“Christiana, me prometa uma coisa. Aconteça o
que acontecer na sua vida, nunca pare de caminhar”, disse certa vez sua mãe,
naqueles tempos miseráveis em que ela se chamava Christiana Mara Coelho. Sua
primeira casa foi uma caverna no Parque Estadual do Biribiri, reserva natural
próxima à cidade mineira de Diamantina. A segunda, uma favela de São Paulo. Mas
quando ela tinha oito anos de idade foi levada para a Suécia pelos pais
adotivos e passou a se chamar Christina Rickardsson.
A história das duas vidas de Christina se
tornou um best-seller na cena literária da Suécia, com título dedicado às
palavras da mãe. Sluta Aldrig Gå (Nunca Pare de Caminhar), livro de estreia da
autora brasileira que já não fala o português. Junto com o livro, Christina
Rickardsson também realizou outro sonho: criar uma fundação de assistência a
crianças carentes no Brasil, a Coelho Growth Foundation. A fundação já
desenvolve projetos de assistência a crianças em uma creche e dois orfanatos de
São Paulo – incluindo aquele onde Christina viveu. A autora conta que também
iniciou um projeto de colaboração com as favelas de Heliópolis, em São Paulo, e
do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. [1]
Certa vez um amigo enunciou a seguinte citação:
“o que é o destino, senão um gigante que achincalha nanicos seres como nós.”.
Avaliando a história de Rickardsson podemos falar de “destino”, “carma” e
“livre arbítrio”, não necessariamente nessa sequência.
A existência do destino supõe que nada acontece
por acaso, mas que tudo tem uma causa predeterminada, isto é, os acontecimentos
não surgem do nada, mas sim dessa força desconhecida. A corrente filosófica do
determinismo defende que todos os pensamentos e todas as ações humanas se
encontram causalmente determinados por uma cadeia de causa e consequência. Para
o determinismo radical, não existe nenhum acontecimento que seja por acaso ou
coincidência, ao passo que o determinismo flexível sustenta que existe uma
correlação entre o presente e o futuro, submetida à influência de eventos
aleatórios.
A expressão “carma” não é citada por Kardec, ou
pelos espíritos comunicantes das obras básicas. Todavia, como sinônimo de ação
e reação, a cada nova existência o homem experimentará novos desafios,
inexoravelmente, até atingir a perfeição.
Para muitas religiões, o destino é um plano
criado por Deus que não pode ser alterado pelos seres humanos. O Espiritismo,
por sua vez, não advoga que exista uma predestinação absoluta e defende que
Deus dotou o homem do livre arbítrio (o poder para tomar as suas próprias
decisões). Nossa ponderação é no sentido de amoldarmos o conceito destino,
retirando-lhe os conteúdos deterministas, para uma visão larga e
transcendental, mais apropriada com os aspectos educativos e retificadores da
reencarnação.
Na questão 132 de O Livro dos Espíritos, o
Codificador interroga sobre qual seria o objetivo da encarnação. Os Espíritos
explicam que “A lei de Deus impõe a encarnação com o objetivo de fazer-nos
chegar à perfeição…”. Ainda com relação ao destino, utilizado como sinônimo de
“fatalidade”, Kardec pergunta aos espíritos, no item nº 851: “Haverá fatalidade
nos acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa palavra, ou
seja, todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como fica o
livre-arbítrio?” Os Benfeitores aclaram o tema elucidando – A fatalidade existe
apenas na escolha que o Espírito faz ao encarnar e suportar esta ou aquela
prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria
consequência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falo das
provas de natureza física porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o
Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre
senhor para ceder ou resistir …”. [2]
Christina Rickardsson, após ser adotada,
escolheu seu rumo de vida. A liberdade de escolher nosso próprio destino, todos
os dias, torna-se o diferencial entre o gênero humano e os animais inferiores,
que ainda não podem discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado, o moral
e o imoral. Evoluir é o nosso destino, como evoluir, pelo conhecimento ou
através da dor, é sempre uma questão de escolha.
O que não podemos mudar são os fatos principais
da nossa reencarnação, os quais traçamos juntamente com nossos “padrinhos”
espirituais, no momento da escolha da vida que merecemos e precisamos ter. “A
cada um será dado segundo suas obras”. No mundo espiritual, no intervalo das
reencarnações, escolhemos, consciente ou inconscientemente, o gênero de provas,
de acordo com nossas necessidades e possibilidades adquiridas pela conduta.
Entretanto, ao reencarnarmos, não ficamos
escravos desse modo de vida, uma vez que as particularidades correm por nossa
conta. A todo instante, podemos escolher a atitude a tomar, como disseram as
Entidades Sublimadas: “Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe
deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes
tiveram. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do
bem, como o do mal”. [3] Rickardsson optou pelo caminho sensato, pois que percebeu
que como ela existem irmãos necessitados do amparo para orientar a tomada de
melhores decisões, que estão sim ao nosso alcance, e que uma vez que
enxerguemos esse propósito, naturalmente estaremos cumprindo o real sentido da
vida, e fazendo o bom uso de nossa oportunidade do livre arbítrio.
Referências
bibliográficas:
[1] Disponível em
http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39203681 acesso 23/o4/2017
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ:
Ed. FEB, 2002, per. 132 e 851
[3] idem questão 258
fonte: http://aluznamente.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário