É possível que a maioria das pessoas tenha
dificuldade em ver-se nessa realidade, mas é desafiador refletir a respeito
disso: somos seres condicionados. Haverá certamente controvérsias e desagrados
por parte de muitos, afinal buscamos defender a possibilidade de autonomia e
liberdade naquilo que realizamos. Ainda aí, até mesmo esse senso que defendemos
é uma proposta com a qual nos condicionamos.
A
explicação não é tão complexa, sem que se busque para a mesma uma aceitação
unânime. Precisamos estabelecer princípios se quisermos viver de forma
harmônica com nossa proposta de vida. Princípios são aqui referidos como um
conjunto de normas que estabelecem a sucessão de medidas e atitudes a serem
adotadas em situações que eclodem a todo o tempo. Consignam-se, então os
princípios como sendo as diretrizes que formam os trilhos de uma existência.
Quem anda em trilhos são os trens, essa uma afirmação comum. O que sucede se um
trem resolve, por cansado que esteja dos trilhos, deslocar-se em um jardim? O
jardim por mais belo que seja não é local de deslocamento de trens, não é
mesmo?
Sucede
que numa época como a nossa, onde as pessoas vivem fugindo de estigmas, o
moderno é se apresentar maleável, moldável, sem opinião formada, enquanto se
joga no fosso da radicalidade aqueles que possuem um conjunto de princípios que
norteiam as suas vidas, incluindo aí tantos que não desejam impor a terceiros
as suas opiniões. Esquecemos que ser radical não é ter certezas quanto às
próprias escolhas, mas sim querer intervir impondo as suas idéias à vida dos
outros. Ao mesmo tempo em que ser maleável, reflexivo ou livre pensador não
significa ter uma mente flutuante que julga que todas as coisas podem ter o
mesmo peso e gravidade sob a alegada relatividade que impera no nosso mundo das
formas.
Definir
princípios não significa desconhecer realidades que transitam fora do núcleo
selecionado, mas compromete a pessoa com o conjunto de ideias definidas, as
quais se prevê o dever de respeito e defesa, sem a necessidade de agredir a
quem não lhe seja simpático justamente por abraçar outros princípios. Forçoso,
contudo que todas as pessoas questionem em suas atitudes quais os seus princípios
norteadores, sem o receio de sentir-se radical ou menos moderno, pois ao
contrário o risco que se corre é o de viver sob uma contínua tempestade de
valores que denota fragilidade de caráter.
Há
terrenos, sobretudo aqueles que definem a defesa da vida, nos quais não podemos
abrir concessões. A certeza da imortalidade não pode conferir razão para que se
aceite o assassínio. O vislumbre da Justiça divina não dá espaço para se
aplaudir a injustiça social. Saber da correção das leis universais não permite
paciência com o ultraje à lei humana. Entender o chamado à honestidade jamais
acobertará a mentira oportunista sob quaisquer motivos.
Independente de julgamentos possíveis é preciso
saber qual o condicionamento se quer alimentar, sem chances para tergiversações,
pois condicionados somos todos. Jesus vaticinou (Mateus VI; 24) “... vocês não
podem servir a Deus e a Mamon”. Temos princípios, logo temos trilhos. Não é
permitido ao trem querer dar uma voltinha no jardim, e Jesus muito bem nos
chamou a atenção (Mateus V; 37): seja o teu falar, sim sim, não não.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 11.06.2017
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