Estamos no primeiro século
do III milênio após a vinda do Cristo.
No Brasil, um país considerado do terceiro mundo pelo seu estado de
desenvolvimento, porém de um povo relativamente pacífico, de arraigado
sentimento religioso, com uma história sem guerras, que aboliu a escravatura
ainda no sáculo XIX, mas que, na atualidade, enfrenta sérios problemas
estruturais de educação, saúde, habitação, emprego, renda, violência, e
principalmente nos costumes e desigualdades regionais.
Desejoso de dar uma
contribuição, ainda que pequena, para que, no futuro, a situação do meu país
possa ser diferente, em minhas leituras e reflexões, interessei-me pelas ideias
de um estudioso da área da educação no século XIX, o qual afirma que “os problemas da humanidade provém da
imperfeição dos homens”.
Lembramos que a afirmação
acima foi feita na segunda metade do século XIX, na França, e que esse pensador
cujo verdadeiro nome era Hippolyte Léon Denizard Rivail o qual, apesar de publicar várias obras
na área da educação, veio a se tornar mais conhecido pelo pseudônimo, ALLAN
KARDEC.
Os estudos de Allan Kardec
sobre certos fenômenos surgidos naquela época em toda a Europa e nos Estados
Unidos resultaram na publicação de várias obras, dentre elas, a que mais chamou
a atenção de estudiosos e opositores, publicada em abril de 1.857, em Paris,
sob o título de “O Livro dos Espíritos”.
O Livro dos Espíritos
representa um marco importante na história da Humanidade, pelas suas conclusões
de que o ser humano é formado de uma parte material, o corpo, e uma imaterial,
denominada Alma ou Espírito.
Importante considerar que,
todos os seres humanos, independente de nacionalidade, condição socioeconômica,
e do tipo de doutrina que professe, é em si a união desses dois elementos:
Corpo e Espírito (Alma)!
A análise desses fenômenos levou
Allan Kardec a concluir que o Espírito sobrevive à morte do corpo, o qual pode
voltar para uma nova existência física em outro corpo, ou seja, reencarnar
tantas vezes quantas forem necessárias para progredir, entendendo-se o termo
progredir no sentido de evoluir, de melhorar-se.
A partir das observações dos
fenômenos e através dos diálogos que mantinha com os seres que se autodenominaram
Espíritos de pessoas que já haviam habitado corpos como o nosso, em várias
épocas da história da humanidade, o levaram a várias conclusões, dentre elas a
de que “os problemas da humanidade provêm
da imperfeição dos homens e de que, quando os homens forem bons organizarão
boas instituições que serão duráveis, pois todos terão interesse em
conservá-las”.
Allan Kardec concluiu
também, que a questão social não tem por ponto de partida a forma de tal ou
qual instituição; que ela se encontra toda no melhoramento moral dos
indivíduos; vindo a afirmar que é aí que reside o princípio e a verdadeira
chave da felicidade do gênero humano; para concluir que “é pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a
humanidade”.
Essa afirmação me impressionou
bastante, a ponto de levar-me a ficar meditando por algum tempo: se a chave do
problema seria reduzir as imperfeições do indivíduo, então somente o próprio
indivíduo é que deve empreender essa tarefa, concluindo que é nesse ponto que
se encontra a solução do problema, ou seja, que só a educação pode fazer com
que o ser humano possa, conscientemente, mudar o seu comportamento e dar
solução aos seus problemas.
Fazendo-se uma análise dos
graves problemas enfrentados nos dias de hoje, a começar com a desigualdade das
riquezas, concentrada nas mãos de poucos, enquanto muitos, apesar do esforço
realizado, carecem do essencial para sua própria sobrevivência, embora deva se
entender que a concentração em si, de uma maneira geral, não é ruim, tendo-se
como exemplo os reservatórios tipo caixas d’agua, os açudes, as lagoas, os
oceanos e as florestas.
