Ele, cerveja bem gelada. Ela, suco
de laranja natural.
Guardavam silêncio. Não era aquela
quietude tranquila, sem constrangimento, nascida da intimidade, mera pausa na
conversação. Situava-se como o silêncio de cônjuges que perderam o gosto pela
conversa, relacionamento desgastado.
Em dado momento ele murmurou, carinhoso:
– Eu te amo!
Ela o contemplou atônita,
surpreendida. Há séculos o marido não
lhe falava assim! Seria efeito do álcool?
Exprimiu sua dúvida, perguntando:
– É você quem está falando ou a
cerveja?
E ele:
– Estou falando com a cerveja.
Bem, caro leitor, não sei se ela
quebrou a garrafa na cabeça do infeliz ou simplesmente procurou o advogado para
pedir divórcio… Não obstante, esse episódio sugere algumas ponderações sobre a
vida conjugal.
Aprendemos com o Espiritismo que
geralmente os casamentos são planejados na Espiritualidade pelos próprios
cônjuges ou seus mentores.
Os objetivos são variados, mas
basicamente atendem à necessidade de desfazer aversões ou consolidar afeições,
decorrentes de relacionamentos passados, num empenho de harmonização, o que nem
sempre acontece. Na atualidade cresce sempre o número de divórcios, porque acabou
a afeição ou recrudesceu a aversão.
Isso costuma acontecer mesmo entre
os casais que permanecem juntos, dispostos a suportarem-se por amor aos filhos ou respeito à religião. Diz o
espírita:
– Já que é meu compromisso cármico,
carregarei essa cruz até o fim de nossos dias. Depois, na vida espiritual, será
cada um por si! Praza aos céus não nos vejamos nunca mais! Quero esquecer que
estivemos juntos!
Quem age assim provavelmente
reencontrará o cônjuge em futura reencarnação. Viverão nova experiência em
comum, porquanto não foi cumprida uma das finalidades básicas do matrimônio: a
harmonização das almas, em convivência pacífica.
Em favor desse objetivo há um
recurso indispensável: o cultivo do diálogo, a disposição de conversar, trocar
ideias, exercitar os miolos, abrir o coração…
Um homem culto e inteligente
apaixonou-se por linda jovem. Sentindo-se correspondido, pretendeu pedi-la em
casamento, porém não usou a fórmula tradicional:
– Você me daria a honra de ser minha
esposa?
Disse-lhe, simplesmente:
– Você gostaria de passar os
próximos quarenta anos a conversar comigo?
Eis a base do casamento perfeito:
longa conversa, a estender-se vida afora. Pode o tempo passar, a paixão
esgotar-se, a beleza física desfazer-se, mas, se o diálogo permanece, o amor
fica.
Um amigo dizia:
– Não ocorre o contrário? Cessa o
diálogo porque o amor foi embora?
Está confundindo amor com paixão. Se
o casamento foi baseado na paixão, na atração física, o diálogo acaba quando se
esgota o desejo. Isso acontece frequentemente na atualidade, de liberdade
sexual confundida com libertinagem, de namoros que começam no motel.
Diálogos francos, abertos, aquele desvelar a alma, representam a poção
mágica para uma união amigável e perfeita, com pleno entendimento entre os
cônjuges.
Naturalmente, diálogos civilizados,
de respeito mútuo, jamais resvalando para a lamentável pancadaria verbal,
quando as pessoas põem-se a gritar e a ofender, conturbando a vida conjugal.
Diálogos bem-humorados, sinceros,
amigos, de tal forma que sempre haverá assunto, e quando o marido disser eu te amo a esposa saberá que ele não
está falando com a cerveja.
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