Fosse-se adentrar nas especificidades da
obsessão na Bíblia, considerando o Antigo Testamento, certamente se teria que
elaborar um verdadeiro tratado sobre o assunto. Siga-se, portanto, o conselho
do Apóstolo dos Gentios (1), em Hebreus, 8:13: “Dizendo nova aliança, ele tornou
antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido, perto
está de desaparecer”. Fica a análise restrita ao Novo Testamento
(N.T.), pois nele se encontrará sistematização do processo mediúnico, praticado
hoje nas casas espíritas.
Da
obsessão
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, atesta que a obsessão é o domínio que alguns
Espíritos exercem sobre certas pessoas. As principais variedades são: obsessão simples, a fascinação e a
subjugação.
Carlos Torres Pastorino (1910-1980), ex-padre,
radialista e professor de latim e grego no Instituto Brasileiro de Alta-Cultura,
em sua magistral em oito volumes –
volume 4 – atesta
que a palavra Espírito ou sopro, como Pneuma, é utilizada 354 vezes, em
diversos sentidos básicos:
- a. como Espírito encarnado, 193 vezes;
- b. evoluído ou puro, 107 vezes;
- c. involuído ou não purificado, 39 vezes;
- d. “espírito” no sentido abstrato de “caráter”, 7 vezes;
- e. no sentido de sopro, 1 vez;
- f. Daimôn (1 vez) ou Daimônion, 55 vezes, refere-se sempre a um espírito familiar desencarnado, que ainda conserva sua personalidade humana além-túmulo.
Digno de nota é que Pastorino no seu estudo,
quando faz referência ao fenômeno da psicofonia, posiciona-se sobre o Espírito
obsessor:
- a. Quando se refere a uma obsessão, com o verbo daimonizesthai, que aparece 13 vezes, só é empregado pelos evangelistas.
Alguns casos:
- Mt, 8:16 – “Chegada à tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com sua palavra expulsou deles os espíritos (...).”
- Mc, 5:7-9 - Que queres comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te por Deus que não me atormentes! Pois Jesus lhe tinha dito: “Saia deste homem, espírito imundo!” Então Jesus lhe perguntou: “Qual é o seu nome?” “Meu nome é Legião”, respondeu ele, “porque somos muitos.” E implorava a Jesus, com insistência, que não os mandasse sair daquela região.
- Lc, 8:2 – “algumas mulheres foram curadas de espíritos malignos e enfermidades, dentre elas Maria Madalena, de quem o Mestre expeliu sete espíritos imundos”;
- Lc, 9:38-42 – “Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que tenho. Eis que um espírito o toma, e de repente clama, e o despedaça, até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. (...). Traze-me cá o teu filho. E quando vinha chegando, o espírito o derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino.”
Da
desobsessão
A ortodoxia religiosa
dos tempos atuais advoga que o Espiritismo não é uma doutrina cristã. Ela está
com a razão, embora de forma equivocada. Quando se lê a Primeira Epístola do
Apóstolo Paulo aos Coríntios, é fácil se compreender de forma cristalina que as
reuniões dos primeiros cristão são bem diferentes dos cultos religiosos
contemporâneos.
Não havia o pregador
intitulado que falava às assembleias, mas como bem Paulo relata, os presentes
escutavam o que os profetas ou os detentores de dons espirituais tinham a
dizer.
Na Epístola, ele fala
da diversidade dos espíritos das pessoas inspiradas, que poderiam ser de
sabedoria, de ciência, de fé, de profecia, de curar enfermidades, da variedade
de línguas e outros de interpretação das palavras. (I Cor, XII:8-10)
Na mesma Epístola ele
fala da ordem do culto, ou seja, de como deveria ser realizada uma reunião
mediúnica (I Cor, XIV:26-40). Os gregos denominavam essas reuniões de Pneumáticas (pneuma = espírito).
Segundo a concepção dos
tempos apostólicos, como bem traduz Pastorino, os Espíritos podiam ser bons ou
maus, ou seja, como está bem definido na questão número 100 de O Livro dos Espíritos – escala espírita –, podendo ser
inferiores ou superiores.
A realidade é que, com
as sucessivas concessões de Roma na tentativa de atrair os judeus, a mensagem
de Jesus foi vagarosamente se deturpando, consolidando-se essas adulterações
com as traduções latinas.
O reverendo Haraldur
Nielson (1868-1928), grande teólogo protestante dos países nórdicos, no
opúsculo O Espiritismo e a Igreja, é
claro a esse respeito:
“O
Espiritismo tem sustentado, desde o seu advento, a exatidão da concepção do Novo
Testamento sobre este caso.”
Da
terapêutica
Desde 1998 a obsessão
espiritual passou a ser reconhecida pela Medicina como doença da alma, uma vez
que ela passou a definir saúde como o estado de completo bem-estar do ser
humano integral: fisiológico, psicológico e espiritual.
Ora, a terapêutica
espírita, como autotransformação, indicada para os casos de obsessão, era
enfatizada por Jesus, como está catalogada no evangelho de Lucas XI:24-28:
“E
quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando
repouso; e, não o encontrando, diz: Tornarei para minha casa, aonde saí. E
chegando, acha-a varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete
espíritos piores do que ele entrando, habitam ali, e o último estado desse
homem é pior do que o primeiro.”
A evangelhoterapia é a
terapêutica espírita para os casos de obsessão, aliando-se a fluidoterapia.
Naturalmente, que em não ocorrendo essa renovação íntima à luz do evangelho de
Jesus a influência perniciosa poderá ocorrer de forma mais grave.
O Espiritismo,
portanto, na condição do Consolador Prometido por Jesus, veio em espírito e
verdade, explicar e reviver os ensinamentos de Jesus.
Referências
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2004.
_____________. O evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo: EME, 1996.
NIELSSON, Haraldur. Espiritismo e Igreja. São Paulo: Correio Fraterno, 1983.
Nenhum comentário:
Postar um comentário