quarta-feira, 19 de julho de 2017

SEGUNDO A VONTADE DE DEUS




 


Geraldo sofrera enfarte devastador. O cora­ção comprometido funcionava precariamente, sobrecarregando os demais órgãos vitais.
Após estagiar algumas semanas no hospital, os médicos atenderam seu insistente apelo, permi­tindo que retornasse ao aconchego do lar. Que mor­resse em paz junto à família, porquanto não restava nada a fazer. O problema era irreversível. O de­senlace ocorreria a qualquer momento.

Geraldo pensava diferente. Quase agonizan­te, apegava-se à existência física, incapaz de perceber a gravidade de seu estado e sua condição terminal. Tinha medo. Recusava acei­tar a proximidade da grande transição. Afinal, tinha apenas cinquenta anos, com muito tempo pela fren­te!...
 Por outro lado, os membros do agrupamento doméstico, particularmente Genolina, sua mãe, e a esposa Rute, contrapunham a fé ao sombrio prog­nóstico médico e se revezavam em longas vigílias junto ao doente, a repetir intermináveis orações em favor de sonhada recuperação.
Não obstante os esforços da heroica brigada da vida, a morte rondava, ameaçadora. Geraldo de­finhava. Parecia milagre o coração destrambelhado a sustentar a circulação sanguínea. Esperava-se mais que isso: o milagre da recuperação!
Rute recordou-se de Márcio, um vizinho espí­rita conhecido como eficiente médium de curas. Os passes magnéticos que aplicava operavam prodí­gios! Foi solicitada sua presença. O dedicado servidor do Bem atendeu prontamente. Foi recebido com reno­vadas esperanças. Genolina interpretou o sentimen­to geral:
— Agradecemos a Deus por sua presença. Confiamos em seus poderes espirituais. Temos cer­teza de que Geraldo será beneficiado!...
O visitante observou atentamente o doente, percebendo sua precária situação física. Benfeitores espirituais que o assistiam em suas tarefas transmi­tiram-lhe orientação precisa pelos canais da intui­ção. Voltando-se para a anciã que esperava, ansio­sa, respondeu, humilde:
— Tenhamos confiança em Deus. Tudo será feito segundo a Sua Vontade. Peço agora que me deixem a sós com o paciente por alguns minutos.
Esvaziou-se o quarto. A porta foi fechada. Márcio orou, contrito, exorando a proteção do Céu. Amparado por médicos do Além, efetuou a transfu­são magnética, após o que falou ao moribundo:
Geraldo, meu irmão, você está no final da jornada humana. Espíritos amigos aguardam, há dias, que supere suas vacilações. Considere sua posição de espírito imortal de retorno à pátria comum, onde somos mais livres, mais conscientes, mais felizes, sem as limitações da matéria. Ore muito e confie em Je­sus, lembrando o salmista: O Senhor é o meu Pas­tor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pas­tos, guia-me mansamente a águas muito tranquilas, refrigera minha alma, guia-me nas veredas da justiça por amor do Seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale das sombras da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo...
O cérebro físico em colapso não fixava ao nível da consciência humana a exortação, mas o Espírito vacilante e assustado, saído do torpor e revigorado pelo passe, ouviu o apelo e se encorajou.
            Então, o que achou? Vai sarar? — pergun­tou, esperançosa, Rute, tão logo Márcio deixou o quarto.
  Nosso Geraldo está muito bem amparado — respondeu humilde, o médium. Quanto à sua recuperação é assunto de Deus. Insisto que con­fiemos no Senhor. Agora, é preciso suspender a vigília. Peço que todos durmam em paz, particularmente nossas irmãs, que estão exaustas. O enfermeiro ficará de plantão.
Márcio despediu-se das duas mulheres que, aliviadas, entregaram-se ao repouso. Nessa mesma noite, amparado pela Espiri­tualidade, Geraldo desencarnou, segundo a vontade de Deus.

                   * * *
Agonias e sofrimentos exacerbados no mo­mento da morte decorrem do apego do desencarnante à vida física, somado ao desespero de familiares que se recusam a admitir a separação.
Quando há confiança em Deus, fica mais fá­cil, porquanto os desígnios do Senhor são sábios e justos, mesmo quando contrariam nossos dese­jos.

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