Três
velhinhas tomavam o chá da tarde.
Preocupada,
ponderava uma delas:
–
Minhas queridas, creio que estou ficando esclerosada. Ontem
me vi com
a vassoura na mão
e não me lembrava se varrera a casa ou não.
–
Isso não
é nada, minha
filha – comentou a segunda
–, noutro dia, de camisola
ao lado da cama,
eu não
sabia se tinha acabado
de acordar ou
se me preparava para
dormir.
–
Cruzes! – espantou-se a terceira. – Deus
me livre
de ficar assim!
E
deu três pancadas
na mesa, com
o nó dos dedos,
toc-toc-toc, enfatizando:
–
Isola!
Logo
emendou:
–
Esperem um pouco.
Já volto. Tem gente
batendo na porta!
Pois
é, leitor amigo,
parece que velhice é sinônimo de memória fraca,
raciocínio lento,
confusão mental…
Sabemos
que a evocação
do passado e o registro
do presente dependem das conexões
entre os neurônios,
as chamadas sinapses. Há uma perda de ambos com o passar do tempo. O cérebro
também envelhece. Mas,
e o Espírito?
Não
reside no ser pensante,
imortal, a sede
da memória? Não está o Espírito isento
de degeneração celular?
Obviamente, sim!
Ocorre
que, enquanto
encarnados, dependemos do corpo para as inserções
mnemônicas na dimensão física, tanto quanto o pianista
depende do piano ou
o orador depende das cordas
vocais.
Uma
das razões pelas quais
não temos consciência
das vidas anteriores
é a ausência de registros
relacionados com elas
em nosso
cérebro. Pelo
mesmo motivo, temos dificuldade
para lembrar as experiências extracorpóreas, durante
as horas de sono,
na emancipação da Alma,
como define Allan Kardec.
Natural,
portanto, que
tudo o que
afeta a massa cinzenta, perturbe a memória – acidentes,
concussões cerebrais,
distúrbios circulatórios, doenças degenerativas, envelhecimento...
Sabe-se hoje
que é possível
prolongar o viço,
cultivando existência saudável – ginástica, alimentação adequada, disciplina
de trabalho e repouso,
ausência de vícios…
Da
mesma forma,
podemos conservar a acuidade mental, desde que nos disponhamos
a exercitar os miolos. Todo labor
intelectual, que
implica em movimentação
dos neurônios, é salutar.
Neste
aspecto, os pesquisadores têm valorizado
a leitura. A concentração
exigida, quando lemos, é um exercício prodigioso para o cérebro.
A experiência
demonstra: as pessoas que cultivam o hábito de ler chegam mais longe com lucidez,
preservam a memória, não obstante o avançar dos anos. Sem
movimentar os neurônios a velhice perde-se em sombras.
É preciso conservar a vivacidade, o
ideal de aprender, de desdobrar experiências,
considerando que sempre
é possível ampliar
horizontes, fazer
novas aquisições.
Alguém
poderia contestar, afirmando que seria pura perda de tempo na idade provecta,
em contagem regressiva para vestirmos o pijama
de madeira e nos transferirmos para a cidade
dos pés juntos. Ocorre que lá ficarão apenas nossos despojos carnais. Espíritos imortais, habitaremos outros
planos do infinito.
Portanto,
nenhum aprendizado será ocioso. Um
velhinho de oitenta anos propôs-se a tocar piano. O professor alertou:
–
Estudo longo
e cansativo. Pela
ordem natural,
o senhor não
usufruirá desse aprendizado.
E ele,
animado:
– De forma
alguma! Se não der para
tocar aqui,
serei pianista no Além!
Certíssimo! É assim
que crescemos espiritualmente
e mantemos “azeitadas” as engrenagens da
mente, para que nunca nos falte esse élan que
valoriza e torna feliz
a existência, promovendo nossa evolução.
Praza aos céus
seja essa a marca de nossos dias.
Toc-toc-toc!
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