Na Tailândia não se costuma dizer “não”. Isso é
evidente até mesmo nas palavras mais simples: “sim” é chai e o mais próximo a “não” que existe em tailandês é mai chai – que pode ser traduzido como
“não-sim“. Com uma cultura voltada para o coletivo, os tailandeses são
ensinados a se preocupar mais com o grupo do que consigo mesmos. É uma
sociedade altamente conservadora e tradicional, com uma tradição de que
demonstrar prazer e emoção é controlada por normas sociais restritas. “Um
tailandês sempre vai dizer ‘sim’ porque a etiqueta social determina que ele o
faça.” [1]
Do mesmo modo, aqui no ocidente alimentamos o
falso conceito que quem é bom nunca diz “não”. Contudo, a negativa salutar
jamais perturba. O que despedaça é o tom contundente no qual é vazado o “não”!
Proferir o “sim” ou dizer o “não” exige análise reflexiva e não deve nascer de
um impulso ou estado de ânimo alterado ou inerte. É evidente que “tanto quanto
o ‘sim’ deve ser pronunciado sem incenso bajulatório, o ‘não’ deve ser dito sem
aspereza”.[2]
Há dois mil anos Jesus nos ensinou: “seja o
vosso falar: sim, sim; não, não“. [3] Tal princípio está contido em O Sermão do
Monte, que constitui a base do código de ética do Evangelho. Sobre isso,
adverte-nos Emmanuel: “o sim’ pode ser aprazível em muitas circunstâncias,
entretanto o ‘não’, em alguns setores da luta humana, é mais construtivo”. [4]
Consentir que os outros decidam por nós é
atitude de subserviência; não é humildade e muito menos tolerância e nem
brandura. Notemos que a nossa vontade é tão importante quanto a vontade do
nosso semelhante. Ora, os nossos anseios, sonhos e emoções têm o mesmo valor
dos das outras pessoas. Não admitamos que determinem nossas aspirações, nossas
ideias, nossas convicções religiosas, nossas rotinas, nossos modos de ser. Se
não agirmos com coragem seremos domados na vontade, e o que é pior, seremos
reprimidos nos próprios pensamentos.
Sem ferirmos o próximo, e isso é mais do que
óbvio, é imprescindível dizer o “não”. Precisamos ter o traquejo para dizer o
“não” sempre que a situação nos convide a fazê-lo. Até porque, é impossível
agradarmos as pessoas a todo instante. Cedermos aos desejos e vontades dos
outros pode ser a forma mais fácil de relaxarmos o empenho de busca das nossas
intransferíveis necessidades de crescimento espiritual. Em certas ocasiões
quando dizemos “sim” para os outros, pagamos um preço elevado por isso.
Nem sempre precisamos infligir nossa vontade,
contudo não podemos deixar que os outros se imponham sobre nós. Não é ajuizado
dizer “sim” quando devemos dizer “não”. Porém, por que às vezes quando temos que
impor o “não”, cedemos ao “sim”? Cada vez que contemporizamos com o “sim”
quando a situação exige o “não”, estamos nos definhando na autoridade moral,
nos desmerecendo; estamos enfim dando mais importância aos outros do que a nós
mesmos.
Na presunção de não magoarmos os outros, muitas
vezes nos justificamos em demasia, como se estivéssemos rogando perdão por não
podermos acorrer. Não carecemos de fazer isso! Não temos nenhuma necessidade de
nos explicar em demasia e muito menos pedir desculpas pela nossa opção de
negativa.
Ora, se não estamos fazendo nada de censurável
ao priorizarmos outros compromissos, não precisamos ficar explicando ou
detalhando quais são essas prioridades. Em determinadas circunstâncias, as
nossas opções por fazer ou deixar de fazer algo é uma questão de
autoconsciência, portando não é da jurisdição de mais ninguém.
Aprendamos a dizer “não”, ou seja, se não
desejamos tal ou qual coisa, digamos “não”; se não concordamos com tal ou qual
situação, pronunciemos “não’; se não almejamos compartilhar, falar ou adquirir
algo, tão-somente digamos “não”.
O bom senso nos sussurra que ao dizer “não”
estamos apenas dando uma resposta negativa, e isso não é insulto. Cabe aqui uma
dica cristã: que os nossos “nãos” sejam proferidos sem rompantes e nem
severidades e ponto final.
Referências
bibliográficas:
[1] Disponível em
http://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-39450642 acessado em 01/08/2017
[2] XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso,
ditado pelo Espírito Emmanuel, Cap. “O ‘não’ e a luta”, RJ: Ed FEB, 1977
[3] Mateus 5, 37
[4] XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso,
ditado pelo Espírito Emmanuel, Cap. “O ‘não’ e a luta”, RJ: Ed FEB, 1977
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