Perguntaram a Chico Xavier:
– Você faria uma plástica facial?
– Claro, se me fosse possível, pois
assim não assustaria tanto meus semelhantes.
A resposta bem-humorada do médium nos
conduz à problemática dessa especialidade médica, bastante desenvolvida na
atualidade.
Técnicas modernas tornaram os
procedimentos mais simples e acessíveis.
Há, porém, sob o ponto de vista
espiritual, a impertinente questão:
Será lícita essa iniciativa,
buscando-se a beleza física, quando o que importa é o embelezamento espiritual?
Bem, amigo leitor, costuma-se dizer
que para sermos felizes devemos gostar de nós mesmos.
Obviamente, isso envolve, também, a
aparência.
Razoável, portanto, que a pessoa não
satisfeita com seu visual trate de melhorá-lo.
Argumentam os opositores que seria
incensar a velha vaidade humana, tão prejudicial à evolução do Espírito.
Se assim considerarmos, deveremos
renunciar aos cuidados com a roupa, os sapatos, os cabelos, a higiene pessoal…
Todos apreciam uma pessoa bem
trajada, cabelos bem penteados, suave perfume…
Igualmente desejável boa postura, ar
saudável, expressão jovial, harmonia nos traços, ausência das rugas que tanto
incomodam a alma feminina.
Há profissionais que devem observar
cuidadosamente esses aspectos: modelos e artistas, por exemplo, cujo trabalho
exige apuro com o visual.
Condenável seria o excesso.
Vejo pessoas que se submetem a tantas
recauchutagens faciais que ficam com a aparência de uma boneca de cera, pele
esticada, face inexpressiva.
Ouvi, certa feita, famosa atriz já na
madureza, a proclamar que jamais se submeteria a cirurgia rejuvenescedora
facial, por considerar que rugas dão dignidade e respeitabilidade à velhice.
Exemplar sua postura, embora não
devamos levar sua observação a extremos, suprimindo até mesmo os recursos de
preservação da saúde.
Afinal, de certa forma contrariamos a
Natureza quando lutamos contra a morte, buscando longevidade.
***
Há a questão do carma.
A cirurgia plástica estaria interferindo na programação cerâmica.
Será?
Consideremos a herança genética.
Herdamos de nossos pais suas
características físicas e não me parece que toda uma ancestralidade tenha enfiado
o nariz onde não devia ou não ouviu os avisos da vida, justificando o nariz
adunco ou as orelhas de abano.
Mesmo quando há legítimo problema
cármico, relacionado com a aparência ou a funcionalidade física, isso não
significa que não possamos corrigi-lo ou amenizá-lo.
Na contabilidade espiritual, quando
se trata do pagamento de débitos cármicos, a Medicina, com seus avanços, é a
própria Misericórdia Divina a nos oferecer generosos descontos, amenizando as
dores do resgate.
***
Consideremos, ainda, que a dor é
apenas o estágio primário no processo de reajuste quando contrariamos as leis
divinas e nos comprometemos no mal.
Num segundo estágio, há os prejuízos
que causamos.
Um exemplo:
Num exercício de vandalismo, chuto a
vitrine de uma loja, fazendo-a em pedaços. No ato corto a perna e vou parar no
hospital.
Dependendo dos recursos que venha a
mobilizar, inclusive cirurgia plástica, posso demorar mais ou menos na
recuperação, ficar ou não com antiestética cicatriz ou limitação de movimentos,
mas o resgate de minha dívida com o comerciante será o meu compromisso maior.
Somente estarei liberado quando
ressarcir os prejuízos que lhe causei.
Ainda que ele não necessite dessa
reparação, sentir-me-ei em débito com minha própria consciência, obrigando-me a
ações compensatórias dirigidas ao bem comum.
***
Podemos considerar a cirurgia plástica uma espécie de maquiagem para o
homem perecível, sem nenhum efeito na economia do Espírito imortal.
Portanto, caro leitor, use-a, se o
desejar, sem abusar, e lembre-se:
O bisturi melhora precariamente o
visual físico.
Para melhorar o visual espiritual é
preciso usar largamente outro bisturi: o empenho de renovação, extraindo
mazelas e imperfeições de nossa alma, mão firme no esforço do Bem.
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