De A a Z ou seja de “Abaddon” da mitologia
cristã a “Zulu Bangu” da mitologia africana há mais de 200 codinomes para
designar os “demônios”. Entretanto, sabemos que os “demônios”, como são
caracterizados pela teologia decrépita, não são criaturas reais. Conforme o senso comum, a expressão
“demônios” significa seres essencialmente perversos e seriam, como todas as
coisas, criação de Deus. Ora, Deus que é soberanamente justo e bom não poderia
ter criado Espíritos predispostos ao mal para toda a eternidade.
O Espiritismo nos faz distinguir a natureza e a
origem desses “demônios”, a partir do princípio de que todos os seres humanos
foram criados simples e ignorantes, portanto, imperfeitos, sem conhecimentos e
sem consciência do bem e do mal. Pela Lei de evolução todos nós, sem qualquer
exceção, conseguiremos alcançar a relativa perfeição e gradualmente
desenvolveremos virtudes, a fim de avançarmos na hierarquia espiritual até
alcançarmos a plena felicidade na “angelitude”.
Além disso, sobre os famigerados “coisas-ruins”,
o Codificador do Espiritismo nos ensina que eles [os “demônios”] são nossos
irmãos, porém são Espíritos que ainda se encontram moralmente nas classes
inferiores, todavia, chegará um dia em que se cansarão dos sofrimentos e
compreenderão a necessidade de bancarem o bem.
Os “demônios” devem, portanto, ser entendidos
como referentes aos Espíritos impuros, que frequentemente não são melhores que
os designados por esse nome, mas com a diferença de serem os seus estados
tão-somente transitórios. Na verdade eles são os Espíritos imperfeitos que
resmungam contra as suas provações e por isso as sofrem por mais tempo,
entretanto chegarão livremente à perfeição, quando se dispuserem a isso.
Se existissem “demônios”, eles seriam criação
de Deus, ora, o Senhor da vida seria justo e bom se tivesse criado seres
devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há “demônios”, descreveram os
Benfeitores do além a Allan Kardec, “eles habitam em teu mundo inferior e em
outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um
Deus mau e vingativo e creem lhe serem agradáveis pelas abominações que cometem
em seu nome”. [1]
O vocábulo demônio não implica na ideia de
Espírito mau senão na sua acepção contemporânea, porque a terminologia grega
Daimon, da qual se origina, significa, “Deus”, “poder divino”, “gênio”,
“inteligência”, e se utiliza para indicar os seres incorpóreos, bons ou maus,
sem distinção. Porém, há pessoas que acreditam no poder maléfico do “Príncipe
das Trevas” e até o enaltecem em suas igrejas. Não me surpreenderia se fossem
fechadas muitas igrejas se os seus dirigentes deixassem de acreditar em
Satanás. (Pasme!)
Os antigos e modernos sacerdotes fizeram e
fazem com os “demônios” o mesmo que com os “anjos”. Do mesmo modo que arquitetaram
a imagem de seres perfeitos desde toda a eternidade, construíram igualmente os
Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. Os partidários da “doutrina
dos demônios” se apoiam nas cridas repreensões do Cristo. Chegou-se ao absurdo
de criar o instituto do exorcismo para afugentamento de tais entidades.
Amparados no alarido beneditino “vade retro
Satã!”, os exorcistas exortam os espíritos demoníacos a saírem do corpo dos
possessos, valendo-se igualmente da invocação do nome de Deus, de Cristo e
todos os anjos. E ao final dos extenuantes berreiros e invocações, sempre sob o
arrimo da “reza brava” e “água benta”, o resultado aparentemente surge de forma
rápida, mas sem sustento duradouro.
Inexplicavelmente há instituições “espíritas”
que promovem sessões de “desobsessão” (ou seria exorcismos?), que consideram
mais “fortes” e com efeitos “imediatos”, conforme garantem seus realizadores,
contudo lamentavelmente nesses estranhos “tratamentos espirituais” (ou
descarrego?) são normatizados exclusivamente um procedimento coercivo, o
“banimento” instantâneo e transitório do obsessor. Mas será que esse rápido
afastamento espiritual é possível? Ora, é obvio que não, pois é impossível
“rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais] seculares forjadas nos
compromissos recíprocos da vida em comum?” [3] Impossível, mesmo!
Os espíritas compreendem que os cognominados,
“capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”, “satã”, “cão”, “demo”,
“besta” e outros “demônios” que reverberam na mente do povo, não são seres
votados por Deus à prática do mal, e sim seres humanos desencarnados que se
desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. “Na raiz do problema
encontramos a necessidade de considerar os chamados “espíritos das trevas”
[demônios] por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim de
se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmos.” [2]
Referência
bibliográfica:
[1]
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 131, RJ: Ed. FEB, 2001
[2]
XAVIER Francisco Cândido. Caminhos de Volta, ditado por espíritos
diversos, SP: edição GEEM, 1980
[3]
XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1970.
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