Ao publicar aquele que julgava ser o primeiro
mandamento – a adoração e o amor a Deus - Jesus arremata o preceito que parecia
no seu entendimento complementá-lo, na condição de segundo e fundamental
mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Marcos XII; 31).
Alguns
séculos antes, o maior entre os filósofos clássicos, Sócrates (399 aC),
comunicado ao mundo pelos escritos de Platão (427 – 348 a.C), provoca o
pensamento da época ao proferir o “Conhece-te a ti mesmo” como medida
fundamental ao indivíduo que quisesse aferir a sua posição no mundo.
Lançadas
em épocas diferentes as duas sentenças convergem para um mesmo ponto de
entendimento, cuja compreensão arrasta sem grande esforço de interpretação para
a necessidade do “olhar para dentro se si” como um primeiro movimento seguido
da percepção do “outro que se encontra ao lado”. O primeiro vislumbre significa
o espelho que reproduz a imagem a ser reconhecida. O segundo vislumbre enseja o
binóculo que reduz as distâncias em relação ao próximo.
Pelos
critérios existenciais o “conhecer-se” acontece previamente ao “amar-se”, pois
só é possível amar àquilo que se conhece. Daí o conhecimento é o subsídio
essencial para que o amor possa exibir a sua força e alcance. Penetrar o
universo interior que o indivíduo guarda em sua estrutura intelectual e
emocional é a aventura que possibilita ao Espírito imortal tornar-se vitorioso
quanto ás dificuldades que lhe são próprias, esse o único caminho de quem
deseje honestamente se aproximar amistosamente do outro.
Uma
iniciativa importante na captação de competência para se vivenciar a
prerrogativa proposta por Jesus ao sugerir o que ele considerou o segundo
mandamento da lei como sendo a transferência do amor que é possível aprender
por si mesmo em direção àquele que caminha conosco é o autoconhecimento
socrático.
A
Doutrina Espírita ensina que objetivo precípuo da (re)encarnação é o alcance da
perfeição espiritual e pondera que o fato de não tê-lo alcançado prevê que se
deve retornar tantas vezes seja necessário até alcançá-lo (LE q. 132/166). Ora,
ao se criar uma escala que interprete a orientação de Sócrates, o ensino de
Jesus e a lógica do Espiritismo como sendo uma mesma lição, trazida em épocas
diferentes e em linguagem adaptada à condição de compreensão de cada sociedade,
havemos de perceber que é possível uma mudança do panorama do mundo
contemporâneo quando mergulhamos interiormente com a finalidade de oferecermos
o que há de melhor em nós intencionando o melhor também para o outro.
O
conhecimento e o amor seriam as duas asas capazes de levar à superação das
imperfeições impostas pela simplicidade e a ignorância do início da jornada, na
linguagem amiga de Emmanuel na obra O Consolador (q. 204), pela lavra mediúnica
do saudoso Chico Xavier. Aprender o
mundo com o significado de aprender de si mesmo, para amar-se e assim poder
igualmente amar o outro como se ele fosse eu. A conquista não é fácil e envolve
tempo e lutas, mas é simples, como de todo é simples a Natureza de Deus.
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