Introdução
Ronald Laing, psiquiatra inglês, afirma que “os
místicos e os esquizofrênicos encontram-se no mesmo oceano; enquanto os
místicos nadam, os esquizofrênicos se afogam.”
A relação entre mediunidade e doença mental vem
de muito tempo. Veremos adiante sua relação com o demonismo da era medieval.
Allan Kardec dedica o capítulo XVII de O Livro dos Médiuns para tratar dos
“Inconvenientes e Perigos da Mediunidade” e questiona se a mediunidade poderia
desenvolver a loucura. Os Espíritos respondem que não, desde que não haja
predisposição para isso. A resposta ensejará pequena consideração quando
tratarmos da visão da loucura, à época de Kardec.
Conceito
histórico da loucura
Reconheço que cabe ao Prof. Isaías Pessoti todo
o material que serve de base a essa parte, graças ao seu “A Loucura e as
Épocas”.
Esquematicamente, veremos o conceito de loucura
conforme as épocas mais importantes da humanidade ocidental, nos fixando nos
períodos que definiram novos conceitos.
Conceito
de Loucura na Antiguidade
A Antiguidade grega tem em Homero, autor de as
Ilíadas, a primeira conceituação de loucura. A época de Homero e de Hesíodo tem
a loucura como consequente à ação dos deuses, que a usavam como recurso para
que os seus desejos não fossem contrastados pelos desejos dos homens.
O homem não é soberano sobre si mesmo, têm os
deuses poderes para interferirem como queiram na vida dos mortais. A loucura é
de origem externa ao homem, é o roubo da razão pelos deuses, que determinam a
vida do homem.
Eurípedes aponta a origem da loucura como
decorrente de conflitos internos, o homem não seria conduzido fatalmente à
loucura, senão por uma parcela de responsabilidade. Porém, cabe aos deuses
roubar a razão.
Hipócrates vê o homem como um ser em equilíbrio
orgânico. Qualquer desarranjo nesse desequilíbrio, provoca a doença e a
loucura. A causa da loucura é a ruptura do equilíbrio orgânico, uma visão
aparentemente organicista, não fosse a anátomo-fisiologia de Hipócrates calcada
em bases metafísicas.
Quem profundamente marcou o conceito médico de
loucura foi Galeno. Ele restaurou a vida psíquica do homem, trazendo o conceito
de pneuma psychicon, a sede da vida mental.
A Antiguidade Clássica apresentou, enfim, três
perspectivas de loucura. Numa ela aparece como obra da intervenção dos deuses,
noutra afigura-se como um produto dos conflitos passionais do homem, mesmo que
permitidos ou impostos pelos deuses; numa terceira, a loucura afigura-se como
efeito de disfunções somáticas, causadas eventualmente, e sempre de forma
mediata, por eventos afetivos.
A
Doutrina Demonista
A ideia medieval da intervenção diabólica como
causa da loucura, e de outros distúrbios do homem, não deve ser entendida como
algo que surgiu naquele momento, de modo circunstancial.
Toda a fundamentação teórica do que chamaremos
de período escuro do saber humano, onde a imposição teológica serviu como
instrumento coercitivo de poder, vem dos primórdios do cristianismo e surgiu
como consequência da doutrina desenvolvida a partir dos Padres Apostólicos até
Agostinho de Hipona.
A doutrina que se caracterizou como sendo a
doutrina de Cristo, tem em sua concepção teológica, a figura do satanás, no
sentido nítido de opositor, como sendo a figura do outro. Os pagãos e tudo que
a eles se relaciona passam a ser demônios.
Agostinho afirma que o mal não existência
própria; Deus permite a existência do demônio para tornar possível o
aperfeiçoamento do homem pela busca de Deus.
Tomás de Aquino faz da Escolástica referência
da doutrina demonista, que vê o demônio como conhecedor das coisas e dos
homens, habita o éter e age com a permissão de Deus.
O mundo se povoou de demônios e, talvez,
possamos resumir o que representou essa época de obscurantismo para a
psicopatologia compreendendo que, para a doutrina demonista, não se afirma
“possesso, portanto louco; mas, louco, portanto possesso.”
