A população brasileira, perplexa, está tomando
ciência das inúmeras revoltas de presos nas penitenciárias, apresentando
desfechos trágicos com dezenas de mortos.
Os detentos são separados, na prisão, de acordo
com suas facções criminosas e as rebeliões têm ensejo, primeiramente, quando os
adversários se confrontam, culminando, infelizmente, com muitos assassinatos e
a fuga de perigosos meliantes.
Infelizmente, as precárias condições das
unidades prisionais brasileiras não permitem a ressocialização dos internos.
Cada vez mais se acentua o quadro caótico em que se encontra o sistema
carcerário brasileiro, impedindo sobremaneira a inserção dos penalizados na
sociedade.
As estatísticas apontam grave ineficiência do
aprisionamento com ampla incidência de reincidências de graves delitos (mais de
70%), quando já cumpriram a pena e estão em liberdade. A permanência na prisão,
sem uma perspectiva plena de recuperação dos internos, prova a ineficácia do
aparelhamento presidiário nacional.
Ao invés dos presos serem subsidiados pelo
Estado, deveriam ser implementadas medidas para que possam trabalhar fora ou
dentro de suas celas e garantir meios financeiros de subsistência para suas
famílias e, se possível, propiciar o ressarcimento do dano causado aos
familiares de suas vítimas. Além do estímulo e da indispensabilidade das
tarefas remuneradas, deveriam ser praticadas medidas educacionais urgentes,
visando a possibilidade de recuperação de seu procedimento diante da vida.
O Espiritismo, sendo a Doutrina do Consolador
Prometido pelo Mestre Jesus, pode contribuir muito para a bendita oportunidade
de ministrar instrução aos detentos. Porém, a educação espírita não se resume
meramente no ensino tradicional das escolas, simplesmente intelectual e baseado
em fundamentos curriculares.
A Doutrina Espírita enfatiza: “Não a educação
intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que
consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque
educação é conjunto de hábitos adquiridos” (OLE - Q. 685-a).
É realçada que a verdadeira educação é a moral,
procurando despertar potencialidades inatas ao Espírito, expandir o senso
moral, despertar as virtudes e estimular o crescimento espiritual. Imperioso
tomar acesso ao ensino edificante do Mestre, através do estudo e da prática do
Evangelho, visando a melhoria do ser, esforçando-se na sua reforma íntima.
Introduzindo-se no estudo da Doutrina Espírita,
o reeducando penal tomará acesso ao pleno exercício da inteligência, do
sentimento, da criticidade, da disciplina, do cumprimento dos deveres, das
responsabilidades inerentes ao Espírito imortal que está na Terra, encarnado,
para progredir espiritualmente. Enfim, receber sublimes ensinos para a tão
esperada transformação para homens de bem, priorizando a prática do amor em
ação.
O autor dessas linhas teve a grandiosa
oportunidade de trabalhar pela “Instituição Espírita Cooperadoras do Bem Amélie
Boudet”, situada em Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro, dirigida pela
saudosa confreira Idalinda Aguiar Matos, durante alguns anos, no Presídio Ponto
Zero, localizado no bairro carioca de Benfica.
Efetuava assistência espiritual aos reeducandos
penais, em prisão especial, exatamente os internos que tinham instrução
superior ou eram policiais infratores. Foi um trabalho bem reconfortante, tendo
a oportunidade de ajudar e reeducar muitos irmãos penalizados, inclusive
afastando alguns do suicídio, seguindo o ensinamento crístico, inserido no
Evangelho de Mateus 25:36: ”Estive preso e foste me ver”.
O trabalho espírita, nos presídios, consiste na
alfabetização para iletrados e atividades doutrinárias, como imposição de mãos
(passes), palestras, evangelização e a implantação de bibliotecas espíritas.
Infelizmente, a presença do adulto infrator
revela a falência dos sistemas econômico, político e social, diante do menor
destituído do qualificado acesso à escola, à cultura, à saúde, à moradia, ao
lazer, enfim, à vida digna, sem o amparo do amor.
Governantes íntegros são os que se preocupam
com o bem-estar da população, envidando esforços para que os mais carentes
tenham acesso ao mínimo básico à sua sobrevivência. Como exemplos no mundo,
onde o sistema político é competente, são relacionados países como a Islândia,
Dinamarca, Áustria, Nova Zelândia, Suíça, Finlândia, Canadá, Japão, Austrália,
Noruega e Cingapura, os quais, entre outros, revelam baixíssima ou quase
inexistente taxa de criminalidade, segurança máxima garantida, vida
financeiramente tranquila e acesso fácil ao ensino e a saúde.
Vivenciando a inércia na profilaxia da
violência, ignorando suas causas, parte-se para um possível conserto das
consequências, sendo dada prioridade à adoção de leis penais severas. Tenta-se
tratar o efeito da agressividade, depois de desprezar fundamentalmente as suas
origens. É mais cômodo e fácil encarcerar do que agir profilaticamente,
principalmente na infância.
