Marina ficou
arrasada quando soube que estava com câncer no seio. .Embora o médico lhe
afirmasse que o tumor era pequeno e que com a cirurgia e a quimioterapia tinha
excelentes perspectivas de recuperação, ficara muito deprimida. Sem filhos, o marido
falecera. Nova na cidade, não tinha amigos. Sentia-se extremamente só,
desolada, aflita e com muito medo. À noite, tentava distrair-se com a
televisão, quando tocou o telefone.
– É Marina? –
perguntou uma voz simpática.
– Sim.
– Sou Suzana.
Integro um grupo de senhoras ligadas ao hospital de oncologia. Gostaríamos de
visitá-la.
– Será um prazer. É
algo relacionado com a cirurgia?
– Em parte, sim.
Explicaremos depois.
No dia seguinte,
conforme combinado, Marina recebeu Suzana e duas senhoras, um trio simpático e sorridente.
Suzana foi logo explicando:
– Estamos aqui para
manifestar nossa solidariedade, Marina, não apenas com a presença, mas também
com o apoio. Estaremos juntas durante a cirurgia e a acompanharemos no
tratamento. Não a deixaremos só. Haverá sempre alguém com você.
Marina, um tanto
constrangida, comentou:
– Acho ótimo esse
apoio, é tudo o que quero, mas infelizmente não tenho condições para arcar com
as despesas. Vivo apenas com
pensão deixada por meu marido.
Suzana sorriu:
– E quem disse que
vai custar alguma coisa? Não haverá
despesas. Estamos aqui como amigas.
Marina, olhos
úmidos, emocionada, comentou:
– Deus lhes pague.
Não podem imaginar como é terrível enfrentar essa doença.
Suzana sorriu – Podemos, sim, minha querida. Todas nós
tivemos câncer. Ouça bem, tivemos,
não temos mais. Essa postura é muito importante para superar o medo. Levamos
uma vida normal. Justamente porque sabemos o que é enfrentar essa barra,
formamos nosso grupo para que todos os pacientes com quem lidamos saibam que
não é um bicho-de-sete-cabeças. Você
vai vencer essa, como nós vencemos! Estamos aqui para o que der e vier!
Graças ao apoio do
grupo de senhoras, Marina submeteu-se à cirurgia, fez o tratamento, sempre
acompanhada pelas novas amigas, e logo ligou-se àquele abençoado grupo de
pessoas capazes de fazer de sua provação um instrumento de edificação para
outras pessoas.
***
No domingo à tarde, ao sair da chácara
cedida por um amigo, onde passara o final de semana com a família, Jonas não
conseguia ligar o motor do automóvel. Simplesmente não funcionava. Para
completar, seu telefone celular estava com a bateria descarregada. Deixou a
esposa e o filho esperando e saiu à procura de socorro. Depois de uma hora de
caminhada, chegou a um posto de gasolina.
Estava fechado. Não
funcionava aos domingos. O vigia deu-lhe o número de um mecânico que morava em
cidade próxima. Num telefone público fez a ligação. Quando atenderam, explicou
seu problema, onde estava, bem como a localização do automóvel. Precisava de
socorro.
O atendente logo
informou:– Meu nome é João. Fique tranquilo. Normalmente não trabalho aos
domingos, mas, tratando-se de emergência, posso chegar aí rapidinho. São apenas
trinta quilômetros.
Jonas ficou
aliviado e ao mesmo tempo preocupado. Não ficaria barato e ele não andava bem
de finanças. Viera passar o final de semana na chácara justamente por não estar
em condições de pagar hotel.Trinta minutos depois, João chegou.
Jonas subiu em sua caminhonete e partiram. Quando chegaram verificou,
espantado, que o mecânico tinha problemas nas pernas. Usava muletas.
Valendo-se delas,
aproximou-se do automóvel, fez o exame e logo informou:– É apenas a bateria
descarregada. Providenciarei uma carga.
João era de uma
simpatia cativante. Sorridente, enquanto a bateria carregava, distraiu o filho
de Jonas com truques de mágica e chegou a tirar uma moeda da orelha, dando-a ao
garoto. Terminado o serviço, Jonas, preocupado, perguntou quanto era. Surpreso,
ouviu a resposta:
– Não é nada.
– Nada?!… Não
entendo... Você perdeu tempo, em seu dia de folga, usou o caminhão, gastou
gasolina…
– Não é nada –
confirmou ele.
– Não é justo. Por
favor, é minha obrigação.
Jonas sorriu
– Olhe, meu amigo,
há alguns anos alguém me ajudou a sair de uma situação muito pior, num acidente
em que fiquei dependente de muletas. A pessoa que me socorreu, levando-me ao
hospital e salvando-me a vida, simplesmente disse o mesmo: – Não é nada. Apenas
lembre-se, quando tiver oportunidade, faça o mesmo, porquanto somos todos anjos
de uma asa só. Precisamos nos abraçar para voar.
Nessas histórias,
leitor amigo, temos exemplos marcantes de superação, tanto no aspecto material
quanto espiritual. Pessoas que vencem suas provações sem cair no desespero ou
na revolta, aprendendo, consoante o ensinamento do Cristo, que nossa cruz
ficará leve se nos ajudarmos uns aos outros.
Há um problema a
ser encarado. A tendência de imaginarmos que a nossa dor é maior do que a do
vizinho.
É quando sentimos
pena de nós mesmos e nos fechamos, acabrunhados. Nada mais longe da realidade.
Há milhões de pessoas no mundo com problemas piores que os nossos.
Se nos sentimos o coitadinho, aos nossos olhos o problema
ficará bem maior do que é, induzindo-nos ao desalento e à tristeza, maus
conselheiros que paralisam nossa iniciativa.
Importante é não
parar, seguir adiante, conservando o bom ânimo e o empenho de servir, de ajudar
o próximo, fazendo sempre o melhor.Isso é fundamental para nossa felicidade.
Lembrando o mecânico João, somos anjos de uma asa só. É preciso que nos
abracemos para que possamos ganhar o Céu.
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