Como alguns sinais que evidenciam possessão
diabólica, cita Chondrochi:
“… falar línguas desconhecidas ou entendê-las
quando faladas por outros; descobrir e revelar fatos ocultos, esquecidos,
futuros, secretos, pecados e pensamentos dos presentes; discutir assuntos
elevados e sublimes quando se é ignorante; falar com elegância e doutamente
quando se é ignorante; sentir-se impulsionado por uma persuasão interior a
lançar-se num precipício ou ao suicídio; tornar-se inesperadamente tolo, cego,
coxo, surdo, mudo, lunático, paralítico.”
Enfoque
Médico da loucura
No século XVII a psicopatologia tem forte
inspiração da doutrina platônica e do galenismo. Mesmo assim, o conceito de
possessão ainda é admitido como causa da loucura. Mas a loucura passa a ser
encarada como fenômeno natural e da alçada médica.
No século seguinte, Cullen afasta-se do
galenismo e classifica a loucura como desarranjo das faculdades intelectuais.
Não afasta a possibilidade, ainda que remota, da intervenção demoníaca. Arnold
reforça que o substrato da loucura é alteração das faculdades mentais, não
necessariamente das funções cerebrais.
A
Loucura Segundo a Psiquiatria do Século XIX
O início do século passado foi a era de Pinel.
Esse alienista que, quando indicado para o Hospital de La Bicêtre, liberta os
loucos das amarras por entender que a loucura é fruto da imoralidade, entendida
como os excessos e paixões de toda a ordem.
Pinel admite a loucura como lesão das
faculdades mentais, de ordem orgânica ou moral. Por isso, propõe um tratamento
moral da loucura, indicando a função de um diretor espiritual e ação notadamente
repressora sobre os pacientes, que chamaria de reeducação moral.
Esquirol, discípulo de Pinel, esforça-se em
buscar uma correlação orgânica com as diferentes formas da loucura, mas admite
que existe loucura sem que se detecte qualquer lesão cerebral. Mas toda causa
moral tem sua ação obrigatoriamente sobre o encéfalo.
Perchappe, que teve o mérito de um estudo
epidemiológico da loucura, afasta do estudo da loucura qualquer especulação
filosófica.
Cotard antecipa o enfoque psicodinâmico, mas
trata de afastar a metafísica, principalmente a especulação sobre os corpos do
homem. Desenvolve uma teoria psicopatológica de repressão do desejo, agindo
sobre a mente, mas recusando-se a estudar a alma e o espírito.
Conceito
espírita da loucura
Podemos passar ao estudo do conceito espírita
da loucura, que teremos em Bezerra de Menezes, “A Loucura Sob Um Novo Prisma” e
Manoel Philomeno, desenvolvendo as ideias de Bezerra, em “Loucura e Obsessão”.
À época da Codificação, o conceito de loucura
elaborada por Esquirol encontrava enorme repercussão. A busca de um substrato
cerebral como causa da loucura, em uma época marcada pelas mesas girantes, faz
justificar a mediunidade como fruto da alucinação.
A negação do princípio espiritual, ou a
afirmação de uma alma apenas metafísica, faz ver como produto de uma mente
excitada os fenômenos visuais da mediunidade. A teoria alucinatória tenta
enquadrar a mediunidade na psicopatologia, nos quadros de exaltação delirante.
Mas o que é a alucinação? Um erro da percepção,
dirão os alienistas. Mas por que ocorre esse erro? Se é um erro, por que o
caráter inteligente da alucinação, que se comunica com o que alucina de forma
coerente e racional, dando sobejas provas da existência de um ser comunicante?
Qual a fisiopatologia da alucinação?
Allan Kardec responde essas questões em O Livro
dos Médiuns, propondo uma teoria da alucinação, que ocorre como decorrência da
leitura das impressões cerebrais pela alma emancipada. Onde estariam essas
impressões? Na verdade, não no cérebro físico, mas registradas nas camadas mais
grosseiras (ou mais densas) do perispírito _ especulo ousadamente. O que se
ressalta da fisiopatologia da alucinação proposta por Kadec é a inclusão da alma,
ou do Espírito reencarnado, atuante, não abstrato.
