A discussão em um programa televisivo exigia do
Estado uma corrigenda ante à descoberta em uma cela de presos, de uma barra de
cereais e outra de chocolate, pelo fato dos prisioneiros serem políticos eles considervam privilégios. O importante é empedernir o sofrimento alheio e não se
discutir condições desumanas dos presídios. Os demais, que se amontoam em celas
pútridas, com apenas uma latrina para fazerem suas necessidades físicas, no
mesmo espaço em que se alimentam, a indiferença. Não se compara as nossas
prisões com as de outros países. Ora, a prisão já é uma degradação humana. E aí surgem os que aplaudem o linchamento ou
mesmo o acorrentamento em um poste de menores infratores.
Por
que do regozijo ao sofrimento alheio? Por que a degradação alheia causa prazer? Por
que se tratar com escárnio a dor alheia?”
Pesquisa publicada no "Annals of the New York Academy of Sciences", realizada
em uma série de quatro experimentos, concluiu que o sentimento de prazer que se
tem com a dor e o sofrimento de outra pessoa, é uma resposta biológica,
definida pela expressão alemã “Schadenfreude”.
Segundo a pesquisadora Mina Cikara, não são
todas as pessoas que experimentam essa falta de empatia com o semelhante, mas
boa parte da população sim.
A conclusão da pesquisa verificou que as
reações que as reações são de prazer, entusiasmo e inveja.
Allan Kardec adverte que não é a carne que é fraca, mas sim o Espírito. Portanto, esse
prazer não é só devaneio biológico, mas também espiritual. Além disso, para os
espíritas, a visão se alarga com a compreensão de que as vicissitudes da vida
têm duas origens diversas: as com causas na vida presente; outras, de vidas
anteriores. Fica claro, portanto, que o homem é o responsável pelos seus
infortúnios. A lei humana alcança certas
faltas e as pune. A lei de Deus se dá pela causa e efeito.
O próprio Kardec ainda adverte que o mal é ausência do bem, como o frio é a falta
de calor. O mal não é um atributo distinto, assim como o frio não é um fluido
especial: um é a negação do outro. Fica evidente que o mal não existe. O
mal é uma nuance do
bem. Diante dessas afirmativas espíritas, sabe-se que a dor é uma lei de
equilíbrio e educação.
Léon Denis, estudando a dor, ensina que, é na dor que mais sobressaem os cânticos da
alma. Quando ela atinge as profundezas do ser, faz de lá saírem os gritos
eloquentes, os poderosos apelos que comovem e arrastam as multidões.
O Espírito Eça de Queiroz, com muita
propriedade assinala que se a dor no
mundo é um bem, o bem-estar deve ser um mal. Deve ser!
Depreende-se que o espírita convicto não pode
expressar sentimentos dessa natureza diante da dor ou da aflição dos seus
semelhantes. Agir assim é a exacerbação do egoísmo e o esfriamento da compaixão
e da caridade, pois certamente um dia já enfrentou ou enfrentará aflições que
padecerá da presença ou dos sentimentos de alguém para secar as lágrimas.
E o Espírito Eça de Queiroz define muito bem o
indivíduo que transita nesse estágio.
“Ai dos que não conhecem a lágrima
própria, nem enxugaram a alheia; dos que não viram o manto negro da dor sobre o
seu corpo mimoso, nem o afastaram do pustuloso corpo estranho; dos que não
sentiram roçar pelas carnes cetinosas a asa agourenta do sofrimento, nem a
enxotaram das carnes verminadas do seu semelhante miserável. Ai deles, porque
esses pararam na via eterna da Perfeição! Pararam, como criaturas moles, como
estafermos cansados ou preguiçosos, enclausurados no culto fetichista da sua
própria individualidade, como um rato sórdido num queijo mal guardado em
despensa desleixada.”
É para os sofredores, continua o Espírito, que
se inventou o espiritual liame da solidariedade.
É na miséria e na dor que se dá bem a rubra
flor solidária e a roxa orquídea da abnegação.
Portanto, em situações da espécie, ouve-se
Jesus (Mt, 5:7):
“Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia;”
Referências:
KARDEC, Allan. A
Gênese. LAKE. São
Paulo. 2010;
_____________
O Céu e o Inferno. LAKE. São Paulo,
2004;
_____________ O
Evangelho Segundo o Espiritismo. EME. São Paulo. 1996;
LACERDA, Fernando. Do País da Luz. Vol.2. FEB. Brasília. 1990;
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