A concentração dos recursos
econômicos só se torna um mal, quando conduz à exploração do homem que depende
do trabalho para suprir as necessidades próprias e da família; pelos baixos
salários percebidos; condições de
trabalho desumanas e às vezes até degradantes; ausência de benefícios sociais;
tudo isso associado à sonegação de impostos e encargos sociais e trabalhistas,
em benefício do incremento das margens de lucro, tendo como consequência uma
maior concentração da riqueza nas mãos de poucos, enquanto falta o necessário
para a grande maioria.
Outra questão importante a
ser citada é a alta carga de tributos imposta pelo Estado, sem a devida
contrapartida de benefícios sociais às classes menos favorecidas, aliada à
falta de programas de distribuição de renda, ausência de modernos projetos de
formação profissional, e de programas de remuneração justa do corpo docente das
escolas e universidades públicas, bem como a falta de investimentos na
agricultura, que resultem na produção de alimentos de qualidade e em
quantidades suficientes a custos acessíveis.
Adicione-se ao exposto acima
os problemas políticos, dentre os quais a profissionalização dos que se dedicam
a esse tipo de atividade, levando à formação de todo tipo de manobra a fim de
manter o status quo, sempre regado a
muitos privilégios e mordomias e a um distanciamento das reais necessidades da
população como um todo, principalmente das camadas menos favorecidas, tudo isso
aliada a uma aproximação sempre crescente das faixas sociais mais aquinhoadas e
propensas a serem favorecidas pelas benesses destinadas àqueles que exercem a
militância política como profissão, onde poucos são os que se excluem desse grupo.
A questão da violência
urbana cada vez mais se agrava devido à proliferação e consumo de drogas, de
bebidas alcóolicas, somado ao despreparo do aparelho do estado para lidar com
esse tipo de problema, sistema prisional inadequado em quantidade e qualidade,
ausência de instrumentos legais e judiciais, sendo que a soma desses fatores
leva a um favorecimento daqueles que desejam burlar a estrutura legal vigente e
tirar proveito ainda maior do despreparo do Estado, esse é, em rápida síntese,
o quadro geral no início do III milênio.
ALGUMAS IDEIAS SOBRE A
EDUCAÇÃO
João Amós Comenius (1.592
-1.670) em sua Didática Magna – Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a
Todos, logo no primeiro capítulo, nos diz textualmente: “Um dos primeiros ensinamentos, que a Sagrada Escritura nos dá, é este:
Sob o sol não há nenhum outro caminho mais eficaz para corrigir as corrupções
humanas que a reta educação da juventude”. Como exemplo, ele cita o
provérbio 22:6: “Educa a criança no
caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.”
Dizendo mais adiante, ainda
no primeiro capítulo: “Cristo ordena que
nós, adultos, nos convertamos como criancinhas, isto é, para que desaprendamos
os males que havíamos contraído com uma má educação e aprendido com os maus
exemplos do mundo, e regressemos ao primitivo estado de simplicidade, de
mansidão, de humildade, de castidade, de obediência, etc. (...). Daí resulta
que não há coisa mais difícil que voltar a educar bem um homem que foi mal
educado. Na verdade, uma árvore, tal como cresce, alta ou baixa, com os ramos
bem direitos ou tortos, assim permanece depois de adulta e não se deixa
transformar.”
Comenius, um estudioso da
arte de educar, coloca a educação da juventude como a única forma de corrigir
as corrupções humanas, colocando a criança como elemento central do processo
educativo, ou seja, “antes que a árvore
cresça muito e se encha de galhos.”
No final do
século XVIII e início do século XIX, Johann Heinrich Pestalozzi - (1.746
-1.827), apresenta um ensaio
pedagógico onde procura traçar as linhas gerais que deveriam ser seguidas com o
objetivo de fazer da criança um adulto bom, no qual trata dos princípios para
se evitar que a criança se torne má, o qual tem como pressuposto básico a
crença na bondade natural do homem.
Segundo Pestalozzi, o mecanismo da natureza
segue uma marcha elevada e sensível em toda a sua extensão: “o homem imita-a!” Todo o ulterior
desenvolvimento espiritual da pessoa se baseia no vínculo natural (ou “animal”)
entre filho e mãe. Por isto ele insiste na influencia da família como fator de
educação.
