A respeito da não violência, muito importante é
esse ensino do Mestre Jesus: “Vós tendes ouvido o que se disse: Olho por olho e
dente por dente. Eu, porém, digo-vos que não resistais ao mal; mas se alguém te
ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quer
demandar-te em juízo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e se alguém
te obrigar a ir carregado mil passos, vai com ele ainda mais outros dois mil.
Dá a quem te pede, e não volte às costas ao que deseja que lhe emprestes” (Mateus,
V: 38-42).
O
Evangelho do Cristo enfatiza que, diante de uma agressão, nunca se deve partir
para a vingança. Jesus adverte que a represália, a retaliação, nunca deve ser
praticada. De maneira alguma se precisa, diante de uma ação violenta, reagir da
mesma forma e ir ao desforço, desejando desforra. Jamais revidar o mal com o
mal. Reagindo pelo impulso do próprio instinto de conservação, que é uma lei da
natureza, o indivíduo deve se defender; contudo, de maneira alguma,
sintonizar-se com o agressor, deixando a vibração negativa assenhorear-se de
si, esforçando-se para que o perdão surja, porquanto representa o caminho que
leva aos rincões da harmonia e da paz. Portanto, Jesus, como um Espírito Puro,
sabe que, na prática da não violência, não há campo para a covardia e para a
fraqueza, mas sim atuação de alguém que se esforça no sentido da própria
evangelização. Corajoso é quem suporta um insulto sem manifestação de vingança.
É preferível ser injuriado do que ofender, de aguentar uma iniquidade do que
praticá-la. Diante de uma agressão, tem o indivíduo a oportunidade de exercer
os sentimentos da paciência e da tolerância.
Joanna de Ângelis diz: “Aprende a dominar os impulsos da ira, porque a
existência terrestre não é uma viagem deliciosa ao país róseo da alegria sem
fim. Esforça-te por compreender o outro lado, a forma como os outros encaram as
mesmas ocorrências. Luta por vencer a arrogância, porque todos os Espíritos que
anelam pela paz, pela vitória das paixões têm, como primeiro desafio, a
superação dos sentimentos inferiores, aqueles que devem ser substituídos pelos
de natureza dignificante. Se alguém te aflige, é porque se encontra necessitado
de ajuda e não de combate, é a sua forma de chamar a atenção para a sua solidão
e angústia. Fogo com fogo aumenta o incêndio devorador. Treina colocar no
braseiro a água da paz e se apagarão as labaredas ameaçadoras. Se alguém te
aflige, é porque se encontra necessitado de ajuda e não de combate, é a sua
forma de chamar a atenção para a sua solidão e angústia” (Psicografia do médium
Divaldo P. Franco, na reunião mediúnica do Centro Espírita Caminho da Redenção,
na noite de 15 de abril de 2009, em Salvador, Bahia).
BOX 1 - Consequência da Infeliz Sintonia com o
Mal
Uma pessoa amiga confidenciou-me que, ao
assistir pela televisão cenas de roubos ostensivos nas ruas do Centro da Cidade
do Rio de Janeiro, de imediato, mentalizou uma reação bem agressiva contra os
menores infratores. Começou a elaborar pela imaginação a desforra, atacando
indiretamente, em pensamento, os meliantes de forma igualmente violenta. De
outra feita, presenciou, igualmente pela TV, marginais praticando blitz contra
os motoristas, parando-os e assaltando-os. Imediatamente, lhe veio à mente o
revide, idealizando jogar seu carro sobre os bandidos, atropelando-os, em plena
via pública. Assim fazendo, desconhecia que estava contaminando sua psicosfera
espiritual com eflúvios deletérios, igualando-se aos artífices do mal,
enfraquecendo-se vibratoriamente. Diz o ditado popular, ratificando o Antigo
Testamento, através do profeta Oséias, capítulo VIII, versículo 7: “Quem semeia
vento, colhe tempestade” e do sábio rei Salomão: “Quem semeia a maldade colhe a
desgraça e será castigado pelo seu próprio ódio” (Provérbios 22:8).
Há possibilidade de o amigo ter sofrido a
eclosão de comportamentos violentos de existências pregressas que não foram
ainda domados. Pois bem, alguns dias após, foi atropelado por uma bicicleta,
que transitava na contramão, sofrendo lesão grave em um dos ombros. De tanto
conceber a violência foi vitimado por ela, o que, certamente, lhe deverá servir
de lição. O Rei Salomão, mais uma vez já alertava, dizendo: “Não digas: ‘Assim
como ele me fez, assim vou fazer a ele. Pagarei de volta a cada um segundo a
sua atuação’” (Provérbios 24:29). O indivíduo, deixando o mal penetrar dentro
de si, passa a albergá-lo, baixando seu nível vibratório e fica vulnerável a
qualquer ato violento.
BOX 2 - Exortação de Jesus e Discípulos
O Cristo, Mestre dos mestres, ensinou que “onde
estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus VI:21).
Igualmente frisou: “Os olhos são a lâmpada do corpo. Portanto, se seus olhos
forem bons, seu corpo será pleno de luz. Porém, se seus olhos forem maus, todo
o seu corpo estará em absoluta escuridão. Por isso, se a luz que está em si são
trevas, quão tremendas são essas trevas!” (Mateus VI: 22-23). Através do
evangelista Lucas, Jesus reafirma que “os olhos são a luz do corpo; se seus
olhos forem humildes, todo o seu corpo será cheio de luz. Porém se seus olhos
forem malignos, todo o seu corpo estará tomado pelas trevas. Certifica-se,
pois, que o fulgor que há no seu interior não sejam trevas” (Lucas XI:35). Em
verdade, Jesus deixou bem claro, na terceira bem-aventurança, que os mansos
herdarão a terra (Mateus VI:5).