Desnecessário nos é falar sobre as provas da
realidade espiritual. Reforçamos apenas que, o desenvolver de uma teoria
espírita da loucura, tem por base o homem/Espírito, tão bem apresentado por
Kardec e pelos sábios Instrutores espirituais.
A decorrência natural de assumir-se a primazia
do Espírito sobre o corpo é discutir-se o papel do cérebro nas manifestações da
alma.
Como pudemos observar na evolução do conceito
de loucura, partiu-se de causas exteriores à vontade do homem até a visão
hipocrática de alteração dos humores orgânicos. O cérebro se constituiu como
órgão do pensamento, até que a doutrina demonista trouxe o terror representado
por intervenções além do cérebro, provocando a loucura. Criou-se, depois o
termo faculdades mentais como consequência de ter-se loucura mesmo com o
cérebro íntegro. No final do século passado a visão de que alteração da
fisiologia cerebral traz doença mental, reinforçou a centralização da mente
sobre as funções cerebrais.
Hoje, a ciência vê o cérebro como complexa
glândula endócrina, indo mais além, possuidor de bilhões de circuitos por onde
transitam os pensamentos e as ideias. Onde está a consciência, onde está a
mente? Nenhum gênio das ciências da mente saberá responder. Um tema palpitante
de especulação científica é o da interação mente-corpo, que é de orientação
notadamente organicista, por isso, muito mais próxima do materialismo vigente.
Como consequência dessa visão, que não admite
qualquer especulação filosófica nos moldes clássicos, decorrente da postura
cientificista de Perchappe, justifica-se, por exemplo, a esquizofrenia como
alteração da neurotransmissão cerebral, afetando sistemas neurotransmissores da
dopamina, serotonina e noradrenalina, de áreas específicas do cérebro. A mesma
série de neurotransmissores, em locais diferentes do cérebro, é evocada para
justificar a depressão, a dependência química, entre tantas doenças de
manifestação, evolução e tratamento diferentes.
A teoria psicodinâmica, que envolve os
fundamentos da psicologia médica, entre elas a psicanálise, a vertente
cognitiva-comportamental, entre outras, estabeleceu-se como ramo
não-especulativo, modernamente, acomodando-se como subsídio terapêutico e
afastando de si as vertentes que não se adequam à submissão ao organicismo.
O livro “A Loucura Sob Novo Prisma”, de Bezerra
de Menezes, após apresentar a cosmogonia espírita, começa por definir o papel
do cérebro nas manifestações da mente. Seria o órgão do pensamento, gerador dos
sentimentos, dos afetos, dos ideais, do amor? A capacidade de amor ou ódio se
mede por disposições cerebrais diferentes? Tal especulação repugna à ideia.
Reduz o papel dos avatares da humanidade ao de simples produtos de um cérebro
anormal (anormal enquanto fora dos padrões usuais). Por outro lado, faz do
depravado, do homicida cruel, do serial killer, uma vítima de seu órgão
diferenciado, porque pouco desviado do normal. Uma visão como essa justifica
uma sociedade que produziu ideias de seleção de raças, a eugenia.
Mas há fragilidade em considerar-se o cérebro a
sede da mente, ou consciência. Em 1966, uma notícia teve repercussão em todos
os Estados Unidos. Ernest Coe tivera todo o seu hemisfério cerebral esquerdo
destruído por um tumor, que foi extirpado cirurgicamente. Para surpresa da
equipe médica, o paciente permaneceu vivo por mais de seis meses, mantendo
todas as suas funções normais. Destaco que o hemisfério esquerdo é o dito
dominante. Mais ainda, se o cérebro é a sede da consciência, como justificar
tal fato? Por reação vicariante, ou seja, a hipertrofia de funções pelo lado
remanescente?
