“é
mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas.”
(Mark Twain)
“Grande
parte da imprensa tenta impor o controle das situações divulgando informações e
Fake News que lhe convêm, cabendo as pessoas o discernimento. Todos somos parte
dessa engrenagem. Uns sabem e tentam mudar, outras se camuflam ou escancaram e outros
são inocentes instrumentos. (Carlos Bolsonaro, via twiter)
MENTIRA
X FAKE NEWS
Segundo pesquisa, 98% do
eleitorado brasileiro foi exposto a notícias falsas e a maioria acredita na veracidade das “informações”.
A pesquisa é importante para
se ter uma ideia como o império da mentira domina hoje os processos eleitorais,
não só no Brasil, mas no mundo, chamada de Fake
News. Na verdade, não é de hoje que notícias mentirosas são veiculadas como
verdadeiras. O fenômeno, entretanto, popularizou-se e tomou vulto com o advento
das redes sociais. O seu uso através do WhatsApp tornou a veiculação da mentira
de forma descontrolada, por ser efetivada através dos chamados robôs.
PÓS-VERDADE
A palavra pós-verdade, (do
inglês, “post-truth”), eleito o termo
da língua inglesa do ano 2016, pelo Oxford
Dictionaries. Como substantivo, sua definição se “relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos
influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças
pessoais.”
O que se constata em
muitos artigos acadêmicos e na mídia tradicional é que as mentiras fizeram e
fazem parte de uma bem-sucedida estratégia de apelar a preconceitos e
radicalizar posicionamentos do eleitorado. A realidade é que a mentira não faz
mais “crescer o nariz de Pinóquio”.
Tem
que se admitir que o Fake News tendo
propósitos negociais, naturalmente demandará processos necessários, em efeito
cascata, para os legitimar. Depreende-se, portanto, que instituições e
indivíduos atuarão para que os resultados sejam alcançados e legitimados. Os
fatos concretos e a realidade objetiva têm menos importância para a opinião
pública do que apelos a emoção coletiva ou apelos pessoais. É a mentira como
nova arma de dominação real.
OS ESPÍRITAS
E A PÓS-VERDADE
Um
fenômeno dessa gravidade tem que ser compreendido pelo espírita consciente do
seu processo de autoaprimoramento, presente às disposições da transição
espiritual que se operam no Planeta, no nível em que pese a sua participação no
sucesso da mentira. É premissa da sociologia espírita, conforme explicita o Espírito
Emmanuel em O Consolador, e importa
afirmar que um fato social terreno está determinado por leis universais. É,
portanto, um fato cósmico, afirma o professor e filósofo, Herculano Pires.
Assim, a sociologia espírita entranha-se na própria ordem cósmica. E isso não
acontece.
Qual o motivo que leva adeptos
de Kardec a divergirem no tocante a questões cruciais como as dessa natureza?
Na realidade, o Espiritismo no Brasil, para a maioria de adeptos e não adeptos,
tornou-se uma simples “crença”, uma espécie religião, cheia de resíduos mágicos
e nunca foi a Doutrina Filosófica-Moral como a instituiu Allan Kardec, tendo
sua força na Filosofia Espírita.
O professor e filósofo
Herculano Pires, oferece um ponto de partida para melhor se entender essa
questão, em sua belíssima obra O Centro
Espírita. Ele afirma que os espíritas no Brasil e no mundo não entenderam
que se encontram em um ponto intermediário da filogênese divina, sequência
fatal de Allan Kardec, do átomo ao Arcanjo. Leia-se:
“As visões fragmentárias da Realidade
se fundem dialeticamente na concepção monista preparada pelo monoteísmo.
Liberto, do ponto neutro, da poderosa reação da Terra, o espírita está em
condições de se elevar ao plano angélico. Mas
estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a divindade é outra
coisa. Isso depende do grau de compreensão doutrinária e da sua vontade real e
profunda que afeta toda a sua estrutura individual.” (grifos nossos).
O processo de
autotransformação abala toda a estrutura do Ser integral. Gera necessariamente
conflitos o ato de mudar. O próprio Jesus advertiu sobre essa verdade, ao
afirmar “Não cuideis que
vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” (Mt, 10:34). A espada
de fogo no Cristianismo, simboliza o combate pela destruição dos desejos e
corta a escuridão da ignorância. Portanto, não favorece o conformismo, o medo,
mas a insurgência interior; o conflito, necessário à mudança.
Os felicitados pelo Cântico
das Bem Aventuranças padecem em uma das maiores crises migratórias da
Humanidade, fugindo da perseguição por motivos de raça, religião,
nacionalidade, guerras, grupo social ou opiniões políticas. Minorias que sofrem
vozes da intolerância de racismo, da homofobia e da misoginia. A crise no mundo
é humanitária e o Espiritismo
oferece
a filosofia da ação como caminho para esse desiderato. Contudo, sua realização
só poderá ser efetivada por adeptos conscientes das responsabilidades
doutrinárias.
