terça-feira, 31 de julho de 2018

O PRÓXIMO COMO A TI MESMO



           



              Ao publicar aquele que julgava ser o primeiro mandamento – a adoração e o amor a Deus - Jesus arremata o preceito que parecia no seu entendimento complementá-lo, na condição de segundo e fundamental mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Marcos XII; 31).
          Alguns séculos antes, o maior entre os filósofos clássicos, Sócrates (399 aC), comunicado ao mundo pelos escritos de Platão (427 – 348 a.C), provoca o pensamento da época ao proferir o “Conhece-te a ti mesmo” como medida fundamental ao indivíduo que quisesse aferir a sua posição no mundo.

          Lançadas em épocas diferentes as duas sentenças convergem para um mesmo ponto de entendimento, cuja compreensão arrasta sem grande esforço de interpretação para a necessidade do “olhar para dentro se si” como um primeiro movimento seguido da percepção do “outro que se encontra ao lado”. O primeiro vislumbre significa o espelho que reproduz a imagem a ser reconhecida. O segundo vislumbre enseja o binóculo que reduz as distâncias em relação ao próximo. 
          Pelos critérios existenciais o “conhecer-se” acontece previamente ao “amar-se”, pois só é possível amar àquilo que se conhece. Daí o conhecimento é o subsídio essencial para que o amor possa exibir a sua força e alcance. Penetrar o universo interior que o indivíduo guarda em sua estrutura intelectual e emocional é a aventura que possibilita ao Espírito imortal tornar-se vitorioso quanto ás dificuldades que lhe são próprias, esse o único caminho de quem deseje honestamente se aproximar amistosamente do outro. 
          Uma iniciativa importante na captação de competência para se vivenciar a prerrogativa proposta por Jesus ao sugerir o que ele considerou o segundo mandamento da lei como sendo a transferência do amor que é possível aprender por si mesmo em direção àquele que caminha conosco é o autoconhecimento socrático.
          A Doutrina Espírita ensina que objetivo precípuo da (re)encarnação é o alcance da perfeição espiritual e pondera que o fato de não tê-lo alcançado prevê que se deve retornar tantas vezes seja necessário até alcançá-lo (LE q. 132/166). Ora, ao se criar uma escala que interprete a orientação de Sócrates, o ensino de Jesus e a lógica do Espiritismo como sendo uma mesma lição, trazida em épocas diferentes e em linguagem adaptada à condição de compreensão de cada sociedade, havemos de perceber que é possível uma mudança do panorama do mundo contemporâneo quando mergulhamos interiormente com a finalidade de oferecermos o que há de melhor em nós intencionando o melhor também para o outro.
          O conhecimento e o amor seriam as duas asas capazes de levar à superação das imperfeições impostas pela simplicidade e a ignorância do início da jornada, na linguagem amiga de Emmanuel na obra O Consolador (q. 204), pela lavra mediúnica do saudoso Chico Xavier.  Aprender o mundo com o significado de aprender de si mesmo, para amar-se e assim poder igualmente amar o outro como se ele fosse eu. A conquista não é fácil e envolve tempo e lutas, mas é simples, como de todo é simples a Natureza de Deus.

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