Peter Drucker (1909-2005), escritor, professor
e consultor administrativo, visto como um dos maiores visionários do século XX,
para os considerados efeitos da globalização, afirmou que se esse século
confirmou alguma coisa, é a inutilidade da política. Para ele, é impossível
creditar as transformações sociais do século XX aos eventos políticos criadores
de manchete. Entende-se que a dinâmica da política partidária não gerou
resultados sustentáveis para a sociedade como era de se esperar.
Se
se voltar a análise para o Brasil, esse quadro se torna mais dramático,
principalmente nos dias atuais. Percebe-se, portanto, que essa conclusão não é privilégio
de Drucker.
É
provável que esses fatores, somados a outros, sejam a determinante para que
alguns espíritas se afirmem apolíticos e o tom da afirmação às vezes sugere que
a política é “profana” para a Doutrina Espírita.
Basta
uma reflexão mais atenta e se percebe que o Espiritismo tem muito a ver com a
Política, partindo-se da própria definição de política como uma referência permanente
em todas as dimensões do nosso cotidiano na medida em que este se desenvolve
como vida em sociedade. (...) a própria atividade política, longe de ser apenas
voltada a uma transformação do “mundo objetivo” com vistas ao futuro,
significa, também, o exercício de uma atividade transformadora da consciência e
das suas relações com o mundo.
Em O Livro dos Médiuns, cap. II:13, Allan Kardec assinala:
“Ora, o Espiritismo, que entende com as
mais graves questões de filosofia, com todos os ramos da ordem social, que
abrange tanto o homem físico quanto o homem moral, é, em si mesmo, uma ciência,
uma filosofia, (...).”
No livro III de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
trata das Leis Morais – Leis de Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação,
Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade, Liberdade e de Justiça, Amor e
Caridade. Estas leis são fundamentais para a compreensão e o relacionamento com
o Criador, o planeta Terra, os seus semelhantes e as sociedades em que se está
inserido.
Partindo desse prisma, é fácil
até demais de se compreender que o Espiritismo, como filosofia, apresenta normas
políticas ideais para o surgimento de uma nova sociedade, centrada na realidade
imortal do Espírito.
Os Espíritos falando acerca da
vida em sociedade, atestam que o homem não pode progredir sozinho, uma vez que
não possui todas as faculdades desenvolvidas, daí necessitam do contato com os
outros homens para atingir esse desiderato. Ora, essa ação não é nada mais do
que um ato político. Quando o expositor espírita se posiciona no púlpito e fala
sobre a necessidade de amar o próximo, isto é uma participação política. Por
isso, Aristóteles admitiu que “O Homem é um animal político.”
A missão dos Espíritos
encarnados está delineada na questão nº 573 de O Livro dos Espíritos,
que não deixa de ser um ativismo político. Leia-se:
“- Em instruir os homens, em que lhes
auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e
materiais.”
Em todo o corpo doutrinário do
Espiritismo iremos encontrar indiscutível contribuição política, principalmente
no seu aspecto filosófico, inestimável para que a sociedade planetária se torne
funcional em termos de amor, justiça e caridade. Afirmaram ainda os Espíritos
Reveladores na questão nº 917 de O Livro
dos Espíritos:
“Quando bem compreendido, se houver
identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos,
os usos, as relações sociais.”
O que se constata é que há uma interpretação equivocada do que são
política e política partidária. A política partidária é a forma de se validar a
participação na política. Tais partidos são resultantes de ideologias,
objetivos, programas, de estatutos estabelecidos e que favorece ao agrupamento
de homens que se identificam com esses valores. Comumente a política partidária
descamba para o partidarismo que é a adesão cega a um partido ou grupo
política, que conduz a atitudes parciais, descambado para o sectarismo
político.
Em decorrência da timidez dos bons – questão n° 932 de O Livro dos Espíritos – e das posturas
intrigantes e audaciosas dos maus, a política partidária vem sendo ocupada pelos
últimos. Por isso é de fundamental importância a participação dos bons na
política para que se organize bons partidos políticos.
Allan Kardec, em ensaio sobre As Aristocracias, em Obras Póstumas, adverte que os maus estão em minoria e ditam as
leis aos bons. Ele elabora a seguinte equação:
“Admitamos que, em 100 indivíduos, haja 25
bons e 75 maus; destes últimos, 50 se contam que o são por fraqueza e que
seriam bons, se observassem bons exemplos e, sobretudo, se tivessem sido bem encaminhados
na infância; dos 25 maus, nem todos serão incorrigíveis. (...) No estado atual
das coisas, os maus estão em maioria e fazem a lei para os bons; suponhamos que
uma circunstância leve à conversão dos 50 medianos, os bons estarão em maioria
e farão a lei por seu turno; sobre os 25 outros francamente maus, vários
sofrerão a influência, e não ficarão senão alguns incorrigíveis sem
preponderância.”
O que se conclui é que o espírita tem que participar e influenciar na
sociedade em que se encontra inserido, procurando interferir nas instituições
que estruturam os valores e as normas do Espiritismo. Isto é uma participação
política.
Em nenhum momento o espírita deve levar a política partidária ou dar guarida
a candidatos para a instituição espírita, mas deve estudar e reflexionar sobre
os princípios político-filosófico-espíritas nela, criando uma interface com a
dinâmica político-social da sociedade, pois eles estão contidos em O Livro dos Espíritos, no III livro, das
Leis Morais.
Se tiver vocação para o exercício da política, deve se filiar a uma
agremiação partidária em que sua ideologia se afinize com os princípios
espíritas, tomando consciência da sua responsabilidade nesse campo, e como
parâmetro de que suas atitudes devem sempre estar voltadas para os o interesse
do ser humano, em seus aspectos social e espiritual. Sua conduta no contexto
político partidário deverá estar em consonância com os valores ético-morais do
Espiritismo.
É importante frisar que não há nenhuma valia a preocupação com a reforma
íntima, isolando-se na casa espírita em postura meramente contemplativa.
Indagados
sobre à vida contemplativa, na questão nº 657 de O Livro dos Espíritos, Espíritos responderam:
“Não, porquanto, se é certo que não fazem
o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Demais, não fazer o bem já
é um mal. Deus quer que o homem pense Nele, mas não quer que só Nele pense,
pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra. Quem passa todo o tempo na
meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque
vive uma vida toda pessoal e inútil à Humanidade e Deus lhe pedirá contas do
bem que não houver feito.”
Referências
bibliográficas
KARDEC, Allan.
A gênese. São Paulo: LAKE, 2010.
_____________.
O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2000.
_____________. Obras
póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
MAAR, Wolfgang Leo. O Que é política. São
Paulo: Brasiliense, 1982.
PAIVA, Aylton. O espiritismo e a política para a nova sociedade. São Paulo: Libertação,
1994.
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