Vivemos num país de contrastes. Um país que
coleciona o direito de exibir as maiores taxas de descaso ao seu povo quando o
tema trata de direitos humanos, igualdade social e divisão das riquezas.
Contraditoriamente se categoriza como a 8ª economia do planeta, a frente de
países como a França e o Canadá. Campeão imbatível em cobrança de impostos ao
mesmo tempo em que sonega à população a distribuição de bens e serviços, pontos
nos quais se assemelha as mais sangrentas ditaduras, num desempenho indigno
para um país que se pronuncia democrático.
Os
déficits estruturais do Brasil são responsáveis por uma devastadora exclusão
social que joga para a condição abaixo da linha da pobreza 22% da população ou
52 milhões de pessoas que vivem com ganhos abaixo de ¼ de salário mínimo para
suprir as suas necessidades fundamentais. Entre esses se encontram aqueles que
constituem a população em “situação de rua” definida pela Secretaria Nacional
de Assistência Social como “um grupo heterogêneo, composto por pessoas com
diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta,
vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação”. Vivem, comem e
dormem ao relento, sob chuva e sol. Em 2015 eram contabilizados em 101 mil
pessoas, segundo relatório elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA).
Lamentavelmente,
esse torrão que alguns ousam denominar “coração do mundo, pátria do evangelho”
carrega em si uma chaga social traduzida por esse séquito de homens e mulheres
que perambulam famintos pelas suas médias e grandes cidades.
Haveremos
de consultar as causas e elas explodem em nossas faces. Jesus assevera: “Ai do
mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai
daquele homem por quem o escândalo vem” (Mateus XVIII; 7), numa alusão de que
nessas manifestações de sofrimento social é obrigatória a investigação que
excede à simplicidade da existência única, posto que vivemos todos sob a lei de
causas e efeitos. Por outro lado não é dado a quem quer que seja produzir
sofrimento a outrem seja por ação ou negligência, o que torna o autor
responsável pelo escândalo na linguagem utilizada por Jesus. Em comentário
extraído da questão 685 de O Livro dos Espíritos, referindo-se ao caos social,
Allan Kardec sugere que “A desordem e a imprevidência são duas chagas que
somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de
partida, o elemento real do bem- estar, a garantia da segurança de todos”.
Ressalte-se
o pilar vigoroso que sustenta o edifício da Doutrina Espírita quando afirma que
“Fora da Caridade Não Há Salvação”. Pessoas em torno do mundo clamam por uma
ação solidária. Há fome, sede, analfabetismo, flagelos sociais que a dedicação
humana pode mitigar pelo exercício da solidariedade, antes mesmo que
deliberações políticas responsáveis sejam tomadas. Pessoas perambulam mundo
afora, logo ali em nossa vizinhança. Dormem em calçadas empoeiradas e embora
sob as estrelas não o fazem por mera poesia, tão somente pela incapacidade
humana de oferecer um pouco do que lhe sobra. Jesus, no entanto, vem em socorro
daqueles e ensina (Mateus XXV; 40) “em verdade vos digo que quando o fizestes a
um desses meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.
Caro amigo!
ResponderExcluirOportuna e belíssima abordagem. As pujantes desigualdades em nosso Brasil necessitam sempre serem lembradas, para nos tirar desse torpor em sentir o sofrimento do próximo. Parabéns!