O mundo real é um aguilhão que nos propõe
intensa vigília e resguardo de opiniões e atitudes. Constitui-se no aglomerado
de compromissos que seguem os rígidos modelos que alicerçam a nossa vida social
com toda a sua gama de leis com o estabelecimento de direitos e deveres
norteadores. Mergulhados nesse cenário de realidades é natural que, por parte
dos descontentes com esse contexto, se aspire outras possibilidades que
democratizem as oportunidades e se estabeleça a meritocracia como elementos de
apaziguamento social.
Considerada,
no entanto, a categoria que ocupa o nosso orbe na hierarquia espiritual dos
mundos – o estágio de Expiação e Provas. Conforme afirma Santo Agostinho (Evg
2do espiritismo, cap III, item 2) “A Terra nos oferece, pois, um dos tipos de
mundos expiatórios, em que as variedades são infinitas, mas têm por caráter
comum servirem de lugar de exílio para os Espíritos rebeldes à lei de Deus”.
Fica muito claro que a mudança que se pretende não haverá de brotar do solo
como um passe de mágica. Os habitantes do planeta além de “rebeldes à lei de
Deus” ainda rasgam as constituições sociais que eles mesmos produziram com a
finalidade de abrirem uma proteção aos seus anseios inferiores.
É
nesse colchão de dificuldades que o espírito encarnado na Terra, mormente
aqueles que desistiram de legislar e articular apenas em causa própria, buscam
nas ideias de Platão ( 427 – 347 a.C.) e Thomas More (1478-1535) substratos
para avançarem em direção de projetos que nos aproximem dos ideais platônicos e
utópicos referendados em épocas tão diferentes por esses pensadores, cujas
maiores repercussões se dão no campo do reconhecimento de um estado de direito,
no qual o bem estar se encontra no centro das decisões e realizações da
sociedade idealizada. As informações que nos trazem aqueles filósofos são
referendadas por Agostinho em O Evangelho segundo o Espiritismo quando relata
as possibilidades futuras de evolução de nossa casa planetária, na escala dos
mundos: “mundos regeneradores, onde as almas que ainda têm o que expiar adquirem
novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos felizes, onde o bem supera
o mal; mundos celestes ou divinos, morada dos Espíritos purificados, onde o bem
reina sem mistura”.
As
mudanças e revoluções que haverão de nos conduzir a esse desiderato não é algo
que dependa exclusivamente das forças invisíveis que nos acompanham. Nada se
alcançará sem que o Espírito encarnado se comprometa visceralmente com as
transformações que enseja para o mundo. Julgar que se tornar melhor é algo que
compete ao outro realizar não é utópico ou platônico, é mentiroso, apenas
dissimulação. Compreender que podemos e devemos sair do conforto pessoal para
defender ideias que tornem o bem estar uma condição de domínio público é o
mínimo que se espera de alguém honesto com as suas possibilidades de
crescimento espiritual. Crescer na Terra é contribuir para a Terra crescer na
sua qualidade de planeta, sem a pretensão de carregar o mundo nas costas, mas
abrindo a mente para uma atitude que rejeita a desigualdade e as injustiças.
Ser
platônico ou utópico é um passo para se tornar cristão, na essência da palavra,
alguém que segue a Jesus. Aquele que governa os destinos da Terra e não
descansará até que os seus habitantes também a possuam, por terem se tornado
“mansos de coração”.
Editorial do programa Antena Espírita de
04.06.2017.
Caro Caldas,
ResponderExcluirInspiradíssimo, requintado e direto seu editorial. Dizer mais o quê? Parabéns, é o que me resta dizer!