Ao invés de preparar previamente o indivíduo no
caminho do bem pela educação, executa-se o seu afastamento da sociedade e,
consequentemente, dando-lhe a chance de se tornar pior, especializando-se na
escola do crime junto com os outros encarcerados.
É fundamental agir na educação do infante. Na
questão 385 de O Livro dos Espíritos , a respeito da utilidade do período da
meninice no desenvolvimento espiritual do ser, é ensinado que “(...) os
Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para melhorarem. A
delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da
experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode
reformar o caráter e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos
pais, missão sagrada da qual terão de dar conta.
“Assim, portanto, a infância é não só útil,
necessária, indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus
estabeleceu e que regem o Universo”.
Importante frisar que os seres extrafísicos
ainda não esclarecidos, como os impuros (questão 102 de O Livro dos Espíritos
), “são inclinados ao mal, de que fazem o objeto de suas preocupações. Como
Espíritos, dão conselhos pérfidos, sopram a discórdia e a desconfiança e se
mascaram de todas as maneiras para melhor enganar. Ligam-se aos homens de
caráter bastante fraco para ceder às suas sugestões, a fim de induzi-los à
perdição, satisfeitos em conseguir retardar-lhes o adiantamento, fazendo-os
sucumbir nas provas por que passam.
“Nas manifestações dão-se a conhecer pela
linguagem. A trivialidade e a grosseria das expressões, nos Espíritos, como nos
homens, é sempre indício de inferioridade moral, senão também intelectual. Suas
comunicações exprimem a baixeza de seus pendores e, se tentam iludir, falando
com sensatez, não conseguem sustentar por muito tempo o papel e acabam sempre
por se traírem.
“Alguns povos os arvoraram em divindades
maléficas; outros os designam pelos nomes de demônios, maus gênios, Espíritos
do mal.
“Quando encarnados, os seres vivos que eles
constituem se mostram propensos a todos os vícios geradores das paixões vis e
degradantes: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a
avareza sórdida. Fazem o mal por prazer, as mais das vezes sem motivo, e, por
ódio ao bem, quase sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. São
flagelos para a humanidade, pouco importando a categoria social a que
pertençam, e o verniz da civilização não os forra ao opróbrio e à ignomínia”.
Esses irmãos espirituais têm o ensejo da reeducação
espiritual, ao reencarnar em mundos de provas e expiações, como a Terra,
recebendo, na fase infantil, ao lado de muito carinho, atenção, amor, acesso a
serviços de educação e de saúde qualificados, igualmente aos bons exemplos
daqueles incumbidos de cuidá-los e ensiná-los.
As primeiras décadas de vida são
importantíssimas para que consigam auferir algum progresso espiritual,
principalmente a reforma do caráter, de permeio à repressão das más tendências,
da má índole. Portanto, os Espíritos imperfeitos, albergando nefasta propensão
à prática do mal, passando pela infância, sem a oferta dos essenciais cuidados
e da instrução providas de amor, imunes a qualquer mudança do seu comportamento
malsão, revelam ostensivamente suas imperfeições, associando-se aos tóxicos e à
criminalidade, tornando-se artífices da violência.
O Espiritismo vem proclamar a necessidade do
amparo educativo ao preso, de acordo com o Evangelho, relatando que Jesus “veio
buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19:10) e disse que “não
necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes”, como, igualmente, “não vim
a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (Mateus 9:12-13).
O Cristo reafirma, em Lucas 4:18, o que o
profeta Isaías (Cap. 61: 1) afirmou: “o Espírito do Senhor DEUS está sobre mim;
porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a
restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a
abertura de prisão aos presos”.
Na Carta aos Hebreus, cap. 13:3, há uma
exortação digna de consideração: “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis
presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo”.
Portanto, a Espiritualidade Superior enfatiza a
importância de o interno penal ter um atendimento digno, porquanto a face da
lei deveria ser a do bem, contrabalançando com o lado do crime com o seu
semblante cruel e desarmônico. Se o lado do bem for revelado ao preso como uma
estrutura ruim, dificilmente a ressocialização será de fato atingida, porquanto
não conseguirá se associar no contexto da sociedade.
Infelizmente, no Universo, na “Casa do Pai”,
onde há muitas moradas (João 14:2), os mundos de provas e de expiações,
acessíveis aos Espíritos de acordo com o seu grau de evolução, onde domina o
mal, ainda constituem palcos de injustiça social e econômica. Daí a ocorrência
de fatos violentos como os verificados, atualmente, no Brasil, ressaltando-se
as rebeliões nos presídios, acarretando grande número de desencarnações e de
presos em fuga.
Contudo, a Terra está destinada a um grande
porvir. De acordo com a lei do progresso, ensinada pela Doutrina Espírita,
"o bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os
bons predominarem, porque, então, farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte
do bem e da felicidade. Por meio do progresso moral e praticando as leis de
Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e dela afastará os
maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estejam banidos o orgulho
e o egoísmo (Questão 1019 de O Livro dos Espíritos ).
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