O Espiritismo não é uma
ideologia, mas um ideal natural. É, no entanto, teleológico em sua essência, tendo
sua natureza no processo dialético entre o Céu e a Terra. Na condição de
síntese do conhecimento, a Doutrina Espírita toca em todas as áreas do
conhecimento humano, em um gradiente doutrinário. Essas nuanças doutrinárias
não querem dizer efetivamente, que têm autoridade doutrinária. O cerne
doutrinário está na filosofia social espírita em O Livro dos Espíritos. Sendo progressista, as iniciativas nesse
pertencimento terão uma identidade forte com o Espiritismo,
característica que levou Cosme Mariñ (1847-1927), um dos mais destacados
propagadores da Doutrina na Argentina, a afirmar que o “socialismo é um capítulo do
Espiritismo.” Humberto Mariotti, filósofo, poeta,
jornalista, escritor e socialista espírita, nascido na Argentina, nesse
comento, em sua obra O
Homem e a Sociedade em uma Nova Civilização, lembra do seguinte: “É indubitável que todo
espiritualista espírita deveria possuir uma mentalidade socialista, ao
considerar os graves problemas econômicos e sociais que afligem o mundo
contemporâneo.”
“Esquerda” ou “direita”
partidárias não existem e são diferenças meramente ideológicas. A dualidade é
fruto do egoísmo e o orgulho. “Todos
os opostos são apenas dois polos da mesma natureza.” (Princípio
da Polaridade – H. Trimegisto). O que existe é, tão somente, o progresso. O Espiritismo ensina
que a marcha do progresso é inexorável, tanto moral como intelectual. Pode-se
até entravá-lo, mas nada o deterá. O espírita convicto deve saber disso. O
espírita não pode validar para a sociedade uma narrativa que viole os
princípios básicos da evolução, com uma agenda extremista, avessa à Lei do
Progresso, que dialoga com o fundamentalismo religioso em espírito de seita. O Espiritismo é uma obra monolítica e
não pode ser servida à self
service; ao sabor da vontade os seus adeptos. Sua filosofia é dinâmica e criadora, e por isso não aceita nenhum
sistema conservador, tanto espiritual como social, que se oponha à lei do
progresso, afirma Mariotti. A verdade nem sempre é conveniente para os
indivíduos.
Portanto, sustentar um regime
social que esteja em pugna com a evolução espiritual, é colocar-se em oposição
à própria lei do progresso. Kardec, escreve:
“A aspiração do homem para uma ordem
de coisas melhor que a atual é um indício certo da possibilidade de que chegará
a ela. Cabe, pois, aos homens amantes do progresso ativar esse movimento pelo
estudo e a prática dos meios julgados mais eficazes”.
A partir da visão acima, Mariotti
classifica dois gêneros de espiritualismo: espiritualismo
misoneísta e espiritualismo
participante. Para ele, o espiritualismo
misoneísta, serviu ao Nazismo, em conjunto com o ocultismo
alemão. O espiritualismo
participante, penetra a alma do povo e a elas se liga, pelo
que ele define de mediunidade
social.
O professor Herculano Pires, prefaciando a
referida obra, importa esses conceitos para o meio espírita, e assim se
expressa:
“Os espíritas que temem os problemas
sociais e políticos pertencem ao primeiro tipo, são misoneístas extraviados no seio de um movimento espiritual
renovador do mundo. (leia-se progresso). Mas a participação espírita não é partidária, nem é política no sentido
comum do termo. A revolução espírita
não é um ato de violência, nem pode aceitar a violência, que é a negação do
princípio de fraternidade, um crime contra o amor.”
Considerando-se
que a evolução é em espiral, é imperativo entender que a classificação de
Mariotti é didática, o que atesta que se identificará as duas dimensões em seus
adeptos, notadamente, uma em mais expressão que a outra.
Cabe
aos espíritas conscientes de suas responsabilidades doutrinárias, e isso é
extensivo às instituições espíritas formais e órgão informais, a construção de
grupos de discussão com o propósito de se realinhar o movimento espírita,
dentro da unidade de princípios, para que se possa capacitar os indivíduos a
enfrentar a nova perspectiva político-social e revolucionária do Espiritismo. Os
grupos devem ser interdependentes, buscando-se integrar o que os unem e não o
que os separam.
O
pensamento é tudo. O pensamento é a linguagem do Espírito. Não há corrupção mais
deplorável que a corrupção do pensamento.
Referências:
KARDEC. Allan. Obras póstumas. FEB. Brasília. 1987;
_____________ O livro dos espíritos. LAKE. São Paulo. 2000;
MARIOTTI, Humberto. O homem e a sociedade numa nova civilização. EDICEL. Buenos Aires.
1963; (baixe PDF);
PIRES, J. Herculano. O centro espírita. LAKE. São Paulo. 1990.
Meu Caro Jorge, estamos muito longe de ver o Movimento Espírita estudando e discutindo essas ideias! Parabéns pela abordagem!
ResponderExcluirCaríssimo, a questão passa, necessariamente, pela compreensão do que é o centro espírita. Sua função e significação. Infelizmente no Brasil, o centro espírita assumiu um perfil de instituição religiosa. Contudo, tenho notícias de pelo menos, dois grupos de estudos no modelo sugerido, em construção em Fortaleza. A mudança virá.
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