É mais
eficiente dez pessoas fazerem algo por uma, ou uma pessoa fazer por dez? Eis aí
uma pergunta de resposta fácil, por menor que seja o senso de quem responde.
Está consagrado que a união faz a força e se a equipe assume eventual baixa
pessoal é possível permanecer na progressão que todos desejam. O complicado é
quando nove desfazem para apenas um fazer. Nesse caso o caos e as controvérsias
vão surgir como cenário de convivência.
As considerações servem para o mundo
dos relacionamentos materiais, mas se aplicam também aos propósitos da
existência que extrapola à existência única. Ambas as perspectivas revelam que
não há osso sem filé tampouco o filé independente do osso. Se alguém está
provando do filé é provável que já tenha roído ou roerá o osso. Se ao contrário
experimenta a dureza do osso certamente terá comido ou comerá o filé.
Na
existência corporal pode até ser que alguns espertos avancem sobre o filé
considerando que o osso cabe apenas aos outros, são aqueles que se assomam de
qualidades que alimentam a ambição e o egoísmo principalmente, e costumam
julgar as suas necessidades e vontades acima de todos que estejam ao lado.
Esses costumam quebrar sem consertar, desarrumar e deixar quieto, ocupar espaços
deixando outros à míngua. São os espertos. Usam a falsa premissa de privilégios
que não conquistaram, apenas impõem a sua preguiça e falta de generosidade para
cooperar com o espaço em que vivem. Podem até viver assim todo o tempo e
levarem consigo a ideia que se deram bem. Passaram à filé enquanto distribuíam
os ossos àqueles que os acompanhavam de forma obsequiosa.
Na
existência espiritual, no entanto as coisas não se passam de forma tão
superficial. Lá osso é osso, filé é filé. Tem que merecer. Não adianta negar-se
e fechar os olhos, a consciência continua vendo e sendo vista. Cada um vai
habitar o espaço que conquistou. Os cúmplices vão criar o ambiente mental
compatível à vibração que criaram, da mesma forma os amigos. Constatar os
enganos que a existência no corpo permitiu, depois de passada a sensação de
frustração e desvalia, traz a necessidade de elaboração de novas metas para uma
próxima encarnação. Se houver comido antecipado todo o filé precisa aceitar os
quilos de osso que se negou a roer sob a pretensa ilusão de que cabia aos
outros essa parte. Se houver experienciado o sabor da dureza do osso com a
tranquila disposição de quem aguarda de forma otimista o abraço com a lei de
retorno, dessa vez poderá provar do sabor do filé.
Importa
que não haja enganos. Cada um faz para si, até mesmo aquilo que julgue fazer ao
outro. Afinal de contas é na convivência que aprendemos os caminhos da evolução
íntima. Não há cobrança externa que seja mais eficaz que o assédio da
consciência, espaço de vivência individual impossível de ser invadido, certamente
a maior das fortalezas. É nessa consciência que operamos na construção de cada
dia e em consequência na elaboração de cada passo, cuja multiplicação projeta o
caminho em que seguimos. Resta-nos a sabedoria de dosar o osso com o filé,
cientes de que não é sem custo que cada situação nos alcança. Provavelmente
terá sido por isso que Jesus nos ensinava que o riso e o choro têm uma
significação importante na preparação do Reino de Deus. Rir e chorar, tudo faz
parte, são o osso e o filé que tratamos aqui. Como é que estamos cultivando
essas possibilidades em nossas vidas?
¹ editorial do programa Antena Espírita de 25.06.2017
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