Mais ainda, em se considerando o cérebro como
sede da mente, produtor dos pensamentos, ideias, emoções, sentimentos. Mesmo
entre gêmeos univitelinos, existe discordância de 50-40% na incidência de
esquizofrenia quando um dos pares é afetado. Fosse o cérebro a sede da mente,
por serem os gêmeos univitelinos donos de aparelhos idênticos, por que a
discordância e não o fatalismo?
Estejamos prontos para a visão espírita do cérebro
como instrumento da mente. Emmanuel define a mente como “o espelho da alma”, em
seu livro “Pensamento e Vida”. Na verdade, a mente não é a alma, mas é fruto
dela. Não está no cérebro, mas no perispírito, que reflete as disposições do
Espírito eterno.
O corpo intermediário entre o Espírito e o
corpo imprime na matéria densa as disposições colhidas nas experiências
passadas e atuais, atuando como vigoroso modelador biológico. Assim, cada
célula, em sua ligação molecular com o perispírito, recebe as impressões de
variada ordem, reflexo da jornada individual. Ao ser encaminhado à
reencarnação, o Espírito expressa seu propósito de renovação, confrontando com
o arrastamento das tendências. Essa psicologia profunda se irradia por todo o
perispírito que a transpõe ao corpo físico, gerando as disposições orgânicas às
doenças, que no fundo são sempre de gênese espiritual.
O Espírito se exprime, o que o perispírito
manifesta como pensamento. Quando encarnado, encontra no cérebro físico apenas
um instrumento. Se esse instrumento encontra-se lesado, não exprimirá o
pensamento vindo do perispírito. Mas se o cérebro encontra-se alterado apenas
funcionalmente, sem lesão alguma, é porque o gerador do pensamento o faz de
modo defeituoso. Qual a causa da alteração do pensamento, em nível anterior ao
cérebro, ou seja, no campo do corpo espiritual?
O próprio corpo espiritual pode achar-se
alterado transitoriamente, devido a sentimentos diversos, cuja gênese está no
remorso, gerado por sentimento de culpa. Pode, também, estar sob a influência
nociva de outra mente espiritual, interferindo diretamente sobre suas funções,
no caso, obsessão espiritual.
Nos casos onde há o que chamei de alteração
transitória do perispírito, transitória no sentido de que não é eterno, ocorre
o que conhecemos por processos auto-obsessivos. Nesses fenômenos, não há a
interferência direta de entidades estranhas nas gêneses da psicopatologia de
nível espiritual.
O livro “Os Mensageiros”, de André Luiz, traz o
caso de Paulo, internado em Posto de Assistência, ligada a Nosso Lar. Esse
Espírito, recolhido em estado de profunda alienação, apresentava psicosfera
repleta das imagens por ele geradas, quando foi acometido pelo remorso por suas
ações nefandas. André Luiz auscuta todos os conflitos que o paciente vivencia,
as imagens das pessoas por ele lesadas, as consequências de seus atos. Paulo,
esse o nome do Espírito adoentado, experimentava fenômeno auto-obsessivo, já no
plano espiritual.
Em “Loucura e Obsessão”, Manoel Philomeno
traz-nos o caso de Ânderson, que estava sendo tratado no terreiro de Umbanda,
dirigido espiritualmente por Emerenciana. Ânderson se enquadrava no diagnóstico
médico de autismo, tal seu estado de introspecção e fuga da realidade. Dr.
Bezerra diagnostica processo auto-obsessivo, cuja gênese está em carpir intensa
atividade mental em faixas do crime e da viciação, cometendo delitos que podem
ser ocultados de todos, exceto da consciência que os registra e exige
reparação. Transmite ao cérebro essa realidade, gerando circuitos cerebrais que
aniquilam a polivalência das ideias. Tais são os processos depressivos graves,
sem resposta terapêutica, por que o cérebro apenas transmite os fenômenos do
Espírito adoentado.
No caso em questão, Ânderson buscava
sôfregamente o refúgio de seu castelo celular para não enfrentar a própria
consciência que acusava, agravado pela presença de cobradores espirituais.
Quando o processo se dá pela interferência
obsessiva, geralmente o Espírito interferente logra atingir seus resultados
pela sintonia que faz com sua vítima.
