O pregador anunciou:
– Meus queridos companheiros de
ideal, tenho três notícias. A primeira é ruim. Diz respeito a algo que todos já
notaram: nosso templo está em péssimas condições. Necessita de uma reforma.
– Oh! …
– A segunda é boa: temos o dinheiro!
– Ah! …
– A terceira pode ser ruim ou boa.
Depende de cada um. O dinheiro está no bolso de vocês!
– Ui! …
Essa pitoresca história ajusta-se com
perfeição às lides espíritas: há dinheiro para sustentar e dinamizar os Centros
Espíritas, em reformas e ampliação de serviços. Existe um probleminha: o dinheiro está preso no bolso dos frequentadores.
Geralmente as pessoas oferecem
sobras. Justamente por isso muitos não contribuem. É que, segundo seus
programas, há sempre compromissos
inadiáveis que absorvem as disponibilidades.
– Estou reformando minha casa...
– Viajarei de férias...
– Troquei de automóvel...
– Ampliei meus negócios...
– Fiz investimentos...
– Meu filho entrou na faculdade...
– Há gente doente em casa...
Oportuno lembrar a passagem
evangélica da viúva pobre, em Lucas, 21:1-4: Olhando, Jesus viu os ricos lançarem as suas ofertas no gazofilácio, onde
eram depositadas as oferendas]
Viu
também uma viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas. E disse: – Em verdade
vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Todos estes deram como
oferta daquilo que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu todo o sustento
que tinha.
A observação do Mestre é de clareza
meridiana. Enquanto nossas contribuições girarem em torno de sobras, pouco
faremos, porquanto na contabilidade dos interesses particulares sempre falta o
necessário. Mesmo generosos saldos credores são registrados como reserva
técnica para atender a problemas
eventuais. Resultado – nunca sobra nada.
A experiência demonstra que quando
superamos essa tendência e nos dispomos a contribuir generosamente, somos
recompensados com bênçãos que o dinheiro não pode comprar.
Lembro-me de um amigo, comprometido
com a usura. Para desespero seu, gastava muito com problemas de saúde, pessoais
e familiares. Nunca tinha disponibilidades a oferecer, sempre temeroso de lhe
faltarem recursos para atender aos males que se sucediam.
Um dia criou coragem, livrou-se do
caranguejo (as pessoas apegadas parecem
ter o crustáceo no bolso, guardando seu dinheiro). Timidamente em princípio,
começou a usar os seus haveres para atender às carências alheias. Para sua
surpresa, quanto mais oferecia, menos gastava com médicos e remédios.
Uma boa troca. Poderíamos, em favor
dessa tese, lembrar que: quem dá aos pobres empresta a Deus.
Considerando que, em última
instância, tudo pertence a Deus, somos apenas depositários do dinheiro que
amoedamos. A mordomia justa e perfeita será sempre aquela que nos leva a
atender os filhos de Deus com seu próprio dinheiro, transitoriamente confiado à
nossa administração.
Vale lembrar, a esse propósito, o
célebre conto de Tagore, em que um aldeão, procurado pelo Senhor da Vida,
deu-lhe apenas uma batata das muitas que trazia em seu alforje.
Depois, em casa, constatou que no
lugar da batata doada estava magnífico brilhante. E lamentou o parcimonioso
doador:
– Tolo que fui! Deveria oferecido
todas as batatas ao Senhor da Vida!
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