No dia 11 de abril de 2017, a Justiça
britânica autorizou aos médicos desconectar, contra a vontade dos pais, o
suporte vital a Charlie Gard, um bebê de oito meses, que sofre de uma rara
doença genética. A decisão do Alto
Tribunal foi recebida com gritos de “não!” pela família, que pretendia levar o
bebê aos Estados Unidos para um tratamento experimental. No entanto, os médicos
do Hospital Great Ormond Street de Londres consideram que já é hora de que a
criança, que sofre de danos cerebrais, receba cuidados paliativos.
Os pais de Charlie Gard estão “arrasados” com
a decisão judicial, segundo sua advogada, Laura Hobey-Hamsher. O juiz Nicholas
Francis disse que tomou a decisão “com a maior das tristezas”, mas com “a
absoluta convicção” de estar fazendo o melhor para o bebê, que merece “uma
morte digna”.
Durante o julgamento, uma médica explicou que
a criança já não ouve nem se mexe, e que está sofrendo desnecessariamente.
Charlie tem uma forma de doença mitocondrial que causa o enfraquecimento
progressivo dos músculos e danos cerebrais.
O caso despertou grande interesse no Reino
Unido e seus pais, Chris Gard e Connie Yates, abriram uma campanha de
arrecadação de fundos que atingiu o 1,2 milhão de libras de que necessitavam
para levar a criança aos Estados Unidos, graças às doações de mais de 80.000 pessoas.
[1]
Temos aqui um exemplo clássico de autorização
de eutanásia? Cremos que não! – A eutanásia encerra outra característica,
lembrando que é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Apareceu,
no entanto, ultimamente a ideia de ortotanásia, defendida até mesmo por médicos
espíritas.
Muitos médicos revelam que eutanásia é
prática habitual em UTI’s do Brasil, e que apressar, sem dor ou sofrimento, a
morte de um doente incurável é ato frequente e, muitas vezes, pouco discutido
nas UTIs dos hospitais brasileiros. Apesar de a Associação de Medicina
Intensiva Brasileira negar que a eutanásia seja frequente nas UTIs, existem
aqueles que admitem razões mais práticas, como, por exemplo, a necessidade de
vaga na UTI, para alguém com chances de sobrevivência, ou a pressão, na
medicina privada, para diminuir custos.
Nos Conselhos Regionais de Medicina, a
tendência é de aceitação da eutanásia, exceto em casos esparsos de
desentendimentos entre familiares, sobre a hora de cessar os tratamentos.
Médicos e especialistas em bioética defendem, na verdade, um tipo específico de
eutanásia, a ortotanásia que é o caso acima de Charlie Gard, que seria o ato de
retirar equipamentos ou medicações, de que se servem para prolongar a vida de
um doente terminal.
Ao retirar esses suportes de vida
(equipamentos ou medicações), mantendo apenas a analgesia e tranquilizantes,
espera-se que a natureza se encarregue da morte. A eutanásia vem suscitando
controvérsias nos meios jurídicos, lembrando, no entanto, que a nossa
Constituição e o Direito Penal Brasileiro são bem claros: constitui assassínio
comum. Nas hostes médicas, sob o ponto de vista da ética da medicina, a vida é
considerada um dom sagrado e, portanto, é vedada ao médico a pretensão de ser
juiz da vida ou da morte de alguém.
A propósito, é importante deixar consignado
que a Associação Mundial de Medicina, desde 1987, na Declaração de Madrid,
considera a eutanásia como sendo um procedimento eticamente inadequado. No
aspecto moral ou religioso, sobretudo espírita, lembremos que não são poucos os
casos de pessoas desenganadas pela medicina, oficial e tradicional, que
procuram outras alternativas e logram curas espetaculares, seja através da
imposição das mãos, da fé, do magnetismo, da homeopatia ou mesmo em decorrência
de mudanças comportamentais.
Criaturas outras, com quadros clínicos de
doenças incuráveis, uma vez posto o magnetismo em atividade, também conseguem
reverter as perspectivas de uma fatalidade, com efetivas melhoras, propiciando
horizontes de otimismo para suas almas. Não cabe ao homem, em circunstância
alguma, ou sob qualquer pretexto, o direito de escolher e deliberar sobre a
vida ou a morte de seu próximo, e a eutanásia ou mesmo a ortotanásia, essa
falsa piedade, atrapalha a terapêutica divina, nos processos redentores da
reabilitação.
Nós, espíritas, sabemos que a agonia
prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode
ser, em verdade, um bem. Nem sempre conhecemos as reflexões que o Espírito pode
fazer nas convulsões da dor física e os tormentos que lhe podem ser poupados
graças a um relâmpago de arrependimento.
Dessa forma, entendamos e respeitemos a dor,
como instrutora das almas e, sem vacilações ou indagações descabidas, amparemos
quantos lhes experimentam a presença constrangedora e educativa, lembrando
sempre que a nós compete, tão-somente, o dever de servir, porquanto a Justiça,
em última instância, pertence a Deus, que distribui conosco o alívio e a
aflição, a enfermidade, a vida e a morte, no momento oportuno. O verdadeiro
cristão porta-se, sempre, em favor da manutenção da vida e com respeito aos
desígnios de Deus, buscando não só minorar os sofrimentos do próximo – sem
eutanásias/ortotanásias, claro! – Mas também confiar na justiça e na bondade
divina, até porque nos Estatutos de Deus não há espaço para injustiças.
Referência:
[1] Disponível em
http://exame.abril.com.br/mundo/contra-vontade-dos-pais-juiz-britanico-autoriza-morte-de-bebe/,
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