O apóstolo Pedro alerta: “(...) demonstrai
compaixão e amor fraternal, sede misericordiosos e humildes, não retribuindo
mal com mal, tampouco ofensa com ofensa; ao contrário, abençoai; porquanto, foi
justamente para esse propósito que fostes convocados, a fim de também
receberdes bênção como herança” (1- Pedro III: 8-12).
Paulo, igualmente, recomenda, em Carta aos
Romanos XII:17-18: “A ninguém devolvei mal por mal. Procurai proceder
corretamente diante de todas as pessoas. Empreendei todos os esforços para
viver em paz com todos”. No versículo 21: “Ninguém deve resistir ao mal com o
mal, mas vencer o mal com o bem”. Em 1-Tessalonicenses V:15: “Evitai que
ninguém retribua o mal com o mal, mas encorajai que todos sejam bondosos uns para
com os outros”.
BOX 3- Como agir diante da Investida do Mal?
Diante de uma situação agressiva, deve o
verdadeiro cristão se esforçar e procurar se situar em uma vibração elevada,
requerendo o auxílio espiritual através da prece, sabendo que não está
desamparado e só passará por aquilo que necessita na forma de uma prova ou
expiação. “Deus é Amor” (1 João IV:8) e nunca o acaso será soberano diante da
justiça divina. Ao mesmo tempo, precisa endereçar pensamento de perdão para o
agressor, o qual, em verdade, não se conscientizou ainda do mal que lhe
assenhoreia, ainda desconhecendo que “quem faz o mal a si mesmo o faz”. O
perdão, sendo liberado, faz com que a amargura cesse e não haja possibilidade
de sintonia espiritual com o agressor e, concomitantemente, a necessidade de
saldar qualquer débito. Diante do Infinito, terá o infrator inúmeras
oportunidades de reconciliação consigo próprio, mesmo que seja através do
abençoado sofrimento, quando não está ainda alicerçado no “amor que cobre
multidão de erros” (1 Pedro IV:8). “O ódio provoca contendas, mas o amor cobre
todas as transgressões” (Provérbios X:12).
Ensinou o querido Jesus, Mateus 6: XIV-15:
“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial
vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas,
também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas”. Certa feita, o apóstolo
Pedro perguntou ao Mestre: – Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão,
quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: – Não te digo até
sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18: XXI-22). Realmente,
abençoados são todos os que se esforçam na semeadura da paz, assim como afirmou
o Cristo, em Mateus 5:9: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus”.
A estimada mentora Joanna de Ângelis, na obra
Episódios Diários, esclarece que “só os homens de pequeno porte moral se
desforçam, tombando em fosso mais profundo do que aquele em que se encontra o
perseguidor. Se desculpas o acusador, és melhor do que ele. Se perdoas o
inimigo, te encontras em mais feliz situação do que a dele. Se ajudas a quem te
fere, seja por qual motivo for, lograste ser um homem de bem, um verdadeiro
cristão. Desforço, jamais”.
BOX 4- Líderes da Não Violência
Mohandas Karamchand Gandhi foi o idealizador e
fundador do moderno Estado indiano, sendo o maior defensor e propagador do
princípio da não agressão, forma não violenta de protesto. Graças ao seu
determinismo pacífico, em 15 de agosto de 1947, foi oficialmente proclamada a
independência no território indiano. Certa feita, disse: “O que destrói a
humanidade: A Política, sem princípios; o Prazer, sem compromisso; a Riqueza,
sem trabalho; a Sabedoria, sem caráter; os negócios, sem moral; a Ciência, sem
humanidade; a Oração, sem caridade”.
Gandhi foi o grande inspirador de um conhecido
ativista, Martin Luther King Jr., o qual foi um importante pastor evangélico
americano que se empenhou na defesa dos direitos sociais para os negros e
mulheres, combatendo o preconceito e o racismo. Sua luta sempre foi pacífica,
baseada nos preceitos evangélicos do amor ao próximo. Em 1964, recebeu o Prêmio
Nobel da Paz pelo excelente e árduo trabalho contra o preconceito racial nos
Estados Unidos. Em todo o mundo, tornou-se símbolo da luta pacífica pelos
direitos civis. Sua atuação política e social foi marcante, fazendo com que as
leis segregacionistas fossem derrubadas e dando espaço para o surgimento de uma
legislação mais justa e igualitária.
Em Washington, em 1963, em uma manifestação que
reuniu milhares de pessoas pelo fim do preconceito e da discriminação racial,
discursou com grande sucesso e um trecho se tornou marcante: “Eu tenho um
sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da
pele”.
Kardec, em OESE, capítulo XII-8, complementa o
assunto, dizendo: “A fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa o
mal impune, é a única que nos pode dar força de suportar, pacientemente, os
atentados aos nossos interesses e ao nosso amor próprio. Eis por que vos
dizemos incessantemente: voltai os vossos olhos para o futuro; quanto mais vos
elevardes, pelo pensamento, acima da vida material, menos sereis feridos pelas
coisas da Terra”.
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