A comunicação é uma arte. Relativizada nesse
momento a sua efetividade no reino animal, desde que dois seres humanos se
encontraram pela primeira vez, a comunicação se tornou o principal elemento da
convivência. Através do gestual, do olhar, da fala e até mesmo do silêncio
passamos a expressar as sensações, as crenças, os pontos de vista e em
decorrência dessas expressões pudemos passar a ter visibilidade das diferenças e
semelhanças que nos faz pessoa única no conjunto psíquico que nos caracteriza.
A
forma como nos expressamos em cada circunstância é que determina a nossa
condição de tornar o conteúdo exposto compreensível, daí se pode supor que a
primeira grande oportunidade de nos fazer ouvir se encontra na nossa capacidade
de saber exatamente o que queremos declarar, eis aí pedagogia da comunicação.
Ter o senso de liberdade que gera no outro o direito de aceitar ou não as
nossas conjecturas, sem que isso nos perturbe ou aborreça, projeta a política
da comunicação. E é exatamente a conquista do equilíbrio entre essas duas
grandezas da comunicação, a pedagógica e a política, que estabelecem os padrões
do nosso relacionamento com o mundo social que nos cerca.
Os
nossos conflitos internos, as situações de desequilíbrio na composição de
forças dos relacionamentos, a cultura da educação familiar, as experiências
peculiares que geraram condicionamentos comportamentais funcionam como
elementos que muitas vezes se contrapõem ao desejo interno que alimentamos a
respeito da necessidade de ser compreendidos pelas pessoas que caminham
conosco. Ocorre que produzimos, em ocasiões frequentes, um dialeto de
compreensão pessoal, um idioma próprio, e passamos a falá-lo aos quatro ventos
sem a menor idéia do porque os outros não conseguem entender o conteúdo que
exprimimos.
É
nesses momentos que surge a necessidade da autoterapia do silêncio, que também
se autoriza como uma forma de comunicação, aquela que reequilibra o pensamento
antes de passar para a fase do ESCUTAR, essa outra variável do comunicar-se que
nos municia de conhecimento da realidade do outro, uma vez que é essencial
saber o que o outro verdadeiramente pensa antes de qualquer tentativa de lhes
infringir as nossas verdades.
Ninguém
melhor do que Jesus para nos ensinar a arte da comunicação. Nas narrativas dos
fatos da vida de Jesus abundam momentos nos quais Ele é solicitado pelos
transeuntes do caminho. A postura que adotou no primeiro contato com o
suplicante foi lhes perguntar: “QUE QUERES QUE TE FAÇA?”. Isso não significa
que Jesus faria qualquer coisa que lhe pedissem. Faria sim, apenas o que achasse
justo, superior que era aos apelos vãos, mas jamais poderia silenciar o desejo
interno daquelas pessoas que precisavam confessar o que queriam para suas vidas.
Depois de escutar-lhes os rogos, eis que Jesus as atendia ou não, dependendo da
natureza da rogativa, porém jamais impunha o que deveriam obter sem a devida
anuência. Se Jesus, em toda a sua grandeza espiritual se submetia à política e
à pedagogia da comunicação, será que nós também precisamos conquistar essa
habilidade?
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