Um dos mais famosos filósofos gregos foi Protágoras (480-410 a.C.), de cujas ideias
temos apenas fragmentos,
com destaque para a frase famosa: O Homem
é a medida de todas as coisas.
Concepção perturbadora. Significa que
o bem e o mal,
o certo e o errado, a moralidade e a imoralidade,
tudo que
envolva a sociedade humana,
só pode ser
conduzido em relação
aos interesses e necessidades
do Homem, atendendo aos tempos e aos costumes,
de acordo com
suas conveniências.
Só é
admissível o conhecimento que se possa assimilar mediante os sentidos
físicos, pondo em
dúvida, portanto,
princípios como
a imortalidade da alma,
a vida além-túmulo,
a presença de Deus…
Indagado sobre a existência dos deuses,
enfatizava: Nada posso dizer de concreto. São muitas as coisas
que ocultam o saber:
a obscuridade do assunto
e a brevidade da vida
humana.
Aplicadas ao cotidiano, essas
ideias induzem a uma concepção utilitária e imediatista
da existência, sem
cogitações superiores. Na verdade,
mesmo sem
conhecer o sábio
grego, o homem
comum tende a viver
dessa forma, orientando suas
iniciativas em
torno de seus
interesses. Ainda
que concebendo a existência
de um ser superior, que tudo vê, não tem grandes
preocupações com
isso.
É ele
sempre a medida
das próprias ações. Em
tudo o que
faz, prevalecem seus desejos, sob inspiração do egocentrismo
que lhe
marca as aspirações
e atividades, pretendendo que a vida gire
em torno
de seus desejos.
Quando
ligado à religião, dificilmente
ultrapassa as águas da superficialidade, interessado em
garantir seu
bem-estar, na medida
de suas necessidades,
sem nenhuma preocupação
em observar
as medidas de sua
crença.
O conceito
de Protágoras é derrubado pela Doutrina Espírita, que desdobra para nós a vida espiritual, com
testemunhos e experiências
daqueles que partiram.
Fossem os princípios
espíritas mera
questão de fé
e continuaríamos sujeitos à mesma medida – nós mesmos –,
dispostos a aplicá-los de conformidade com nossas conveniências.
Ocorre que
o enfoque espírita
é o da razão, desdobrando-nos realidades que
transcendem as limitações dos sentidos. Então,
o apelo espírita
deixa de ser
uma questão de crença,
condicionada à aceitação, e passa
a ser um imperativo do conhecimento,
orientado pela razão.
O reconhecimento das realidades espirituais
impõe mudanças também nas medidas que
utilizamos na vida de relação, convocados a superar
mesquinhos interesses
particulares, em
favor de nobres
ideais.
Um aspecto importante:
A tendência arraigada no espírito humano,
de julgar o comportamento
alheio, usando por
medida nossas próprias mazelas. Diz Jesus (Lucas, 6:37-38):
Não
julgueis, para não serdes julgados, não condeneis, para não serdes condenados;
perdoai, e vos será perdoado. Dai, e
vos será dado; será derramada no vosso regaço boa medida, calcada, sacudida,
transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis medidos também.
O que vemos nos outros é, geralmente, o que
há em nós.
Jesus enfatiza que isso
nos causará problemas,
quando convocados a prestar
contas de nossas ações
diante da justiça
divina.
Com
o Espiritismo temos ilustrações
perfeitas sobre o assunto,
a partir do intercâmbio
com o Além. Observamos, compadecidos, a situação daqueles que
assim o fizeram durante
a jornada humana.
Sofridos e atormentados, é como se
advertissem:
– Cuidado.
Alimento-me de amargos frutos que você também colherá,
se não mudar
a medida de suas
ações…
Superada a máxima de Protágoras pela
revelação espírita,
que transcende os acanhados
sentidos físicos,
uma providência se impõe à nossa
iniciativa: Utilizar
a régua
evangélica, insistentemente
enfatizada nas abordagens doutrinárias.
Ela nos permite identificar a gloriosa presença de Deus no Universo,
e avaliar a precariedade e o perigo de nossas medições quando
apreciamos a vida e o próximo
com a métrica de nossas fragilidades.
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