Charity era viciada em drogas e deu à luz o
menino Paris. Nove anos depois
engravidou novamente e teve a menina Ella. O menino era mais introvertido e
tímido, enquanto Ella era extrovertida, teimosa e determinada.
Charity conseguiu ficar longe das drogas por
alguns anos. Porém, quando Paris tinha 12 anos e Ella 3, teve uma recaída (por
seis meses) com cocaína. Foi difícil para Paris perceber que sua mãe era uma
viciada. Transtornado, com 13 anos de idade, ele sufocou e esfaqueou sua irmã
17 vezes com uma faca de cozinha. Após o crime, ligou para o 911, o número de
emergência local. Paris disse à polícia que estava dormindo e que, ao acordar,
viu que Ella tinha se transformado em um demônio em chamas. Então, ele teria
pegado a faca e tentado matar o “demônio”.
Em 2007, Paris foi condenado a 40 anos de
prisão pelo assassinato. Charity estava convencida de que o crime não havia
sido um acidente ou resultado de uma psicose temporária, pois, para ela, Paris
realmente quis matar a irmã. Charity acredita que a recaída nas drogas
contribuiu para deixar Paris furioso. Entretanto, do mesmo modo crê que grande
parte do que está por trás da personalidade do filho seja genética, pois o pai
de Paris tinha esquizofrenia do tipo paranoica, caracterizada por exemplo pela
presença de ideias frequentemente de perseguição, em geral acompanhadas de
alucinações.
Cremos que o ambiente familiar e social tem
papel importante no desenvolvimento e manutenção de transtorno de conduta. Em
alguns casos o uso de álcool e drogas pela mãe durante a gestação, e também de
alguns medicamentos, já foram confirmados. As pessoas com transtorno de conduta
são caracterizadas por padrões persistentes de comportamento socialmente
inadequado, agressivo ou desafiante, com violação de normas sociais ou direitos
individuais. São pessoas carentes de amor e de apreço pela sociedade, por isso
ignoram o outro. Adotam costumes criminosos sem nenhum remorso, conservando-se
frios e insensíveis ao que ocorre ao seu redor.
Para a psicologia o “self” nessas pessoas é
desconectado do “ego”, padecendo uma rachadura que impede o completo
relacionamento que determinaria a sua adaptação ao grupo social. O Espiritismo
explica que isso procede de legados morais e espirituais que brotam das
experiências infelizes de outras existências, quando o Espírito delinquiu,
camuflando a sua culpa e se esquivando da coexistência social. E há em muitos
casos influências espirituais que podem levar a desvios de conduta e mau
caráter.
Allan Kardec esclarece que há vários tipos de
obsessão, sendo o mais grave o de subjugação, em que o obsessor interfere e
domina o cérebro do encarnado. A subjugação pode ser psíquica, física ou
fisiopsíquica. Assim, as doenças mentais ou físicas também podem, de acordo com
o conhecimento espírita, sofrer influências externas.
Recuando à época de Jesus, conferimos que os
evangelistas anotaram diversos episódios de obsessões. A exemplo de Lucas, que
descreveu o homem que se achava no santuário, possuído por um Espírito infeliz,
a gritar para Jesus, tão logo lhe marcou a presença: “que temos nós contigo?”.
[1]
Numa ação obsessiva, seguida de possessão e
vampirismo, o evangelista Marcos escreveu sobre o auxílio seguro prestado pelo
Cristo ao pobre gadareno, tão intimamente manobrado por entidades cruéis, e que
mais se assemelhava a um animal feroz, refugiado nos sepulcros. [2] No episódio
da obsessão envolvendo alma e corpo, o apóstolo Mateus anotou que o povo trouxe
ao Mestre um homem mudo, sob o controle de um Espírito em profunda perturbação
e, afastado o hóspede estranho pela bondade do Senhor, o enfermo foi
imediatamente reconduzido à fala. [3]
Na obsessão indireta, cuja vítima padece de
influência aviltante, sem perder a própria responsabilidade, o discípulo amado
João registrou que um Espírito perverso havia colocado no sentimento de Judas a
ideia de negação do apostolado. [4] E na complicada obsessão coletiva causadora
de “moléstias-fantasmas”, encontramos o episódio em que Filipe, transmitindo a
mensagem do Cristo entre os samaritanos conseguiu que muitos coxos e
paralíticos se curassem, de pronto, com o simples afastamento dos Espíritos
inferiores que os molestavam. [5]
Diante dessas inquietações espirituais,
Emmanuel afirma que o Novo Testamento trata o problema da obsessão com o mesmo
interesse humanitário da Doutrina Espírita. Em face disso, devemos manter-nos
atentos e ampliar o serviço de socorro aos processos obsessivos de qualquer
procedência, porque os princípios de Allan Kardec revivem os ensinamentos de Jesus,
na antiga batalha da luz contra a sombra e do bem contra o mal. [6]
Referências
bibliográficas:
[1]
Lucas 4: 33,35
[2]
Marcos 5: 2,13
[3]
Mateus 9: 32,33
[4]
João 13: 2
[5]
Atos 8: 5,7
[6]
XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns, ditado pelo espírito
Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 2001
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