sexta-feira, 4 de agosto de 2017

DEVORAR O PRÓPRIO CORAÇÃO



           




           Acredito que você, leitor amigo, nunca ouviu falar de Hipônoo, nome obscuro de um cidadão grego, filho de Eurímede e Glauco, também ilustres desconhecidos, mas certamente conhece Belerofante, o herói mitológico.  Ambos são a mesma pessoa.
Tendo matado Beleros, tirano de Corinto, Hipônoo ficou famoso como “o matador de Beleros” ou Belerofante. Suas aventuras fabulosas apresentam lances dramáticos, ações indômitas, tragédias, mortes e horrores. Montado no Pégaso, o célebre cavalo alado, realizou proezas memoráveis, como vencer as amazonas, as mulheres guerreiras.

A mais gloriosa foi matar a quimera, fabuloso ser com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão, que aterrorizava populações, expelindo chamas, destruindo rebanhos e matando gente. Contando com a ligeireza de Pégaso, escapava dos jatos de fogo arremessados pelo monstro, até que, com fulminante golpe de espada, o liquidou.
Não obstante suas vitórias como guerreiro, Belerofante terminaria seus dias melancolicamente, obscuro Hipônoo. Segundo Homero, em A Ilíada, os deuses voltaram-se contra ele e o condenaram a vagar sem rumo, coxo, cego e solitário, a devorar o próprio coração.
          A saga de Belerofante, como sempre ocorre com a mitologia, tem pontos de contato com a realidade: os desafios existenciais, os temores e as dúvidas em torno de situações difíceis que imaginamos ou superestimamos.
Surgem como “monstros” ameaçadores que podemos vencer, desde que trabalhemos intensamente para isso.
          O mais interessante está na expressão de Homero – devorar o próprio coração. Representa, simbolicamente, o comportamento de pessoas que, em face das atribulações da existência, entregam-se a sentimentos negativos, resvalando para a angústia, a revolta, o desespero, a depressão…
Nutrem-se das próprias mágoas, como se cometessem um ato de antropofagia moral, atormentados Hipônoos, nos caminhos da Vida, esmagados ao peso da própria desdita.
É preciso resgatar o herói que há em nós; não a fantasiosa e contraditória figura mitológica, mas o filho de Deus, dotado de suas potencialidades criadoras, capaz de enfrentar as atribulações da existência, reduzindo-as às suas dimensões reais.
São quimeras que podemos derrotar com as asas do conhecimento espírita, que nos permite pairar acima das misérias humanas, desvendando os mistérios do destino.
O ente amado que pranteamos não se consumiu nas cinzas da sepultura. Continua a viver em outros planos do infinito, acompanhando-nos os passos, torcendo por nós, esperando pelo reencontro feliz, quando chegar nossa hora.
A enfermidade que nos aflige não objetiva impor-nos perturbações e angústias. Tratamento de beleza para a alma, conduz a valiosas disciplinas e convida-nos à oração e a reflexão em torno da jornada humana.
As dificuldades que surgem em nosso caminho não são obstáculos intransponíveis, convites ao desalento. São estímulos à mobilização de nossas potencialidades criadoras, tornando-nos mais fortes e capazes.
A desilusão amorosa que nos angustia não implica em aniquilamento de nossas esperanças. Apenas revela que estivemos iludidos e a experiência nos ensinará a erguer o edifício de nossas realizações afetivas sobre bases mais sólidas.
Se o leitor amigo, sente-se um Hipônoo, e anda a devorar o próprio coração, nos grotões do desânimo e da tristeza, lembre-se:
          Há um Belerofante adormecido em você!
Desperte-o! Tome o seu Pégaso, nas asas abençoadas do conhecimento espírita, paire acima das misérias humanas com a gloriosa visão do infinito e derrote as quimeras com a mais poderosa de todas as certezas: Deus nos reserva o melhor, num glorioso porvir!

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