sábado, 23 de setembro de 2017

VITÓRIA AMARGA



 



 Pirro (319-272 a.C.), foi um general grego, autor de livros sobre a arte da guerra. Guerreiro indômito e hábil, seria lembrado não pelos seus feitos no campo de batalha e pendores literários, mas, singularmente, por simples comentário que deu origem à expressão famosa: Vitória de Pirro.
Em 281 a.C. combateu os romanos, em defesa de Taranto, uma colônia grega no sul da Itália. Logrou sucesso. Contudo, tantas foram as baixas em suas tropas que, recebendo felicitações pelo notável feito de derrotar um exército do grande império, comentou amargamente: – Mais uma vitória como essa e estaremos perdidos.

A vitória mais se assemelhava a uma derrota. A frase de Pirro é aplicada para definir certas conquistas que impõem tantos sacrifícios e desgastes que, literalmente, não compensam.             
Há realizações que trazem euforia, situando-se como a concretização de nossos sonhos e ideais, mas o tempo, senhor da verdade, demonstra que cometemos grave erro de avaliação.
O audacioso empresário, que se compromete com a corrupção para enriquecer…
O funcionário ambicioso, que usa de intriga e bajulação para superar hierarquicamente seus colegas…
A astuciosa jovem, que se vale de sua beleza para seduzir o homem rico…
O hábil político, que ilude o povo para ganhar a eleição…
O filho rebelde, que deixa o lar para livrar-se da tutela paterna…
O ditador truculento, que esmaga qualquer oposição para sustentar-se no poder…
O traficante inescrupuloso, que semeia o vício para vender seu produto…
Todos exultam com seu sucesso, sem perceber que pagarão um preço muito alto, bem de acordo com a expressão evangélica: De que vale conquistar o mundo e perder a alma? (Marcos, 8:36).
  Jesus reporta-se a efêmeras vitórias humanas que são derrotas do Espírito imortal, impondo penosas reparações.
Por outro lado, há situações que se afiguram lamentáveis derrotas. Constatamos depois que foram abençoadas oportunidades de resgate, renovação e conquistas espirituais:
A doença grave que depura a alma…
A limitação física que impõe salutares disciplinas.…
A desilusão amorosa que desfaz a fantasia…
A morte do ente querido que desperta a religiosidade…
A dificuldade financeira que estimula a iniciativa…
Não raro faz-se noite escura em nossos caminhos para que nasça novo dia. Se não desanimarmos diante das sombras, iremos ao encontro de luminoso alvorecer.
A própria morte de Jesus, aparentemente derrotado pela maldade humana, era na verdade, o coroamento da missão que começara na manjedoura e atingia o clímax na cruz. Os dois episódios se completam, compondo a bandeira do Cristianismo para a construção do Reino de Deus.
Humildade, na manjedoura.
Sacrifício, na cruz.
E mais: Do alto da cruz, Jesus fincava os marcos de uma nova atitude diante da maldade humana, rogando a Deus: – Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem (Lucas, 23:34).
Aqueles que o perseguiam e apupavam não tinham ideia de quanto lhes custaria em dores expiatórias aquele aparente triunfo.
Eram dignos de compaixão.
Espiritualmente estavam tão derrotados quanto Pirro em sua frustrante vitória.

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