Para ele, o professor, e muito antes o pai e
a mãe atuam como educadores, ocupam uma posição especial no ponto de encontro,
entre o desejo sensível e a razão social na criança.
Pestalozzi considerava a educação como um
processo que devia seguir a natureza, a liberdade, a bondade inata do ser
humano, unindo mente, coração e mãos. A educação, para ele, consistia, assim,
no desenvolvimento moral, mental e físico da natureza da criança, de todas as
crianças, independentemente de suas condições sociais.
Segundo Pestalozzi a criança se desenvolve de
dentro para fora como, naturalmente, a semente se transforma em uma árvore;
seus impulsos são inatos. Assim, toda a instrução educativa deve ser extraída
das próprias crianças e nascer dentro delas. Concluindo que o método de toda
educação consiste em um princípio muito simples: “seguir a natureza”.
No início do século XIX, coerente com o que
pensava, Pestalozzi inicia uma experiência bastante exitosa, em Iverdon-Suiça
onde, durante aproximadamente vinte anos, desenvolveu suas ideias sobre a
educação, chamando a atenção de toda a Europa para o seu método. Muitos pais
enviaram seus filhos para o seu Instituto, dentre eles um inteligente jovem
Francês, nascido em Lyon, Hippolyte Léon Denizard Rivail (1.804-1.869), foi
também enviado para lá por seus pais.
Ao retornar para a França, o jovem Rivail
passou a se dedicar ao magistério e aos estudos sobre a educação, assim é que,
aos vinte anos de idade (1.824) lançou sua primeira obra nessa área com o
título: Curso Prático e Teórico de Aritmética segundo o método de
Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família, essa obra fez grande
sucesso na França sendo reeditada por várias décadas.
Os estudos e a prática do professor Rivail em Paris, aliados ao seu aguçado
senso crítico e de observação, o levaram a publicar na França um Plano Para o
Melhoramento da Instrução Pública (1.828), lançado no Brasil pela Editora
Comenius sob o título Textos Pedagógicos.
SOBRE A TAREFA DE EDUCAR
Conforme se lê no livro
de Provérbios, que é um dos livros que compõe o velho testamento, e que tem
como propósito ensinar a alcançar sabedoria, a disciplina e uma vida prudente,
a fazer o que é correto, justo e digno, em resumo, “ensina a aplicar e fornecer instrução moral”.
Recuando-se no tempo, à época de Salomão, que viveu cerca de nove
séculos antes de Cristo, contando-se aí quase trinta séculos da nossa era
atual, não se pode imaginar, conforme se vê no Provérbio 22:6, que a arte de
educar fosse tarefa da escola, pelo menos da escola conforme hoje entendemos.
Veja-se o que disse o Professor Rivail ainda no Séc. XIX,
quando concluiu, que “é pela educação,
mais do que pela instrução, que se transformará a humanidade”, nesse ponto
percebe-se que ele está plenamente de acordo com o ensino salomônico.
Em sua obra “Plano proposto para a melhoria da educação”, o Prof.
Rivail analisa em profundidade o assunto, concluindo que: “A educação é a
arte de formar os homens; isto é, a arte de fazer eclodir neles os germens da
virtude e abafar os do vício; de desenvolver a inteligência e de lhes dar
instrução própria às suas necessidades; enfim, de formar o corpo e de lhe dar
força e saúde. Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento
simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais.”
Quando o Prof. Rivail afirma que “a educação é a arte de fazer
eclodir nos homens os germens da virtude e abafar os do vício,” penso,
igualmente, que ele não estava se referindo como uma tarefa da escola, posto
que a esta cabe o mister de “desenvolver a inteligência e dar instrução
própria às suas necessidades.”
Podendo-se identificar nessa conceituação do Prof. Rivail uma síntese
das ideias de Comenius e Pestalozzi, concluindo que o alicerce sobre o qual a
escola desenvolverá o seu trabalho deve ser uma construção da família. O
trabalho do Prof. Rivail dirigido para a educação continuou, com a publicação
de várias obras voltadas para essa área na França.
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