alimentícios, eletrodomésticos, móveis, utensílios,
roupas... Pedimos, porém, encarecidamente, atentarem à utilidade do que
oferecem. Muita gente nos manda
gravatas. Para quê? Pobre não usa gravata. Só se for para enforcar-se…
Hoje,
como ontem, a Doutrina Espírita enfatiza a mesma necessidade de exercitarmos
desprendimento. É preciso contribuir para a melhoria das condições de vida de
multidões que vivem abaixo da linha da pobreza.
As
instituições já não recebem gravatas velhas, algo supérfluo na atualidade,
destinado a ocasiões cerimoniosas. Não obstante, acontece pior. Muita gente
imagina que pratica a caridade doando o que ficaria melhor no monturo.
Ao
avaliar velhos trastes, em face de faxina, reforma ou mudança, o imprestável é
piedosamente remetido às instituições filantrópicas. Se a “vítima” escolhida
conta com um serviço de recolhimento domiciliar, fica perfeito. É só telefonar
e a viatura vem buscar o entulho, evitando despesas para livrar-se dele.
É
incrível, leitor amigo, mas, infelizmente, metade das doações recebidas
constitui material imprestável! Alguns exemplos:
Vetustos aparelhos
elétricos. Ficariam bem em museus…
Roupas bolorentas e rotas.
Nem para pano de chão…
Carcomidos sapatos, sem o
par. Para pernetas?…
Medicamentos vencidos. Impulso
homicida?…
Móveis imprestáveis. Só em
cenário de bombardeio…
Colchões desconjuntados e
encardidos. Para faquires?…
Carcaças de brinquedos.
Estímulo à imaginação?…
Cereais carunchados. Coisa
de terrorista…
É só o trabalho de recolher
e jogar fora, o que demanda esforço dos voluntários e do motorista, gasto de
gasolina, tempo perdido.
Permita-me,
prezado leitor, definir uma regra básica que devemos observar quando nos
dispomos a atender aos apelos da solidariedade.
Usaríamos sem
constrangimento o que vamos doar?
Se
não serve para nós, por que haverá de servir para alguém? Se passível de
conserto ou limpeza, tomemos a iniciativa, antes de doar.
Sempre
que possível, levemos pessoalmente nosso donativo, tomando contato com a
instituição beneficiada, conhecendo seus serviços, suas carências…
Então,
sim, estaremos exercitando a caridade, o bem que praticamos quando nos
desprendemos de utilidades, deixando as inutilidades para os agentes de
limpeza.
Boa reflexão!
ResponderExcluir