Será que o espírita é somente aquele que está
vinculado a uma instituição espírita, ou ao movimento espírita? Para Kardec,
não! Observemos o que ele diz na Introdução ao estudo do Espiritismo, contido
em O Livro dos Espíritos – “para se
nomearem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da
linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas
palavras. Os vocábulos espirituais, espiritualista, espiritualismo têm acepção
bem definida.” [1]
Quem quer que acredite haver em si alguma coisa
mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na
existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em face
disso, ao invés de usar as palavras espiritual,
espiritualismo, Kardec empregou os termos espírita e espiritismo para
indicar a Codificação. Ora, a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por
princípio as relações do mundo material com dos Espíritos.
Como especialidade, o Livro dos Espíritos
contém a Doutrina Espírita; como generalidade, prende-se à doutrina
espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão porque traz no
cabeçalho da 1ª. Edição, de 1857, no seu título as palavras: Filosofia espiritualista.
Notemos uma curiosa afirmativa do Codificador,
quando diz que do ponto de vista
religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as
religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras,
independentes de qualquer culto particular. Seu objetivo é provar, aos que
negam ou duvidam, que a alma existe, que sobrevive ao corpo e experimenta após
a morte as consequências do bem ou do mal que tenha feito durante a vida
corporal. Ora, isto é de todas as religiões.
Os adeptos do Espiritismo são os espíritas, ou os espiritistas. Mas Kardec acrescenta que como crença nos Espíritos,
o Espiritismo é igualmente de todas as religiões, assim como é de todos os
povos, visto que, onde quer que haja homens, há almas ou Espíritos; que as
manifestações são de todos os tempos, achando-se seus relatos em todas as
religiões, sem exceção.
Por essa razão, Kardec afiança que pode-se ser católico, grego ou romano, protestante,
judeu ou muçulmano, e crer nas manifestações dos Espíritos; por conseguinte,
ser espírita. A prova disso é que o Espiritismo tem aderentes em todas as
religiões. [2]
Não há como negar que há muitos confrades que
jazem dentro da Igreja romana, são os espiritólicos, ou seja, são os católicos
espíritas (porque aceitam as comunicações dos Espíritos). É verdade! Muitos
dizem que são espíritas, mas não conseguem desapegar da igreja; outros não
desapegam dos terreiros. Se se sentem bem aí, que fiquem aí. Não temos nada
contra, mas só não podem trazer suas crenças para as hostes espiritas. Óbvio
que não podem fazer um Espiritismo à moda do catolicismo, da umbanda etc., pois seria uma inversão dos objetivos e
significados da Doutrina dos Espíritos.
Considerando as ponderações de Kardec aqui
demonstradas, basta um adepto de qualquer seita ou religião aceitar a
comunicação dos espíritos para ser considerado espírita, logo, sob esse ponto
de vista, podemos acrescentar dezenas de milhões de espíritas no Brasil. Em
face disso, naturalmente há um número de espíritas que vai muito além dos
declarados pelo último censo do IBGE.
Concordam comigo?
Matutemos, pois!
Referências
bibliográficas:
[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos,
Introdução ao estudo do Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 2002
[2] KARDEC, Allan. O Espiritismo em sua mais simples
expressão, RJ: Ed. FEB, 1992
Ser espírita é, antes de tudo, aplicar na própria vida os ensinamentos trazidos pela Doutrina. Agir de acordo com os valores de amor ao próximo, humildade e dedicação. Conhecer a teoria e a história do espiritismo é importantíssimo. Mas, sem exercer, na prática, o que os guias espirituais nos ensinam, dizer-nos espíritas não é suficiente.
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