Numa rememoração rápida, Allan Kardec
classificou a obsessão, conforme sua intensidade, em simples, fascinação e
subjugação. André Luiz afirma que os processo de fascinação e subjugação podem
ser agravados por fenômeno de vampirização.
O mecanismo que leva à fascinação e à
subjugação é apresentado pelo Dr. Bezerra de Menezes, que o subdivide em duas
fases distintas, desfalecimento e arrastamento.
Na fase de desfalecimento, o que ocorre é
reação advinda da concessão a um mal que subjugava intimamente. Nesse caso, um
homem bom, tinha nos seios da alma uma paixão que subjugava e, um dia, por
circunstância imprevista, foi por ela arrebatado. Despertado após o mal já
cometido, tenta encobrir a falta ao invés de vomitar o veneno, instalando em si
o gérmen do desequilíbrio.
Com o abrir as portas da invigilância aos maus
Espíritos, é incitado a saciar a sede da paixão represada, porém não o obtém
senão às custas de um mergulho profundo. Se começa tremendo, vai envolvendo-se
mais e mais, até o total rompimento com os valores que cultivava. Isso é o
arrastamento.
Na fase de arrastamento, está de todo
vulnerável, as defesas acaso erguidas baixam-se e pode, finalmente, ser
atingido por inimigos de outrora, que se tornam empedernidos cobradores,
buscando tirar muito mais do que deram, em vingança cruel. Outras vezes, se
torna joguete de Espíritos cruéis, que o utiliza como um mero servo de seus
desejos, escravizando-o em vampirizações cruéis.
Quem não se lembra do jovem candidato à
mediunidade, apresentado por André Luiz em “Os Missionários da Luz”, que traz
em seu centro de força genésico duas entidades vampirizadoras, acopladas
parasiticamente pela sintonia dos lupanares?
Certa ocasião, foi encaminhado ao nosso Grupo
de Desobsessão, jovem, masculino, alcóolico, que apresentava distúrbios da
conduta sexual, manifestada por travestismo e prostituição. Buscando
auxiliá-lo, em técnica de desdobramento, o médium Z detectou entidade
espiritual de aspecto degenerado, de formas esquálidas, como se fosse um corpo
mumificado, segurando em sua mão algo semelhante a uma garrafa, fixado ao paciente
através do centro genésico. Após intervenção dos dirigentes espirituais na
remoção do ser oportunista, houve acentuada melhora do paciente, que até hoje
não cumpriu a promessa de retornar ao grupo.
Devemos, também, abordar os casos de loucura
decorrentes de alterações funcionais do cérebro que se dão em função de
processos expiatórios, decorrentes das faltas cometidas pelo que hoje padece.
Nesses casos, como o Espírito culpado gera vítimas, pode-se associar quadros
obsessivos que atuam como complicadores da doença.
Quando o Dr. Bezerra de Menezes foi solicitado
a acompanhar o caso de Carlos, conforme está no livro “Loucura e Obsessão”, o
paciente, de vinte anos, há oito padecia de esquizofrenia do tipo catatônica. O
bondoso médico deu o diagnóstico como correto, mas questionou o prognóstico.
Além da realidade cerebral, a realidade espiritual de Carlos mostrava agravante
quadro obsessivo, complicador de seu resgate expiatório.
O paciente sofria todos os processos orgânicos
da doença grave, mas a influência obsessiva perturbava-lhe as funções do
sangue, gerando anemia e carências várias.
Tanto nos casos de obsessão de longo curso,
como de loucura agravada por subjugação, o cérebro pode sofrer consequências
danosas, o que torna a cura complexa e de difícil curso.
O sofrimento imposto pela doença, gerada pelo
Espírito, que imprime em seu perispírito os transtornos consequentes às faltas
perpetradas, refletidas nas alterações sobre os centros de força nos casos
expiatórios, ou em transtornos auto-obsessivos, bem como no processo de
subjugação pelo arrastamento, pode levar o cérebro a processo demenciais.
Isso porque, nos casos expiatórios, os centros
de força estão desorganizados, reflexo das faltas passadas e da culpa assumida
pelo Espírito. Nos casos de subjugação, a emanação fluídica do Espírito
obsessor atua diretamente sobre o perispírito da vítima, também fazendo com que
o fluxo energético entre os centros de força não se dê de modo adequado. Nos
processos auto-obsessivos, há excessiva contração dos chakras afetados.
Tratamento
Espírita da Loucura
Uma vez que tentei tratar de tema tão complexo,
vasto, difícil, que é a visão espírita das causas da loucura, o que poderíamos
esperar de um tratamento genuinamente espírita?
Nos casos onde há a intervenção médica, as substâncias
recomendadas devem ser ministradas. No caso de Carlos, Dr. Bezerra não
desaconselha o tratamento médico. Isso porque os anti-psicóticos trazem alívio
ao cérebro excitado, diminuem os ricos decorrentes das atitudes bizarras e
condutas inapropriadas. Depois, aprimoram, no que é possível, o instrumento já
avariado em seus circuitos, ainda que não conseguindo atingir o agente causador
do distúrbio, que é o Espírito.
Ao tratar da terapia espírita da loucura, o
sábio Bezerra de Menezes propõe:
fluidoterapia intensiva: Carlos era submetido,
pelos Espíritos, a fluidoterapia quatro vezes ao dia;
terapia ocupacional, voltada para o próximo, em
atividades de benemerência, que visam despertar o ser eterno e fazê-lo granjear
méritos que aliviarão suas dívidas a serem resgatadas;
desobsessão, que visa moralizar o Espírito
obsessor, não pela repressão, mas pelo convite ao perdão como instrumento da
própria liberação;
moralização do paciente, que tem por objetivo
despertá-lo para os erros cometidos e para a necessidade de renovar-se pela
prática do bem.
Nesse ponto, poderíamos questionar como
moralizar um louco? É o que questiona o próprio Bezerra de Menezes, para depois
responder que o faz através da evocação do Espírito encarnado, fato esse que
não se faz sem risco de mistificação, exigindo a mais alta seriedade de
propósitos e profundo senso crítico e conhecimento profundo dos mecanismos da
obsessão.
A proposta terapêutica espírita é absolutamente
uma terapia moral. Desconsideremos aqui o conceito de moral como costumes
aceitos, mas ressaltemos moral como conduta de elevação espiritual. Por isso,
diferentemente de Pinel, a terapia a ser empregada não é repressora, pelo
contrário, visa libertar o doente das amarras através do esclarecimento, do
convite à prática de atividades de benemerência, do envolvimento daqueles que,
antes de serem tratados por Espíritos obsessores, são seres como nós, que
merecem nossa atenção e nosso carinho.
Certa ocasião, em desdobramento fisiológico,
fui conduzido ao Sanatório Espírita de Anápolis, para uma praça que não tem
equivalência física. Encontrei Justino, um paciente psicótico crônico, cuja
família não o suporta, mas que sempre mantive animado relacionamento. Ele
estava sério, não tinha a fácies de alienação, mas seu olhar era de uma lucidez
que jamais vi em Justino. Se aproximou mais e mostrou-me uma cena em que ele
protagonizava um desequilibrado, como a era na realidade cotidiana dessa
existência. Disse-me que era louco por imposição da corrigenda, que sofria
muito, como Espírito, vivenciar tudo aquilo, as experiências como um celerado.
Desde aquele dia, percebi que Justino não era
doente, era um ser como qualquer um de nós, ele tinha alma. Suas dificuldades,
oriundas de pesada expiação, por certo não encontrariam alívio imediato nessa
existência, e lembrei-me do amigo Bezerra de Menezes, que dava apenas o que
tinha de si, o amor.
Quando diante de irmãos em expiações pelos
corredores da alienação, lembremos da Dra. Kübler-Ross que, nomeada psiquiatra
numa instituição que abrigava psicóticos crônicos, ofereceu a eles amor, e, aos
poucos, eles foram recobrando a lucidez que lhes era ainda possível, mas o
suficiente para retornarem aos seus lares.
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