Acredito que você, leitor
amigo, nunca ouviu falar de Hipônoo, nome obscuro de um cidadão grego, filho de
Eurímede e Glauco, também ilustres desconhecidos, mas certamente conhece
Belerofante, o herói mitológico. Ambos
são a mesma pessoa.
Tendo
matado Beleros, tirano de Corinto, Hipônoo ficou famoso como “o matador de
Beleros” ou Belerofante. Suas aventuras fabulosas apresentam lances dramáticos,
ações indômitas, tragédias, mortes e horrores. Montado no Pégaso, o célebre
cavalo alado, realizou proezas memoráveis, como vencer as amazonas, as mulheres
guerreiras.
A
mais gloriosa foi matar a quimera, fabuloso ser com cabeça de leão, corpo de
cabra e cauda de dragão, que aterrorizava populações, expelindo chamas,
destruindo rebanhos e matando gente. Contando com a ligeireza de Pégaso,
escapava dos jatos de fogo arremessados pelo monstro, até que, com fulminante
golpe de espada, o liquidou.
Não
obstante suas vitórias como guerreiro, Belerofante terminaria seus dias
melancolicamente, obscuro Hipônoo. Segundo Homero, em A Ilíada, os deuses voltaram-se contra ele e o condenaram a vagar
sem rumo, coxo, cego e solitário, a devorar
o próprio coração.
A saga
de Belerofante, como sempre ocorre com a mitologia, tem pontos de contato com a
realidade: os desafios existenciais, os temores e as dúvidas em torno de
situações difíceis que imaginamos ou superestimamos.
Surgem
como “monstros” ameaçadores que podemos vencer, desde que trabalhemos
intensamente para isso.
O mais
interessante está na expressão de Homero – devorar
o próprio coração. Representa, simbolicamente, o comportamento de pessoas
que, em face das atribulações da existência, entregam-se a sentimentos
negativos, resvalando para a angústia, a revolta, o desespero, a depressão…
Nutrem-se
das próprias mágoas, como se cometessem um ato de antropofagia moral,
atormentados Hipônoos, nos caminhos da Vida, esmagados ao peso da própria
desdita.
É
preciso resgatar o herói que há em nós; não a fantasiosa e contraditória figura
mitológica, mas o filho de Deus, dotado de suas potencialidades criadoras,
capaz de enfrentar as atribulações da existência, reduzindo-as às suas
dimensões reais.
São
quimeras que podemos derrotar com as
asas do conhecimento espírita, que nos permite pairar acima das misérias
humanas, desvendando os mistérios do destino.
O
ente amado que pranteamos não se consumiu nas cinzas da sepultura. Continua a
viver em outros planos do infinito, acompanhando-nos os passos, torcendo por
nós, esperando pelo reencontro feliz, quando chegar nossa hora.
A
enfermidade que nos aflige não objetiva impor-nos perturbações e angústias.
Tratamento de beleza para a alma, conduz a valiosas disciplinas e convida-nos à
oração e a reflexão em torno da jornada humana.
As
dificuldades que surgem em nosso caminho não são obstáculos intransponíveis,
convites ao desalento. São estímulos à mobilização de nossas potencialidades
criadoras, tornando-nos mais fortes e capazes.
A
desilusão amorosa que nos angustia não implica em aniquilamento de nossas
esperanças. Apenas revela que estivemos iludidos e a experiência nos ensinará a
erguer o edifício de nossas realizações afetivas sobre bases mais sólidas.
Se o leitor amigo, sente-se um
Hipônoo, e anda a devorar o próprio coração, nos grotões do desânimo e da
tristeza, lembre-se:
Há um Belerofante adormecido em você!
Desperte-o!
Tome o seu Pégaso, nas asas abençoadas do conhecimento espírita, paire acima
das misérias humanas com a gloriosa visão do infinito e derrote as quimeras com
a mais poderosa de todas as certezas: Deus nos reserva o melhor, num glorioso
porvir!
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