Geraldo sofrera enfarte devastador. O
coração comprometido funcionava precariamente,
sobrecarregando os demais órgãos vitais.
Após estagiar algumas semanas no hospital, os
médicos atenderam seu insistente apelo, permitindo que retornasse
ao aconchego do lar. Que morresse em paz junto à família, porquanto
não restava nada
a fazer. O problema era irreversível. O desenlace
ocorreria a qualquer momento.
Geraldo pensava diferente. Quase agonizante,
apegava-se à existência física, incapaz de perceber a
gravidade de seu estado e sua condição terminal. Tinha medo.
Recusava aceitar a proximidade da grande transição. Afinal, tinha apenas
cinquenta anos, com muito tempo pela frente!...
Por outro lado, os membros do agrupamento doméstico,
particularmente Genolina, sua mãe, e a esposa Rute, contrapunham a fé ao
sombrio prognóstico médico e se revezavam em longas vigílias junto
ao doente, a repetir intermináveis orações em favor de sonhada recuperação.
Não obstante os esforços da heroica brigada da
vida, a morte rondava, ameaçadora. Geraldo definhava. Parecia
milagre o coração destrambelhado a sustentar a circulação
sanguínea. Esperava-se mais que isso: o milagre da recuperação!
Rute
recordou-se de Márcio, um vizinho espírita conhecido como eficiente médium de
curas. Os passes magnéticos que aplicava operavam prodígios!
Foi solicitada sua presença. O dedicado servidor do Bem
atendeu prontamente. Foi recebido com renovadas esperanças. Genolina
interpretou o sentimento geral:
—
Agradecemos a Deus por sua presença. Confiamos em seus poderes
espirituais. Temos certeza de que Geraldo será beneficiado!...
O
visitante observou atentamente o doente, percebendo sua precária
situação física. Benfeitores espirituais que o assistiam em suas
tarefas transmitiram-lhe orientação precisa pelos canais da
intuição. Voltando-se para a anciã que esperava, ansiosa,
respondeu, humilde:
—
Tenhamos confiança em Deus. Tudo será feito segundo a Sua Vontade.
Peço agora que me deixem a sós com o paciente por alguns minutos.
Esvaziou-se o quarto. A porta foi fechada. Márcio orou, contrito, exorando a proteção
do Céu. Amparado por médicos
do Além, efetuou a transfusão magnética, após o que falou ao moribundo:
— Geraldo,
meu irmão, você está no final da jornada
humana. Espíritos amigos aguardam, há dias, que supere suas vacilações. Considere sua posição de espírito imortal de retorno à pátria comum, onde somos
mais livres, mais
conscientes, mais felizes, sem as limitações
da matéria. Ore muito e confie em Jesus, lembrando o salmista: O Senhor é o meu Pastor,
nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos,
guia-me mansamente a águas muito tranquilas, refrigera
minha alma, guia-me nas veredas da justiça por
amor do Seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale
das sombras da morte, não temeria mal algum, porque
Tu estás comigo...
O cérebro físico em colapso não fixava ao
nível da consciência humana a
exortação, mas o Espírito vacilante
e assustado, saído do torpor e revigorado pelo passe, ouviu o apelo e se
encorajou.
— Então, o que achou? Vai sarar? — perguntou, esperançosa, Rute, tão logo Márcio
deixou o quarto.
— Nosso Geraldo está muito bem amparado — respondeu humilde, o médium. — Quanto à sua recuperação é assunto de Deus. Insisto que
confiemos no Senhor. Agora,
é preciso suspender a vigília. Peço que todos durmam em paz,
particularmente nossas irmãs, que estão exaustas. O enfermeiro
ficará de plantão.
Márcio despediu-se das duas mulheres que, aliviadas,
entregaram-se ao repouso. Nessa mesma noite, amparado pela Espiritualidade,
Geraldo desencarnou, segundo a vontade de Deus.
* * *
Agonias
e sofrimentos exacerbados no momento da morte decorrem do
apego do desencarnante à vida física, somado ao desespero de familiares que se
recusam a admitir a separação.
Quando há confiança em Deus, fica mais
fácil, porquanto os desígnios do Senhor são sábios e
justos, mesmo quando contrariam nossos desejos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário