“Da
conduta dos indivíduos depende o destino das organizações”. (Espírito André
Luiz”
A partir de autorreflexões, censuro emoções, pensamentos
e atitudes frente à diversidade de fatos que marcam o conturbado cotidiano do
País, com a população totalmente aturdida. Delas surge o questionamento:
É possível exercitar uma consciência
espírita em uma sociedade polarizada como a brasileira?
A polarização decorre dos princípios “certo ou
errado”, “bem ou mal”, “direita ou esquerda”. Havendo somente duas alternativas
em discussão, é óbvio que todos defenderão sua opinião como verdadeira. Esse
tipo de pensamento – linear/binário/cartesiano – é que levou o físico americano
de posterior cidadania brasileira e britânica chamar de “a doença do
pensamento”, de fácil diagnóstico, que tem como principais sintomas: imediatismo, superficialidade e o simplismo.
O pensamento linear foi decisivo para o
progresso das ciências, notadamente pelo racionalismo cartesiano, elaborado por
René Descartes – Discurso do Método -, em 1637, onde expressa a sua preocupação
com o conhecimento. Descartes dividiu a realidade em res conngitas (consciência e mente) e res extensa (corpo e matéria).
Na questão nº 833 de O Livro dos Espíritos, os Reveladores Celestes afirmam que “é pelo pensamento que o homem goza de
liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves. Pode
impedir-se a sua manifestação, mas não aniquilá-lo.” Vê-se, pois, que o
pensar é inerente à condição humana. A questão difícil quanto ao pensamento é
fazê-lo fechado, pois se permite dessa forma tornar o indivíduo vulnerável às
manipulações e condicionamentos. Pelo pensamento, pode-se tornar a mente o céu
ou o inferno. Fomentando as ideias derivadas das paixões, ele aliena e
brutaliza o indivíduo.
A Doutrina Espírita é permeada pela fé
consolidada na razão. Ao se priorizar o pensamento linear, não se permite o uso
da razão. Em um dos trabalhos do pintor espanhol Francisco Goya, ele o intitula
“O sono da razão produz monstros”. São
concebidos, dessa forma, os monstros do fanatismo, do fundamentalismo
religioso e do fascismo. O pensamento linear foi o grande causador da
Inquisição, das Guerras, da “Guerra Santa”, do 11 de setembro. Pensando-se
linearmente, há a possibilidade de se compactuar com a corrupção,
transgressões, violações de direito, mentiras e validar injustiças. O indivíduo
transita da insensatez ao cinismo. Da lassidão à violência.
As leis de Deus estão inscritas na consciência,
sendo a mais importante das leis naturais a Lei de Justiça, Amor e Caridade. A
conquista do elevado estágio de consciência é o propósito de todo Espírito,
pois através dela é que se alcança a plenitude espiritual. Atinge-se o nível de
conscientização quando se pode discernir com acerto. Para isso, é necessário se
fazer uso do equilíbrio como parâmetro, ponto elevado da condição humana, nunca
agindo como de forma excludente, limitando-se e perdendo a capacidade de
individualidade pensante, dificultando a reflexão, a percepção dos matizes, das
nuanças, da pluralidade e da diversidade.
Persistindo nesta forma de pensar, é impossível
conduzir o processo de conscientização para valores elevados da vida, no que
diz respeito aos deveres e às responsabilidades pertinentes à vida. O
Espiritismo é dialético, pois através da dialética Allan Kardec o organizou.
“Dialética é movimento, movimento
ocasionado pelo contraditório, é um movimento contínuo de ciclo aberto e
espiralado. O movimento possui três momentos iniciais, que podem ser
denominados tese (afirmação), antítese (negação) e síntese (negação da
negação).” (1)
A dialética espírita tem sua base fundamental
na reencarnação, – que se realiza através da lei de causa e efeito – no nascer
(encarnar/tese), morrer (desencarnar/antítese) e renascer (reencarnar/síntese).
Nela se explica o ser plural que se é.
O modelo de pensar pelo qual se atingirá a
consciência espírita é o pensamento complexo, que é circular e integrador.
Quando se fala em circularidade, é bom lembrar que a evolução da consciência se
dá em forma circular e espiralada. As pessoas dotadas de pensamento complexo
são integradoras e não excludentes como as dotadas de pensamento linear. Ele
vai além do ego – reconhecendo o outro – que é um componente sociocultural e
não um componente da mente. O Espírito Joanna de Ângelis, através do médium
Divaldo P. Franco, na obra
Autodescobrimento, afirma que:
“o ego é produção do estado de
consciência, portanto, transitório, impermanente.”
O espírita consciente da necessidade de galgar
estágios mais elevados de consciência não pode negar d esses
conhecimentos, ainda mais que tudo está validado na questão nº 913 de O Livro dos Espíritos, quando os Espíritos superiores respondem que entre
os vícios o egoísmo é o mais radical:
“Quem nesta vida quiser se aproximar da
perfeição moral deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque
o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza
todas as outras qualidades.”
Esse momento é ideal e fundamental para se combater o bom combate que o Apóstolo
Paulo assegura, e o que deve fazer o espírita é guardar-se na fé espírita que
conduzirá a Humanidade para dias mais gloriosos.
(1)
NUNES, Alexandre L.S. Cristianismo, socialismo, espiritismo e dialética. Rio Grande do
Sul: Bibliotecária Daiane Schramm – CRB-10/1881.
Referências:
BOHM, David. O pensamento como um sistema. São Paulo: Masdras, 1994.
FRANCO, Divaldo. Autodescobrimento. Bahia: ALVORADA, 1993.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2000.
MARIOTTI, Humberto. Pensamento complexo. São Paulo: Editora Atlas, 2007.
NUNES, Alexandre L. S. Cristianismo, socialismo, espiritismo e dialética. Rio Grande do
Sul: Bibliotecária Daiane Schramm – CRB-10/1881.
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