1 – A Doutrina Espírita
nos ajuda a identificar nossas falhas. Mesmo assim, não mudamos nossa forma de agir. Por que
isso acontece?
Ocorre
que essa postura é superficial, jogo de cena conosco mesmos. Falta aquele cair em si, de que trata Jesus, na Parábola do Filho Pródigo (Lucas,
15:11-24), em que o indivíduo reconhece a extensão de sua miséria moral, o quão
distanciado está de Deus, e dispõe-se a caminhar ao Seu encontro. Minha avó
traduzia isso dizendo que é preciso tomar
vergonha.
2 – Sabemos que a Vida vem sendo comprometida no planeta em face da
poluição produzida pelo Homem, que não respeita a Natureza. Por que agimos
assim?
Falta
tomar vergonha em relação ao assunto,
assumindo uma consciência ecológica que nos leve a vigiar nosso comportamento
nos contatos com a Natureza, tanto quanto devemos vigiar nossas iniciativas no
relacionamento com o próximo.
3 – Considerando
o clima de violência na atualidade, podemos dizer que muitos Espíritos estão
fracassando em sua última oportunidade de renovação, despedindo-se da Terra,
que já estaria deixando a condição de Mundo de Provas e Expiações e sendo
promovida a Mundo de Regeneração?
Corremos
sérios riscos se isso estiver acontecendo, porquanto, como ensinava Jesus no Sermão da Montanha (Mateus, 5:5),
ficarão na Terra os que houverem conquistado a mansuetude. Para uma Humanidade sem vergonha, o vocábulo manso tem uma conotação pejorativa.
Usá-lo ao nos dirigirmos a alguém soa ofensivo.
4 – Como você definiria a expressão manso,
sob o ponto de vista evangélico?
É alguém que venceu a
agressividade, guardando as raízes de sua estabilidade emocional em si mesmo,
não nos outros. Não reage aos
estímulos externos. Age, conforme o
ajuste interno efetuado à luz dos ensinamentos de Jesus, a partir do momento em
que tomou vergonha.
5 – A condição de Mundo de Regeneração, de que
falam os Espíritos, estaria, então, distante?
Tão distante quanto nos encontramos da
agressividade para a mansuetude. Creio que muita água vai rolar no rio do tempo
até que tomemos vergonha, superando
estágios primários de evolução que nos situam perto da taba.
6 – Poderíamos dizer que a Misericórdia Divina
exercita a paciência nesse sentido?
Deus
não tem pressa. Obviamente haverá o
momento em que os recalcitrantes deixarão nosso planeta e serão confinados em
mundos inferiores, onde a mestra Dor atuará com mais rigor. Chega o momento em
que um pai, até por amor ao filho, será compelido a dar-lhe umas boas palmadas,
a fim de que tome vergonha.
7 – Qual
a importância da religião em favor desse objetivo?
A
religião é o estímulo para que cultivemos o aspecto sagrado da existência,
buscando cumprir os compromissos que assumimos ao reencarnar. Ajuda-nos nessa
empreitada, mas pouco valerá se não estivermos dispostos a tomar vergonha.
8 – Considerando os esclarecimentos que nos
oferece a respeito da vida espiritual, onde colheremos as consequências das
ações humanas, podemos dizer que o Espiritismo nos ajuda a lidar melhor com os
desafios da existência?
Sem
dúvida! Quem sabe de onde veio, por que vive na Terra e para onde vai,
certamente estará mais bem orientado nesse sentido. Não obstante, ainda aqui, a
mudança de rumo, em favor do melhor, o tomar vergonha na cara é muito mais uma questão de acordar do que de aprender.
Usando uma expressão popular, seria ligar
o desconfiômetro, muito mais cumprir a sinalização da Vida, do que
simplesmente conhecer seus regulamentos.
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